Itaú Asset vê Selic a 15% após mudança fiscal

Visão é de que impacto de medidas para conter alta de preços de combustíveis exige ajuste ainda mais intenso

Wu: Impacto permanente nos gastos equivale a reforma da Previdência — Foto: Silvia Zamboni/Valor
Wu: Impacto permanente nos gastos equivale a reforma da Previdência — Foto: Silvia Zamboni/Valor

Com as discussões em torno das medidas do governo para conter o aumento dos preços de combustíveis e de energia a todo vapor, os reflexos na política monetária podem indicar um cenário de ajuste ainda mais intenso nos juros como forma de contrabalançar a política fiscal mais expansionista.

“O cenário para o Banco Central muda bastante. Qualquer que fosse a estimativa de Selic final dele, agora tem de estar maior. Nas nossas simulações, o modelo dele não deve mais indicar que uma Selic a 13,75% bastaria para levar a inflação à meta em 2023. Os 13,75% viraram 15% no modelo dele”, diz o economista-chefe da Itaú Asset Management, Thomas Wu. A gestora, porém, acredita que somente uma Selic de 16% poderia levar a inflação à meta no próximo ano.

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Ao Valor, o profissional destaca os impactos fiscais das medidas que têm sido discutidas no momento. De acordo com ele, o PLP 18/2022, que coloca um teto sobre a cobrança de ICMS para alguns itens, como combustíveis e energia elétrica, teria um impacto em torno de R$ 85 bilhões por ano, o que seria algo permanente. Wu lembra que a reforma da Previdência economizava cerca de R$ 600 bilhões em dez anos, ou seja, R$ 60 bilhões por ano, em média.

Além disso, há a discussão sobre zeragem dos impostos federais sobre gasolina, gás natural e etanol, cujo impacto em seis meses seria de R$ 17 bilhões e que seria uma medida temporária. A esse cenário soma-se, ainda, o debate sobre o ressarcimento do governo federal a Estados que derrubarem o ICMS a níveis inferiores a 17%, o que pode ter impacto de R$ 22 bilhões.

“De gasto permanente, é algo do tamanho de uma reforma da Previdência. E, em relação ao que é temporário, dá mais ou menos 0,5% do PIB. Ou seja, é um estímulo adicional à economia de 0,5% do PIB, o que é relevante”, diz o economista. Wu, porém, pondera ao lembrar que boa parte do mundo tem agido com a política fiscal para dar apoio à população neste momento, o que exige um ambiente de juros ainda mais elevados.

“Na nossa visão, a magnitude desses programas fiscais afeta o BC. O que se está jogando na economia de forma cíclica, temporária, exige que a Selic seja levada a um nível ainda mais alto que o neutro. O tamanho do aperto precisa ser maior. Além disso, a queda permanente de receitas é algo mais estrutural e deficitário. É como se a taxa neutra tivesse subido. Por essas duas razões, o cenário para o BC muda bastante”, argumenta Wu.

Com esses novos parâmetros, e a piora de cenário que aconteceu nos últimos dias, a Itaú Asset calcula que, nos modelos da autoridade monetária, os 13,75% que seriam necessários para levar a inflação à meta no próximo ano viraram 15%. Vale lembrar ainda que, na reunião desta semana, o horizonte relevante para a política monetária abarca somente o ano de 2023.

Na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de maio, a projeção do colegiado para a inflação em 2023 estava em 3,4%.

Wu, porém, lembra que os modelos da Itaú Asset já apontavam para uma inflação ainda mais alta que a do cenário do BC. Assim, para que o IPCA voltasse à meta em 2023, o economista acredita que seria preciso elevar a Selic a 16%.

“Nós entendemos que o BC pode ter uma preferência por uma suavização. Se ele jogar a Selic a 15%, talvez a inflação ainda fique acima da meta no ano que vem, mas ele poderia segurar o juro nesse nível por mais tempo, e não subir para 16% e cortar a Selic antes”, afirma o economista. Ele nota que o BC admite uma persistência maior dos choques inflacionários. “Nós achamos que, além disso, a inflação, quando está muito alta, também começa a ter uma persistência maior”, diz Wu, ao justificar sua estimativa mais alta para o IPCA. De acordo com ele, se a Selic subir a 15%, os modelos da Itaú Asset apontariam para uma inflação de 4,7% no ano que vem.

Wu lembra que a PEC dos Combustíveis ainda não está pronta e que outras ideias têm sido ventiladas nos últimos dias – e que podem ter custo adicional. As discussões ocorrem ao mesmo tempo em que o Copom se reúne, o que cria um caráter de incerteza mais elevada para a decisão. “O que o BC pode fazer é colocar alguma camada adicional sobre risco fiscal no cenário e apontar que o trabalho da política monetária pode ficar maior. Ou então ele pode esperar a decisão de agosto para incorporar esses riscos no cenário, quando o projeto potencialmente estiver aprovado.”

Para o economista, seria razoável, assim, que o BC indicasse que é mais provável haver um impacto maior e deixar os próximos passos da política monetária em aberto, e não insistir no cenário inicial de juro a 13,75% no fim do ciclo. “Ou escolhe colocar já como um risco ou incorpora o novo cenário às projeções em agosto”, diz Wu.

O economista, além disso, cita “sérios riscos” para o cenário de inflação, que teriam viés altista. Wu elenca o reajuste do salário do funcionalismo público, cuja defasagem pode chegar a algo entre 25% e 30% no próximo ano; a escassez de diesel, em um momento no qual os estoques estão baixos e que seria um choque de oferta; além do cenário internacional, que se mostra ainda mais desafiador.

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