Safra projeta Ibovespa aos 142 mil pontos com Selic baixando a 8,75% no fim de 2024
Para o banco, apesar de um cenário desafiador de curto prazo, a bolsa apresenta boas oportunidades de valorização a médio prazo com o ciclo de cortes dos juros
O banco Safra estima que o Ibovespa pode chegar aos 142 mil pontos no final de 2024. O movimento representaria uma valorização de 26% em relação ao patamar de segunda-feira (23), quando o principal índice do mercado de ações brasileiro fechou aos 112.784 pontos.
“Em nossa estimativa, assumimos um cenário de crescimento de 2,5% para o PIB para o próximo ano, em que vemos uma composição favorável, ocasionada por uma alta dos investimentos e do consumo das famílias. Nosso time de macroneconomia projeta uma inflação desacelerando para 3,3% e a continuidade do ciclo de corte de juros levando a Selic para 8,75% ao final de 2024, o que contribui para esse cenário mais positivo”, detalha o relatório do banco.
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Na avaliação dos especialistas do Safra, o processo de desinflação vai possibilitar uma taxa básica de juros mais baixa no próximo ano, o que provavelmente impulsionará o crédito e ajudará a elevar o consumo.
“O impulso do crédito combinado com o aumento na confiança das empresas poderá criar um cenário favorável para os investimentos. Nossa equipe de macroeconomia acredita que a composição do PIB de 2024 será muito mais sólida que no ano anterior. Além do bom desempenho do agronegócio, o consumo e os investimentos serão destaques e levarão o PIB a um crescimento de 2,5%”, acrescenta o relatório.
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Assim, apesar de um cenário mais desafiador de curto prazo, o Safra aponta que a bolsa apresenta boas oportunidades de valorização a médio prazo com o relaxamento monetário.
“Como já sabemos, existe uma forte correlação entre a queda da taxa de juros e o bom desempenho do mercado de ações e vemos que a continuidade do atual ciclo de cortes de juros deve impulsionar uma performance positiva dos papéis.”
Economia internacional
No texto, o time de especialistas do banco avalia que a economia na zona do euro deve seguir apresentando um desempenho fraco, com inflação persistentemente elevada e juros também em um patamar alto. Enquanto isso, para eles, os Estados Unidos devem apresentar um leve crescimento em 2024, com sua atividade ainda mostrando resiliência apesar dos juros elevados.
“Adicionalmente, o conflito no Oriente Médio representa um risco para os preços do petróleo, podendo alterar a trajetória de desaceleração da inflação no mundo. Essa situação deve levar o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) a manter as taxas de juros em patamares altos por um período maior e poderia afetar a atratividade de mercados emergentes, como o Brasil.”
No panorama sobre China, os profissioniais destacam que os últimos dados da economia do país se mostraram mais positivos, sinalizando o início de uma recuperação de curto prazo, porém, sem mudar a tendência de desaceleração de sua atividade de médio e longo prazo.
Estratégias para as ações brasileiras
Para o time de macroeconomia do Safra, o curto prazo exige uma postura mais cautelosa na alocação de capital. “Uma exposição mais concentrada em uma estratégia de valor, com foco em empresas ou setores que negociam a múltiplos baixos e que apresentam retornos robustos como petróleo e gás, siderurgia e mineração, bancos e utilidades básicas, deve continuar funcionando bem”, diz o relatório.
“Acreditamos que esses setores representam boas opções para redução do risco de uma carteira nesse momento de maior volatilidade do mercado, que incorpora taxas de juros mais altas por mais tempo nos EUA, potencial escalada do conflito no Oriente Médio e incertezas relacionadas ao equilíbrio fiscal doméstico”, prossegue o texto.
Contudo, segundo o Safra, à medida que os riscos acima mencionados vão se dissipando, o banco considera que pode começar a fazer sentido o incremento da exposição a nomes cíclicos domésticos ou de crescimento.
“Como saúde, consumo e varejo e transportes, que se beneficiarão de juros mais baixos e um maior crescimento da economia. Além disso, em 2024, esses nomes terão uma base de comparação de resultado mais fácil e, portanto, terão espaço para recuperação”, continua a equipe do banco.
Desempenho por setor
Ainda no relatório, o Safra detalha que os setores cíclicos devem apresentar os maiores crescimentos de lucro em 2024 e 2025. Na estimativa do banco, educação, saúde, consumo e varejo e transportes devem apresentar crescimentos de lucro anual em 2024 e 2025 na média de 67,7%, 64,1%, 48,6% e 45,8%, respectivamente.
“Saúde vai se beneficiar da redução na sinistralidade para as operadoras de saúde, do aumento na ocupação dos hospitais combinada com a melhora dos tickets médios e as empresas com alta alavancagem também se beneficiam de um cenário de taxas de juros mais baixas”, diz o texto.
“O setor de educação terá impulso do aumento na base de alunos e de uma melhor dinâmica para as taxas de evasão e inadimplência. O setor de consumo e varejo se beneficiará das taxas de juros mais baixas, que afetam positivamente o ambiente de consumo e as despesas financeiras das empresas, levando à reversão ou redução das perdas nas empresas de e-commerce e ao forte crescimento dos lucros nos supermercados”, prossegue.
“O setor de transportes se beneficiará da recuperação dos resultados das empresas de aluguel de carros e das concessionárias (estradas com pedágio e ferrovias), além de que taxas de juros mais baixas aliviam a pressão sobre suas estruturas de capital alavancadas”, continua.
Já aéreas, empresas de transportes e do segmento de consumo e varejo, conforme o Safra, foram as que melhor performaram nos últimos ciclos de cortes de juros.
“Realizamos um estudo sobre o desempenho dos setores durante os últimos oito ciclos de queda de juros ocorridos no país e observamos que os segmentos de aviação, transportes e varejo foram os que apresentaram as melhores performances durante esses períodos. O maior otimismo com as perspectivas de crescimento de lucro dos papéis desses dois últimos setores e também seus valuation atrativos, colocam esses segmentos em destaque como boas oportunidades para ganho de capital após a diminuição dos riscos enfrentados atualmente”, detalha o documento.
Riscos no radar
Por fim, o Safra lista os principais riscos da avaliação do time de macroeconomia para a projeção do Ibovespa aos 142 mil pontos no encerramento de 2024. São os seguintes:
- Desaceleração mais forte que a esperada da economia global;
- Deterioração fiscal adicional do Brasil;
- Abertura adicional da curva de juros;
- Menor taxa de crescimento econômico no país;
- Piora do ambiente político;
- Maior austeridade da política monetária nos EUA influenciando no diferencial de juros;
- Mudanças tributárias com impacto negativo para as empresas;
- Acirramento dos conflitos no Oriente Médio e Rússia e Ucrânia.