Robert Solow, Robert Lucas e o crescimento potencial brasileiro

Para aumentar o crescimento de forma sustentável, vencedores do Prêmio Nobel apontaram para o aumento da poupança

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Em 2023, dois grandes macroeconomistas, Robert Lucas Jr. e Robert Solow, nos deixaram. Além de terem o mesmo primeiro nome e de ambos terem recebido o prêmio Nobel de Economia, estes dois gênios tiveram em comum o forte interesse por teorias que explicam o crescimento das nações.

Em uma de suas colocações mais famosas, Lucas escreveu que “quando se começa a pensar sobre crescimento econômico, é difícil pensar sobre qualquer outra coisa.”

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Solow, por sua vez, ficará eternizado pelo seu famoso e pioneiro modelo de crescimento econômico, que segue como referência básica para qualquer discussão sobre o tema.

Como obter maior crescimento econômico brasileiro?

Dentre as conclusões fundamentais do modelo de Solow, destacam-se:

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  1. No curto prazo, taxas de poupança maiores permitem crescimento acelerado ao propiciarem maior investimento em capital.
  2. No longo prazo, o crescimento econômico depende apenas de avanços na forma de combinar capital e trabalho – a chamada produtividade total dos fatores.

Solow atribuiu os aumentos de produtividade a avanços técnicos, como mudanças tecnológicas. Posteriormente, outros economistas, dentre eles Lucas, incorporaram no modelo o papel do capital humano como insumo.    

Em resumo, estes modelos indicam que políticas para promover o crescimento em um país feito o Brasil deveriam focar em: (1) aumentar a poupança disponível para investimento; (2) gerar ganhos de produtividade (inclusive via educação) na forma como se combina capital e trabalho. 

Reformas recentes e investimento no Brasil

Nesse sentido, vale observar que do início de 2017 até meados de 2022 tivemos no Brasil um aumento significativo do investimento, de cerca de 4 pontos percentuais do PIB.

Este aumento, por contribuir para reduzir nossas carências de capital físico, pode ter gerado um maior potencial de crescimento.

Mas o que propiciou essa elevação do investimento?

Devido à falta de poupança pública, não foi o governo que promoveu tais investimentos diretamente e sim o setor privado, embora coordenado pelo governo em muitos casos.

Dentre as políticas públicas que podem ter ajudado, destacam-se avanços, iniciados em 2016, como: marcos regulatórios (saneamento, gás natural, energia, transportes etc.), concessões públicas bem desenhadas, e mudanças nas diretrizes do BNDES que permitiram um forte desenvolvimento no mercado de capitais.

O resultado foi a canalização da poupança privada, externa e doméstica, para projetos de investimento no Brasil, o que tende a elevar nosso crescimento potencial.

Investimento em queda, consumo em alta

Ainda mais recentemente, no entanto, o investimento voltou a decepcionar: até o terceiro trimestre de 2023 já foram quatro trimestres seguidos de redução, com queda acumulada de cerca de 7%.

Por sua vez, a recente expansão de gasto público vem sendo caracterizada por transferências diretas às famílias, especialmente as mais carentes, que tem forte propensão a consumir.

O resultado é um consumo relativamente forte, especialmente quando comparado ao investimento.

Com isso, temos um crescimento do PIB que segue surpreendendo positivamente no curto prazo, mas cujo potencial dependerá da retomada do investimento adiante.

Este será um desafio importante para o atual governo, que segue despoupando, apesar dos esforços arrecadatórios, e, portanto, precisa atrair a poupança privada para projetos de investimento.

A retomada do investimento pode advir da redução de juros em curso, mas certamente uma redução das incertezas percebidas pelas empresas brasileiras (tributárias, dentre outras) ajudaria bastante.  

E o que dizer do capital humano?

As últimas décadas foram marcadas por um aumento significativo da escolarização formal dos trabalhadores brasileiros, mas ao mesmo tempo os retornos da educação caíram.

Medidas de capital humano que tentam incorporar a qualidade da mão de obra obtém taxas de crescimento do capital humano que são positivas, porém baixas, especialmente considerando os ganhos de escolarização. É preciso melhorar a qualidade da educação.

Ganhos de produtividade, para além do agro

A reforma trabalhista de 2017 e a maior alocação de recursos via mercado de capitais podem ter tido impacto positivo na produtividade, ao permitirem uma combinação mais eficiente entre capital e trabalho. Mas, em geral, estudos mostram que nas últimas décadas houve crescimento pífio, se não inexistente, da produtividade.

Dito isto, há diferenças muito importantes entre setores. E aqui vale destacar estudo publicado no último Relatório de Inflação do Banco Central. Nele, analisam-se os ganhos de produtividade por setor entre 2000 e 2022.

A conclusão é que a agropecuária registrou avanço expressivo de produtividade, enquanto a indústria extrativa apresentou ganhos menores (e oscilantes) e a indústria de transformação teve recuo da produtividade.

Essa é mais uma evidência que o agro brasileiro não deve ser tratado como um setor de produtos básicos que embutem baixa tecnologia.

Pelo contrário, ele é o setor que mais experimentou avanços técnicos e assim teve ganhos de produtividade expressivos. O desafio é obter resultados similares nos outros setores.

Curto prazo versus longo prazo

Analistas econômicos e a mídia têm uma tendência forte de focar no crescimento no curto prazo. Quanto o Brasil crescerá em 2024? O quanto a queda de juros e o mercado de trabalho resiliente vão ajudar? Será que o menor impulso fiscal e a normalização do setor agro, depois de um 2023 espetacular, reduzirão muito o crescimento?  

Para aumentar o crescimento de forma sustentável, no entanto, Solow e Lucas nos ensinaram que os temas são outros: precisamos aumentar a poupança disponível para acumular capital físico, cuidar da qualidade da educação para acumular capital humano, e obter ganhos de produtividade para além do agro.

É isso que definirá o quanto seremos nos próximos 10, 20, 30 anos mais prósperos do que somos hoje.

Que os dois gênios da economia descansem em paz, enquanto por aqui seus insights nos deixam com muito o que fazer.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

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