Selic: Após Copom, economistas revisam projeções para juros no segundo semestre

Se a maioria apostava nos juros em 12% ao ano em dezembro, agora as apostas foram ajustadas para 11,75%

Fachada da sede do Banco Central. Foto: Divulgação
Fachada da sede do Banco Central. Foto: Divulgação

Após a decisão dividida do Copom, em que venceu a ala liderada pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, que surpreendemente votou por um corte mais agressivo da taxa de juros, os economistas começam a revisar as suas projeção para a taxa terminal da Selic no ano de 2023. Se a maioria do mercado apostava nos juros chegando em 12% ao ano em dezembro, agora as apostas foram ajustadas para 11,75% ao ano.

Segundo os economistas do BNP Paribas, Goldman Sachs, XP, C6 e Órama, o comunicado foi bastante claro quanto ao ritmo de cortes nas três próximas reuniões do colegiado do Banco Central (BC) neste ano, com novas reduções da mesma magnitude do realizado nesta quarta-feira (2), de 0,50%, o que deverá totalizar uma redução de 2,0% neste segundo semestre.

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O BC iniciou na quarta-feira (2) o ciclo de cortes da Selic após sete reuniões consecutivas em que manteve a taxa estacionada. Os dirigentes da autarquia reduziram os juros de 13,75% para 13,25% ao ano.

“Esperávamos que o Copom cortaria a Selic em 50 pontos-base em três (de quatro) reuniões restantes neste ano. (A decisão de hoje) Mudou nossa expectativa para a Selic para 11,75% até o final do ano”, afirma Alberto Ramos, líder para a América Latina, do Goldman Sachs.

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“Nossa impressão é que os próximos cortes vão continuar na linha de 50 (pontos-base ou 0,50 ponto porcentual), mas vai ser muito importante vermos o embasamento mais profundo da decisão”, afirma o economista-chefe da XP, Caio Melage, dizendo que vai esperar pelo detalhamento da decisão na ata do Copom, que será divulgada na terça-feira que vem (8).

Decisão dividida

Quatro dos nove integrantes do Copom votaram por uma redução de 0,50 p.p.. Quatro, optaram por uma redução mais conservadora, de 0,25 p.p. Por fim, o voto de minerva recaiu ao presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, que votou por um corte mais agressivo da taxa de juros.

Para Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama, o resultado surpreendeu. “O dissenso era nosso cenário para esse encontro. Embora considerássemos que não seria despropositado que o movimento ora iniciado viesse com redução pouco maior, como foi, acreditávamos que o conservadorismo seria mais condizente com a estratégia traçada pelo comitê, bem como o discurso que a autoridade monetária vinha reproduzindo nos últimos meses”, afirma.

‘Tiro vai ser curto’

André Perfeito, economista da Nécton, chama a atenção para o fato de o presidente do Banco Central ter votado com o novo diretor de política monetária da autarquia, Gabriel Galípolo, recém-empossado e indicado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

“O corte de juros veio em linha com nossa projeção. O que nos interessa aqui neste momento é o comunicado e este veio com alguns pontos importantes. O primeiro é que, apesar do placar rachado, Roberto Campos Neto e Galipolo votaram juntos pelo corte de 0,50 ponto”, destaca.

Perfeito também destaca o fato que os diretores do BC sinalizaram que a taxa deve permanecer no campo contracionista para ancorar as expectativas.

“Isso sugere que o ‘tiro vai ser curto’. Fatalmente o ciclo se encerra já no começo do ano que vem, quando a Selic deve estar em 10,75%, taxa que ainda deve ser considerada contracionista”, disse o economista, que também espera a Selic em 11,75% no final de 2023.

Brasil ainda tem a maior taxa do mundo

O corte na Selic, apesar de considerada agressiva, não foi suficiente para tirar do Brasil o posto de país com a maior taxa de juro real do mundo (descontada a inflação), de 7,54% ao ano, considerando o levantamento do site MoneyYou com 40 economias.

A taxa real brasileira está bem acima de México (6,64%) e Colômbia (6,15%), que vêm logo na sequência na lista. A média das 40 economias é de 0,84%.

Magnitude do corte dividia o mercado

A maioria dos economistas realmente esperava por uma redução de 0,25 ponto porcentual. Outra ala, entretanto, via espaço para um corte maior, de 0,50 ponto, após uma evolução positiva do cenário no último mês.

Após a última decisão do Copom, em 21 de junho, o Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu manter as metas de inflação em 3%, com banda de tolerância de 1,5 ponto porcentual, colocando fim a mais de seis meses de incerteza.

Como resultado, houve uma queda das medianas do relatório Focus para o IPCA de 2023 (5,12% para 4,90%), 2024 (4,0% para 3,90%), 2025 (3,80% para 3,50%) e 2026 (3,80% para 3,50%).

Na semana, o mercado viu uma nova rodada de boas notícias. Destaque para a deflação mais intensa do que o esperado no IPCA-15 de julho, de 0,7%. Ela veio acompanhada de alívios maiores do que o previsto na média dos núcleos e nos serviços subjacentes, e a elevação da nota de crédito soberano do Brasil pela Fitch, de BB- para BB, com perspectiva estável.

Decisão foi debatida

De acordo com o comunicado divulgado pelo BC, os integrantes do Copom informaram que a decisão foi amplamente debatida.

O colegiado avaliou a alternativa de reduzir a taxa básica de juros em 0,25 p.p.. Considerou, porém, “ser apropriado adotar ritmo de queda de 0,50 ponto percentual nesta reunião em função da melhora do quadro inflacionário”.

No entanto, o comunicado reforça que “o firme objetivo” do BC, é o de “manter uma política monetária contracionista para a reancoragem das expectativas e a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante”.

De acordo com os integrantes do Copom, em nota, “a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem parcial, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”.

O que é a taxa Selic?

Selic é a sigla para “Sistema Especial de Liquidação e de Custódia”. É a taxa básica e, mais importante do que isso, é ela que baliza todo o mercado financeiro. Portanto, o investidor dificilmente vai encontrar juros menores do que ela.

A Selic também é um bom termômetro para os investimentos. Assim, um papel que pague abaixo da taxa de juros merece ser trocado por outro que pague pelo menos a mesma coisa. O Banco Central (BC) é quem define a taxa, que sobe todas as vezes que precisa controlar a inflação.

O que é o Copom, que define taxa Selic?

A Selic não nasce de geração espontânea, do nada. Um colegiado que se reúne a cada 45 dias a define, decidindo se vai aumentar ou reduzir a taxa. Este grupo de pessoas avalia dados macroeconômicos, como o desempenho da atividade econômica, olha para as contas públicas, vê o desempenho da inflação, estuda a quantas anda o câmbio. Tudo isso olhando sempre para a conjuntura internacional, uma vez que o investidor estrangeiro tem grande relevância para Brasil, bem como nossas exportações e importações.

O nome que se dá a este grupo é Comitê de Política Monetária (Copom), órgão que pertence à estrutura do BC. Este grupo é composto pelos chefes do Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos (Deban), Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab), Departamento Econômico (Depec), Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep), Departamento das Reservas Internacionais (Depin) e Departamento de Assuntos Internacionais (Derin).

Os encontros do Copom acontecem durante dois dias seguidos (terça e quarta-feira), a cada 45 dias. A ata com a decisão vem a público na terça-feira, uma semana depois do primeiro dia da reunião. É nela onde estão os detalhes da decisão, com uma sinalização do que deve acontecer no próximo encontro.

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