Quem são os indicados de Lula que votaram por um corte maior na Selic? Quando o presidente fará novas indicações?
Eles defenderam que a Selic deveria cair 0,50 p.p., mais do que decidiram os nomes apontados no governo Bolsonaro
Depois de uma sequência de decisões unânimes, a reunião do Copom desta semana foi marcada por um racha. O Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,50% ao ano, mas deixou quase metade de seus membros como votos vencidos.
Foram 5 votos para a redução que ficou definida e outros 4 votos para cortar ainda mais os juros, em 0,50 ponto percentual, para 10,25% ao ano.
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Mas uma das coisas que mais chamou a atenção do mercado foi a divisão política do comitê, como ressaltou reportagem da Inteligência Financeira, que narra como a Faria Lima recebeu a reunião do Copom.
Todos os cinco votos por um corte de 0,25 p.p., incluindo o presidente Roberto Campos Neto, foram indicados na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Por outro lado, os quatro diretores que votaram pelo corte maior de 0,50 p.p. foram escolhidos na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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Mas o que o futuro nos reserva? Quem são os 4 diretores escolhidos por Lula até o momento e quando o presidente poderá fazer novas nomeações?
Quem são os indicados por Lula que votaram na reunião do Copom?
Pela regra definida após a lei de autonomia do Banco Central, o presidente da República indica os diretores do BC, que o Senado precisa aprovar. Uma vez nomeados, exercem um mandato de quatro anos, que não coincide com o do chefe do Executivo.
Ou seja, a intenção da lei era de fato que presidentes convivessem com diretores de gestões anteriores. “Eu, como autor dela [da lei], me sinto privilegiado de saber que o diretor do Banco Central não vai ser substituído ao bel-prazer do novo mandatário”, afirmou o senador Plínio Valério (PSDB-AM) ao portal do Senado no final de 2022.
Desde que tomou posse, Lula indicou quatro diretores: Aílton de Aquino Santos (Fiscalização), Gabriel Galípolo (Política Monetária), Paulo Picchetti (Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos) e Rodrigo Teixeira (Administração).
Veja um pouco mais sobre cada um dos indicados de Lula que participaram da reunião do Copom:
Aílton de Aquino Santos
O diretor Aílton de Aquino Santos teve a sua nomeação como diretor em 12 de julho de 2023. Com a aprovação pelo Senado, ele se tornou a primeira pessoa negra a fazer parte da diretoria do Banco Central.
Ele se formou em ciências contábeis pela Universidade do Estado da Bahia e em direito pelo Centro Universitário do Distrito Federal. Possui pós-graduações em engenharia econômica de negócios, em direito, Estado e Constituição e em contabilidade internacional.
As informações estão no currículo oficial de Aílton no site do Banco Central.
A trajetória do diretor foi toda construída como servidor do Banco Central, onde atua profissionalmente desde 1998. Ao longo dos 25 anos de carreira antes de se tornar diretor, exerceu diversas funções na instituição, sendo a mais recente a de chefe do Departamento de Contabilidade, Orçamento e Execução Financeira (Deafi).
Gabriel Muricca Galípolo
Gabriel Muricca Galípolo também assumiu como diretor do Banco Central em 12 de julho de 2023. Antes de assumir o posto, ele era o secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Ou seja, o número 2 da equipe econômica liderada pelo ministro Fernando Haddad.
Ele é considerado hoje, pela Faria Lima, o principal favorito para suceder Roberto Campos Neto à frente do BC.
Galípolo se formou em economia e fez mestrado em economia política pela PUC de São Paulo. Atuou como consultor privado, foi CEO do Banco Fator, conselheiro da Fiesp e pesquisador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
Paulo Picchetti
Paulo Picchetti assumiu como diretor do Banco Central no primeiro dia útil de 2024, 2 de janeiro, após o Senado ter votado a aprovação em dezembro.
Ele se formou em Economia pela PUC de São Paulo, com mestrado em economia pela USP e PhD em economia pela Universidade de Ilinóis.
Iniciou a sua carreira como analista econômico em empresas do mercado financeiro e depois microu para a academia. Foi professor na USP e na FGV, onde se dedicou como pesquisador a coordenar índices de preços de mercado. Portanto, um trabalho próximo ao acompanhamento da inflação.
Rodrigo Alves Teixeira
Rodrigo Alves Teixeira também se tornou diretor do Banco Central em 2 de janeiro de 2024 e guarda outras semelhanças com demais indicados do governo Lula.
Ele é servidor de carreira do BC, onde entrou em 2002 na carreira de analista. É professor universitário, desde 2009 no departamento de economia da PUC-SP. E também já teve atuações em cargos públicos, inclusive em gestões lideradas pelo ministro Fernando Haddad.
Rodrigo Teixeira ocupo cargos de chefe de gabinete e vice-secretário da Secretaria Municipal de Planejamento de São Paulo entre 2013 e 2015, quando Haddad era prefeito da cidade. Depois, entre 2015 e 2016 exerceu posições no Ministério do Planejamento, nos últimos meses do governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Voltou a ocupar um cargo no governo federal em 2023, quando se tornou secretário especial adjunto de análise governamental, uma posição que fica alocada na Casa Civil.
Quando Lula poderá nomear novos diretores para a reunião do Copom?
A troca mais aguardada, seja por quem apoia ou não apoia o governo Lula, é a sucessão de Roberto Campos Neto. O mandato do presidente do Banco Central termina em 31 de dezembro de 2024 e caberá ao presidente Lula escolher um sucessor.
Mas Campos Neto não é o único a se despedir do BC no final deste ano. Os mandatos de Carolina de Assis Barros e Otávio Damaso também se encerram em dezembro de 2024. Já Renato Gomes e Diogo Guillen podem permanecer em seus atuais cargos até 31 de dezembro de 2025.
Portanto, apenas em seu último ano Lula terá um Copom inteiramente formado por indicados no atual governo. Contudo, já a partir do ano que vem a maioria dos frequentadores da reunião do Copom já será de nomes que o atual presidente escolheu, o que chama a atenção do mercado financeiro.
De acordo com as fontes do mercado ouvidas em reportagem recente da Inteligência Financeira, o placar de 5 a 4, além de politizar o Copom, mostra que membros com mais tempo a cumprir na instituição devem combater a inflação de forma mais branda.
Ou seja, o BC a partir de 2025 inverteria o tom hawkish dos últimos anos – sob Campos Neto – para dovish.