‘Recessão nos EUA, nos próximos dois anos, já está considerada no preço das ações’, diz Howard Marks
Um dos investidores mais famosos do mundo afirma também que é erro ser um investidor agressivo demais agora
Com a experiência de quem viveu uma inflação de dois dígitos nos anos 1970 nos Estados Unidos, Howard Marks, o fundador da Oaktree, gestora que reúne mais de US$ 160 bilhões, disse que quando a expectativa de alta de preços na economia se entranha nos indivíduos, esse é um mecanismo que se retroalimenta, se torna “grudento”, é complexo fazer a reversão disso.
“Passei isso nos anos 70, durou oito anos e é difícil, é claro que há mais informações hoje, o governo tem mais ferramentas, mas quando as pessoas esperam a inflação antes que os preços aumentem, isso faz os preços subirem, a expectativa inflacionária se autorrealiza, é difícil a gente se livrar disso. A inflação pré-pandemia estava em 2%, agora em 9%, mas algumas coisas vão subir e outras vão cair”, disse Marks, ao participar de painel da Expert XP 2022.
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Com a ressalva de que a Oaktree não se vale de projeções macroeconômicas para fazer suas escolhas de investimentos, Marks comentou ter uma postura benigna com a inflação, porque muito do que se vê hoje tem relação com eventos relacionados à pandemia, com os governos do mundo inteiro liberando dinheiro até para quem não tinha sofrido perda de renda com as restrições impostas pela covid-19.
“As pessoas ficaram mais ricas porque não podiam gastar, viajar, fazer festa de casamento. Ao mesmo tempo, o mecanismo de abastecimento mundial foi congelado, a economia foi desligada e quando a atividade normal voltou em 2021 foi lentamente”, disse o gestor.
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Ele lembrou que os investidores passaram praticamente 2021 inteiro cegos em relação às pressões inflacionárias, acordando para isso só no início de 2022, daí os movimentos abruptos que se observaram nos preços dos ativos de janeiro para cá.
Acostumado a nadar contra a corrente dos movimentos de manada dos investidores, Marks disse que o pessimismo expresso hoje nos mercados trouxe as cotações para valores mais razoáveis, sem haver nada excessivamente caro. E que algumas coisas ruins já estão possivelmente refletidas nos ativos. “A recessão nos Estados Unidos, nos próximos dois anos, já está considerada nos preços das ações, não significa que o mercado vai cair se os preços já anteciparam isso.”
Ciclos de mercado
Ele comentou que há três ciclos de mercado: o primeiro, em que apenas uma parte das pessoas está otimista; o segundo, quando há uma maior adesão a essa tese; e o terceiro, quando todo mundo conclui que só dá para melhorar, e para sempre. “É preciso entender a diferença do ambiente nos três estágios e pensar em qual estamos. Se comprar no primeiro, vai encontrar os melhores preços, enquanto no terceiro, quando já tem muito otimismo no preço dos ativos e nem tudo se realiza, daí você perde dinheiro.”
Por ora, ele acha que o espírito é de moderação, um cenário em que ninguém espera que o pior ou o melhor vão se perpetuar. Nas carteiras da Oaktree, isso se traduz em posições em risco, a casa não compra títulos públicos, mas sempre com algum nível de defesa.
Em tempos de inflação em alta, uma forma de o investidor se proteger é comprar papéis de dívida com taxas flutuantes. Como investidor pessoa física, ele tratou de comprar imóveis, cujos valores dos aluguéis são de alguma forma indexados.
Marks evitou qualificar como “bolha” o comportamento de ativos após as injeções trilionárias de recursos nas economias durante a pandemia, e mesmo na fase após a crise das hipotecas de alto risco, em 2008. Como as taxas eram muitos baixas, os 10, 12 anos desde aquela turbulência foram de elevação de preços dos ativos e havia um impulso natural ao consumo. Agora, com os juros caminhando para um nível mais restritivo, é natural que o valuation de tudo seja revisado porque o custo de oportunidade ficou maior.