Como a nova presidente quer lidar com as denúncias de assédio na Caixa

Daniella Marques afirma que pretende usar sua rede para combater a violência contra o público feminino

A presidente da Caixa, Daniella Marques, mostra seus planos em quadro de anotações — Foto: Cristiano Mariz
A presidente da Caixa, Daniella Marques, mostra seus planos em quadro de anotações — Foto: Cristiano Mariz

No 21º andar da sede da Caixa Econômica Federal, em Brasília, a nova presidente do banco estatal, Daniella Marques, exibe em um quadro de anotações a sua estratégia para reverter o maior escândalo da história da instituição, que resultou na queda de Pedro Guimarães, seu antecessor, acusado de assédio sexual.

Ela quer lançar um grande pacto entre os setores público e privado para enfrentar a violência contra a mulher e incentivar o empreendedorismo. Nessa estratégia, a Caixa deverá lançar um atendimento exclusivo para mulheres na agência e um extrato bancário com QR Code, que permita abrir uma cartilha sobre proteção para mulheres.

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Veja abaixo os principais trechos da entrevista ao GLOBO:

Após três semanas à frente da Caixa, qual o seu diagnóstico sobre o banco?

O primeiro passo foi construirmos um plano de ação em relação à crise, aos fatos expostos. O Conselho de Administração do banco me apoiou muito. Conseguimos nos mover muito rápido e nos posicionar para criar uma estrutura isonômica e séria de apuração dos fatos.

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Abri um canal de diálogo, apoio e acolhimento para mulheres. Tem uma sala de atendimento permanente que eu visito com frequência.

O processo todo corre em absoluto sigilo. Então, o que me comprometi na minha posse e fiz rapidamente foi criar governança de apuração independente e rigorosa. Isso está acontecendo. Não posso expor as pessoas, as famílias das pessoas, o próprio banco em si.

O que está sendo feito para corrigir erros da gestão passada?

Não sou juíza e não cabe a mim julgar evidências de fatos. Cabe a mim construir uma governança sólida de apuração. Mas, quando se olham as evidências, os sintomas do fato, quando se fala em possíveis denúncias de assédio, isso é um sintoma de uma doença que, na verdade, infelizmente ainda está presente no Brasil, com toda essa questão de abuso infantil, violência doméstica contra mulheres e assédio sexual no ambiente de trabalho.

A minha proposta para o conselho foi a Caixa, além de ser o banco de todos os brasileiros, que traz empreendedorismo como ferramenta de transformação social, ser a mãe da causa das mulheres.

Como isso ocorrerá na prática?

Conversei com vários institutos, com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e com a própria Febraban (Federação Brasileira de Bancos) para o sistema financeiro se unir numa rede de proteção de mulheres. Falta rede, falta conscientização, falta proteção às vítimas, falta difusão dos canais de denúncia, principalmente para a população mais vulnerável.

Tenho que usar a minha força de rede bancária para criar um mecanismo de proteção para as mulheres. Teremos um espaço para mulheres dentro das agências, que estamos chamando de “Caixa para elas” e que vamos lançar no fim do mês.

Quando geramos conscientização, inibimos novos fatos, porque as pessoas vão ver que tem alguém olhando, e começaremos a encorajar as vítimas. Cada extrato (bancário) pode ter mensagens como: você pode ser MEI (microempreendedor individual), um código 18O (Central de Atendimento à Mulher) com QR Code e com toda a cartilha de prevenção e combate à violência. Quero pegar não só a força de rede da Caixa, mas fazer construir um grande pacto nacional de proteção das mulheres.

A senhora já foi vítima de assédio?

Eu não queria falar da minha vida privada. Vejo essa questão como comportamento inadequado em ambiente de trabalho. Para mim, lugar de trabalho é lugar de exercício de vocação, mérito e respeito. Ponto final. Quer fazer piada, brincar, ver filme e foto? Tem outros lugares adequados que não o ambiente de trabalho.

Por que não foram tomadas providências antes quando começaram a surgir, há algum tempo, as primeiras denúncias de assédio sexual?

Não posso responder pela gestão passada. Recebi uma pesquisa, na semana passada, que mostra que 52% das mulheres economicamente ativas são vítimas de assédio. Isso não é um problema exclusivo da Caixa. Mas a Caixa pode liderar esse processo de mudança, sendo promotora do empreendimento feminino. Essa é a semente que eu vou deixar na rede do banco.

A senhora pretende dar continuidade ao projeto “Caixa Mais Brasil” do seu antecessor e viajar pelo país?

Não. Quero estar próxima da rede, mas como executiva, engajando e apoiando quem trabalha na Caixa. A força do banco está na rede, em quem está operando na ponta. São mais de 90 mil pessoas, em quase 100% dos mais de cinco mil municípios.

Na reestruturação que fizemos, juntamos as vice-presidências de Logística e de Pessoas para ter maior eficiência e fluidez, conciliando a gestão de pessoas e processos a partir da matriz. Acredito em um estilo de gestão mais nuclear. Pretendo dar mais liberdade de argumentos.

Ontem fiz uma live com as pessoas da Caixa e lancei o desafio “tem Caixa para mais”, que eles mesmo respondam, como é que nos tornamos mais próximos e mais empáticos para atender melhor o cidadão, conciliando toda a nossa vocação social com uma vocação de resultados.

Por Geralda Doca e Thiago Bronzatto

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