Confira a trajetória de Pedro Guimarães, presidente da Caixa alvo de denúncias de assédio

Executivo é conhecido pela proximidade com Bolsonaro, viagens pelo Brasil e 'caça às bruxas'

Presidentes de bancos públicos, em geral, são pessoas discretas, quase sempre longe dos holofotes e do grande público. Mas esse não foi o caso de Pedro Guimarães. Desde que assumiu a Caixa, em janeiro de 2019, buscou se aproximar do presidente Jair Bolsonaro, usou eventos para projetar sua imagem e chegou até a sonhar com uma vaga de vice na chapa da reeleição.

Era figura presente nas lives presidenciais e chegou a ter denúncias contra ele não apenas de assédio sexual, mas de assédio moral e até de favorecimento no banco.

Se o banco público ganhou musculatura sob a sua gestão, em especial com a estratégia de ser o provedor de soluções digitais no auxílio emergencial durante a pandemia, a Caixa viveu enfrentamentos e escândalos que não eram comuns à sua história.

Um dos mais graves foi a denúncia de que a Caixa privilegiava empresários e indicados pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro, em empréstimos e operações.

O caso está sendo investigado, desde outubro do ano passado, pelo Ministério Público Federal. O MPF também tem um inquérito em curso que apura irregularidades na Caixa, como a suposta pressão política sobre a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) para que não aderisse a um manifesto com tom crítico ao governo.

Guimarães ameaçou sair da federação, que defendia valores democráticos em um manifesto assinado por várias entidades empresariais.

Com Guimarães, a Caixa encarou uma concorrência com o Banco do Brasil pelo apoio ao agronegócio, se aproximou de políticos e liderou abertura de agências em locais próximos de apoiadores. O movimento foi na contramão do setor bancário, que viveu uma fase de enxugamento.

A Caixa também teve uma gestão próxima da ideologia do Planalto, que gerou, antes das denúncias de assédio sexual contra Guimarães, suspeitas de assédio moral.

Os exemplos mais gritantes foram registrados em dezembro do ano passado: funcionários da Caixa denunciaram, ao seu sindicato, que eram proibidos de usar roupas vermelhas, cor ligada aos partidos de esquerda, sobretudo o PT.

E, em um evento de gerentes, Pedro Guimarães os incitou a fazer exercícios físicos, contra a vontade de muitos dos presentes. Guimarães também sempre se opôs às políticas de restrição impostas pela Covid, da mesma forma que Bolsonaro.

A gestão de Guimarães é marcada por viagens, sobretudo em locais onde havia pouca população bancarizada. Foram 145, segundo o banco.

Ao anunciar agências, nunca deixava de citar que era uma promessa de Jair Bolsonaro. Em muitas destas viagens ocorriam os episódios de assédio sexual, segundo denúncias coletadas pelo site “Metrópoles”e investigadas pelo Ministério Público Federal, sob sigilo.

Guimarães gosta de alardear que, sob sua gestão, fez uma ampla bancarização e digitalização de clientes, na esteira do pagamento do Auxílio Emergencial.

Mas fontes do mercado afirmam que muitas destas contas digitais seguem inativas. O banco não abre seus números. Da mesma forma, não divulga, sob o argumento de serem dados estratégicos, os resultados das linhas de créditos a negativados, criadas no ano passado.

Entre os primeiros atos, ele mudou a política de patrocínio do banco e fez uma espécie de “caça às bruxas” afastando dos postos chaves, como vice-presidências, diretorias e superintendências, todos os executivos das gestões anteriores, independentemente do tempo na função – o que gerou enorme insatisfação dentro do banco.

Ele dizia que empregava o método da meritocracia para preencher os cargos, e, ironicamente, de estimular a gestão feminina na alta gestão. Um dos projetos lançados por ele assim que chegou ao comando da instituição, o “Caixa Mais Brasil”, durou toda a gestão.

Sob o pretexto de conhecer todas as agências do interior do país, Guimarães viajava praticamente todos os fins de semana, acompanhado por uma comitiva.

O lucro da Caixa cresceu sob sua gestão, embora o pico do resultado tenha sido registrado em seu primeiro ano de presidência, quando mais que dobrou, saindo dos R$ 10,3 bilhões em 2018 para R$ 21,1 bilhões em 2019. Em 2020, afetado pela pandemia, caiu para R$ 13,2 bilhões, e se recuperou um pouco no ano passado, para R$ 17,3 bilhões.

Contudo, o resultado da gestão de Guimarães foi puxado pela venda de ativos, que somaram R$ 148 bilhões, incluindo a venda de participação na Petrobras, no Banco do Brasil e Banco PAN, além da abertura de capital da subsidiária, a Caixa Seguridade.

A proximidade com Bolsonaro e com pautas conservadoras, o estilo midiático e os bons resultados deixaram o banco fora de um dos alvos principais do governo: a busca pela privatização.

Mas ele colecionou rivais, notadamente o ministro da Economia, Paulo Guedes, que não se dava com Guimarães – dentro do governo muitos viam no chefe da Caixa um substituto para o outrora “superministro”, ainda mais quando “Posto Ipiranga” tentava evitar políticas e gastos populistas.

Guimarães também se gabava de ter retomado a liderança no banco no crédito imobiliário, de direcionar o crédito para micro e pequenas empresas e de avançar no agronegócio, até então nicho tradicional do Banco do Brasil (BB).

Com mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro e de ter participado do processo de privatização como dos bancos Banespa, Banerj, Bemge, Banestado e Meridional, Guimarães tomou novo rumo no governo.

Participava de viagens de Bolsonaro nas entregas das unidades do Casa Verde e Amarela e era figura constante nas motociatas. Ficou conhecido em Brasília como o banqueiro que virou político.

Por Geraldo Doca