Para onde vai o dólar? Analistas recomendam cautela

Para economistas, fundamentos que sustentaram moeda brasileira nos primeiros meses do ano continuam presentes, mas volatilidade aumentou

Neste semestre, o dólar sofreu uma queda de 9,27%, a maior em sete anos. (Foto: Pixabay)
Neste semestre, o dólar sofreu uma queda de 9,27%, a maior em sete anos. (Foto: Pixabay)

Após ter ido a R$ 4,60 no início de abril, o dólar inverteu a tendência e passou a se apreciar nas últimas semanas, encerrando a sexta-feira negociado a R$ 5,0754. O que acontecerá com o câmbio agora que o aperto monetário nos Estados Unidos começa a entrar nos preços dos ativos? Para especialistas, os fundamentos que deram apoio ao real nos meses do ano continuam presentes, mas o momento exige cautela.

“Nem todo movimento de desvalorização é um ponto de entrada”, alertam os estrategistas Claudio Irigoyen e Christian Gonzalez Rojas, do Bank of America. Os profissionais se dizem cautelosos em relação a moedas de países da América Latina, mas veem o real como uma possível exceção. “Achamos que a liquidação aproximou a moeda de um ponto atrativo para voltar a ter posições compradas. No entanto, preferimos ser cautelosos e esperar por um melhor ponto de entrada”, afirmam.

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Os profissionais do BofA acreditam, de forma geral, que é possível esperar por uma maior volatilidade nos mercados da região, “à medida que os juros dos EUA aumentam, que as perspectivas de crescimento da China se enfraquecem e que as perspectivas domésticas continuam a ser sombrias”.

Irigoyen e Gonzalez Rojas apontam, em relatório a clientes, que, mesmo que o Federal Reserve (Fed o banco central americano) não tenha sido tão agressivo na reunião da semana passada, a inflação ainda não recuou. “Isso significa que o Fed precisará continuar subindo [os juros] para conter as pressões de preços, o que significa que os sinais ‘hawkish’ [mais duros] podem eventualmente retornar. Enquanto isso, embora as notícias sobre a flexibilização da política na China tenham sido positivas, é improvável que isso indique uma rápida mudança na estratégia de ‘covid zero’ por enquanto”, dizem.

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Enquanto o BofA mantém um viés mais cauteloso com o real, outros bancos estrangeiros já voltam a olhar com bons olhos posições compradas na moeda brasileira. Além dos fundamentos que deram apoio ao real ainda estarem presentes no cenário, profissionais notam que as posições técnicas estão mais “limpas” após o movimento recente de valorização do dólar no câmbio doméstico.

“O real parecia ser um dos negócios mais concorridos algumas semanas atrás, de acordo com várias métricas de posicionamento. Com as posições agora mais limpas, ‘valuations’ mais atraentes e uma história de fundamentos ainda forte, recomendamos posições compradas no real”, apontaram os estrategistas Saad Siddiqui e Gisela Brant, do J.P. Morgan. Eles notam que os juros reais estão em níveis altos, ao mesmo tempo em que as commodities agrícolas continuam em alta, o que garante apoio ao real.

Na quarta-feira, logo após o fim da coletiva de imprensa do presidente do Fed, Jerome Powell, os estrategistas Dirk Willer, Alvaro Mollica e Andrea Kiguel, do Citi, se mostraram favoráveis a posições vendidas em dólar contra o real, ou seja, posições que ganham com a queda do dólar. Ao observarem os movimentos recentes, eles notam que houve redução de posições vendidas em dólar nos dias anteriores à decisão do Fed e que, assim, pode haver uma reversão dessa tendência nos próximos dias.

“Além disso, a volatilidade dos juros dos EUA começou a cair, o que significa que o ‘carry’ [carry trade, operação em que o investidor estrangeiro capta a juros baixos fora do país e aplica no mercado local, ficando com o diferencial de juros] volta ao jogo”, afirmam. Ao analisarem o mercado local, os estrategistas do Citi notam que o Banco Central tem atuado no mercado de câmbio e ressaltam que a estabilidade do real é algo crucial para dar aval ao fim do ciclo de aperto monetário.

“Embora o BC esteja quase no fim [do ciclo de elevação da Selic], achamos que é improvável que uma ação ‘dovish’ [mais suave] do BC seja negativa para o câmbio por muito tempo. Assim, adicionamos o real a nossas posições compradas”, dizem os estrategistas do Citi.

Os profissionais do BTG Pactual, por sua vez, continuam a esperar que o dólar feche o ano a R$ 4,80, mas estão cautelosos com o curto prazo. “Nosso balanço de riscos se tornou mais pessimista na margem, principalmente devido ao quadro internacional mais desafiador para países emergentes”, afirmam, em relatório, os profissionais da equipe de macro e estratégia do banco.

O BTG ampara sua visão para o câmbio em 2022 tendo como base o aperto da política monetária pelo Fed. “Esse vetor será, a partir de novembro, contrabalançado pela redução da incerteza doméstica e pelo preço elevado das commodities, em linha com nossa estimativa de balança comercial com superávit de US$ 76 bilhões”, dizem.

Eles esperam que o Fed eleve os juros para o intervalo entre 3% e 3,25% no fim do ano e que, em 2023, as taxas fiquem entre 3,75% e 4%, o que deve favorecer o dólar. Ao mesmo tempo, a piora do conflito entre Rússia e Ucrânia, com as discussões de novas sanções, deve trazer as commodities para o foco novamente. “O petróleo russo é o principal alvo desse debate, o que pode gerar novo movimento de apreciação da cotação do barril no mercado de referência, o que é um vetor que favorece o real.”

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