Mercado de veículos elétricos cresce rapidamente na Índia

Mais de 90% dos seus 2,3 milhões de veículos elétricos possuem duas ou três rodas

Presidente do Brasil é recebido pelo primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. Foto: Evan Vucci/Associated Press/Estadão Conteúdo
Presidente do Brasil é recebido pelo primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. Foto: Evan Vucci/Associated Press/Estadão Conteúdo

Compras empilhadas na traseira de uma scooter elétrica de entregas são uma cena cada vez mais familiar na cidade indiana de Bengaluru. Em mercados lotados, riquixás elétricos deixam e pegam passageiros. E o número de startups de tecnologia voltadas para o transporte elétrico disparou à medida que a cidade – e o país – passaram a adotar os veículos elétricos (VEs).

A Índia tem um dos mercados de veículos elétricos que cresce mais rápido no mundo, e atualmente já conta com milhões de proprietários de VEs. Mais de 90% dos seus 2,3 milhões de veículos elétricos possuem duas ou três rodas, e são mais baratos e populares – motocicletas, scooters e riquixás – e mais da metade dos veículos de três rodas registrados no país em 2022 eram elétricos, segundo um relatório da Agência Internacional de Energia, AIE, divulgado em abril.

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Plano federal

Um plano federal de US$1,3 bilhão (R$6,7 bilhões) para encorajar a fabricação de veículos elétricos e oferecer descontos aos consumidores, juntamente com o aumento dos preços dos combustíveis na última década e a percepção dos benefícios de longo prazo pelos consumidores, são os fatores que se combinaram para impulsionar as vendas, de acordo com os analistas de mercado.

Os veículos elétricos são uma das soluções para reduzir as emissões que promovem o aquecimento global e melhorar a qualidade do ar, uma vez que o transporte rodoviário contribui significativamente para as emissões mundiais. Para que o mercado de veículos elétricos reduza significativamente o carbono, os especialistas dizem que será fundamental afastar a geração de energia dos combustíveis fósseis, administrar as cadeias de suprimentos de minerais e aumentar as vendas de veículos elétricos em diferentes contextos socioeconômicos.

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Custos baixos para veículos elétricos

Balaji Premkumar, um motorista de entregas a riquixá de 25 anos de idade, aderiu a um veículo elétrico no começo deste ano. Na maioria dos sinais de trânsito ele está cercado por veículos de três rodas movidos por gasolina, que trepidam e fazem barulho enquanto despejam no ar uma fumaça densa, como também era o caso dele antes da troca pelo VE.

Premkumar diz que o novo veículo é mais fácil e mais confortável de dirigir, e que ele já percebe uma diferença nos custos. “Se eu gasto 60 rúpias (R$3,70) para carregar o veículo por três horas, consigo fazer 90 quilômetros. Em um veículo a diesel, eu gastaria pelo menos 300 rúpias (R$18,50) pela mesma quilometragem”, explica.

Santhosh Kumar, de 23 anos, um motorista de entregas a riquixá elétrico da empresa de logística City Link, com sede em Bengaluru, também percebe os benefícios da troca pela eletricidade.

“O veículo nunca quebra e há muitos pontos de recarga por toda a parte, então nunca fico sem bateria”, diz Kumar. Os pontos de recarga na Índia aumentaram dez vezes em quantidade, segundo Elizabeth Connolly, analista de tecnologia de energia e transportes na AIE.

Embora Kumar dirija um veículo elétrico de propriedade da empresa, ele sonha em comprar um veículo próprio, ou até mesmo vários para alugar.

“É só questão de tempo até que todos adotem os elétricos”, diz.

Veículos cumprem trajetos curtos

Os veículos de duas ou três rodas são usados principalmente para fazer entregas ou trajetos curtos. Eles acumulam quilometragem rapidamente, o que torna os modelos elétricos uma opção nitidamente mais barata do que abastecer com gasolina, diz N.C. Thirumalai, do instituto de pesquisas Centro de Estudos de Ciência, Tecnologia e Políticas, com sede em Bengaluru.

Ele diz, porém, que a viabilidade a longo prazo dos veículos elétricos depende da garantia de fornecimento dos minerais críticos usados nas baterias e em outras peças. A fonte de eletricidade para recarregar os veículos também precisa ser limpa, o que não é o caso, atualmente.

Mais de três quartos da eletricidade na Índia é gerada a partir de combustíveis fósseis, principalmente carvão, de acordo com os relatórios do governo. E as mineradoras, inclusive na Índia, vêm sendo criticadas por práticas inadequadas de mineração dos minerais usados na fabricação de componentes dos veículos elétricos e outros tipos de infraestrutura de energia limpa.

“À medida que aumenta o número de VEs, e minerais como o lítio começam a ser disponibilizados dentro do país, a indústria da mineração definitivamente deveria assegurar que práticas de mineração sustentáveis sejam adotadas”, diz Thirumalai.

Thirumalai vê com otimismo a eletricidade mais limpa no futuro. O “enorme impulso às energias renováveis no país” significa que as emissões dos veículos elétricos devem diminuir com o tempo.

Energia limpa

Embora os avanços em energia renovável sejam irregulares, a Índia pretende instalar 500 gigawatts de energia limpa até o fim da década, o suficiente para abastecer 300 milhões de casas no país, e pretende zerar as emissões líquidas até 2070.

Mas o país também precisa “encontrar uma forma de liberar financiamento para os VEs e as indústrias associadas” para que mais pessoas tenham condições de pagar por eles, diz Akshima Ghate, da RMI India, uma organização sem fins lucrativos para energia limpa com sede em Nova Délhi. Incentivos como financiamentos a juros baixos para consumidores em potencial e isenções fiscais para veículos elétricos podem impulsionar as vendas, especialmente para compradores de baixo poder aquisitivo, segundo ela.

Ainda assim, Ghate acredita que a rápida mudança da Índia em prol de veículos elétricos menores pode servir de modelo para outras economias emergentes em países onde os veículos de duas ou três rodas são muito populares, como as Filipinas e alguns países africanos.

Quando se trata de “estabelecer padrões de referência para economias em desenvolvimento, a Índia desempenha um papel de liderança”, diz.

Com informações do Estadão Conteúdo

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