Itaú vê ‘gesto de conciliação’ com governo, mas com Copom ‘firme’ em cumprir metas de inflação
Banco manteve a projeção de que a taxa Selic deve fechar 2023 em 12,50% ao ano
Divulgada nesta terça-feira (7) pelo Banco Central, a ata da última reunião mostra o Copom (Comitê de Política Monetária) mirando as expectativas de inflação, ainda que o colegiado tenha reconhecido o esforço fiscal do novo governo. A avaliação é do Itaú Unibanco, em relatório assinado pelo economista-chefe, Mário Mesquita, num momento em que a atuação e a autonomia do BC estão sendo questionadas e criticadas diariamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“A ata do Copom manteve a postura firme do comunicado sobre as expectativas de inflação e o papel institucional do BC de cumprir as metas de inflação estabelecidas. No entanto, o comitê reconheceu os esforços do governo para conter o déficit fiscal em 2023, o que vê como um possível fator para mitigar os estímulos à demanda e, portanto, reduzir o risco de inflação mais alta”, destaca o Itaú.
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“Apesar do gesto de conciliação, acreditamos que as projeções e sinalizações apresentadas em ambos os documentos podem ser consistentes com cortes de juros ainda mais tardios. Assim, continuamos vendo riscos de alta em nossa projeção de 12,50% ao ano para o final de 2023”, completa a instituição financeira.
As sinalizações do BC
Na ata, o Copom notou “com especial preocupação” a deterioração das expectativas de inflação de prazos mais longos para decidir pela manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano.
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Alguns membros do colegiado, durante a discussão, observaram que a execução do pacote apresentado pelo Ministério da Fazenda deveria atenuar o risco fiscal “e que será importante acompanhar os desafios na sua implementação.”
Mesmo com o aceno ao governo, o comitê enfatizou também que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados, e que o Copom “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.”
Credibilidade em jogo
Para o economista e especialista em alocação de investimentos da Warren, Carlos Macedo, a mensagem essencial exposta na ata é de reforçar a credibilidade do Banco Central em relação ao compromisso com a meta de inflação, em um contexto no qual as metas e a independência estão sendo questionadas pelo governo federal.
“Nessa conjuntura, vale destacar (o trecho da ata) onde o Banco Central reconhece que o plano de redução do déficit apresentado pelo governo no início do ano, se implementado, pode auxiliar na redução da inflação. Ou seja, um pequeno aceno para diminuir a temperatura atual”, comenta o economista.
“O cenário base é de manutenção da taxa de juros por algum tempo, a menos que as expectativas de inflação subam mais, exigindo um esforço adicional. A evolução do cenário internacional e do debate sobre as novas regras fiscais também serão fundamentais para os próximos da política monetária”, acrescenta o especialista da Warren.
Haddad baixa tom das críticas
Depois de seguir Lula no embate, ao sugerir que o BC poderia ter sido mais generoso com o governo atual no comunicado da semana passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também adotou um tom ponderado. Haddad disse hoje que a ata foi mais ‘amigável’.
“A ata veio melhor do que o comunicado, mais extensa, mais analítica, colocando pontos sobre o trabalho do Ministério da Fazenda. É uma ata mais amigável em relação aos próximos passos que precisam ser tomados”, declarou o ministro.