Inflação é a bola da vez até nos investimentos – veja como alocar recursos neste fim de ano
Especialistas recomendam títulos do Tesouro atrelados ao IPCA
Com pandemia ou sem pandemia, o final do ano tende a ser um período de estresse para os investimentos. Grandes fundos reveem as suas carteiras, multinacionais enviam grandes remessas de dólar ao exterior, e a incerteza sobre o que esperar no ano seguinte domina os mercados. Em um ano pré-eleitoral como este, a situação piora.
Junta-se a isso um cenário de inflação e juros em alta, desaceleração da atividade econômica, alto desemprego e um grande risco fiscal (desequilíbrio das contas públicas).
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“A incerteza com as eleições presidenciais é muito grande. As tendências, no mercado, já têm mudado rápido e, em ano eleitoral, tendem a mudar mais rápido ainda”, diz Adriano Bernardi, sócio da gestora 3R Investimentos.
Onde investir em 2021?
Para navegar por meio da instabilidade, especialistas sugerem uma carteira diversificada, com foco em ativos atrelados à inflação.
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O crescente aumento de preços no país fez o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) desbancar as principais aplicações. Para proteger o poder de compra do dinheiro, é preciso ter na carteira ativos atrelados ao índice.
Os mais recomendados agora são os títulos do Tesouro Direto conhecidos como Tesouro IPCA+. A rentabilidade destes títulos é híbrida. Uma parte é composta por um juro prefixado conhecido na parte da aplicação e outra parte é pós-fixada, porque acompanha o IPCA do período. Bernardi recomenda alocar 30% da carteira nestes ativos.
No momento, estão disponíveis para investimento os títulos com vencimento em 2026 (rentabilidade anual de IPCA + 4,97%), em 2035 (IPCA + 5,23%), e em 2045 (IPCA + 5,23%). Além disso, existem os títulos com pagamento de juros semestrais, para quem não quer carregar o investimento até o vencimento. Nesta categoria, estão disponíveis títulos com vencimento em 2030 (IPCA + 5,14%), em 2040 (IPCA + 5,25%) e 2055 (IPCA + 5,33%).
“Se [o investidor] tiver paciência, e levá-lo até o vencimento, vai ganhar um dinheiro, 5% é muita coisa. A oscilação do título no caminho é um pequeno obstáculo”, afirma Martin Iglesias, professor e especialista líder em Investimentos e Alocação de Ativos do Itaú Unibanco.
A oscilação a que Iglesias se refere é a mudança diária no preço dos títulos, que são marcados a mercado. Eles oscilam conforme a oferta e a demanda combinadas à perspectiva econômica. Quando o preço do título sobe, com a alta procura e baixa oferta, a sua taxa de remuneração cai, pois não é necessário pagar tanto para atrair investidores. Quando o preço do título cai, a taxa de remuneração sobe.
Também existem outros ativos que acompanham a inflação, como fundos de renda fixa que investem em títulos públicos, ETFs (fundos de índice) de renda fixa, alguns FIIs (fundos imobiliários) de aluguéis ajustados pela inflação e algumas debêntures.
Bernardi, da 3R, recomenda que o investidor tenha dois fundos de crédito privado — de debêntures, CRIs, CRAs e Fidcs— , de gestoras independentes e renomadas.
Angela Nunes, planejadora financeira CFP pela Planejar, também recomenda os fundos de crédito privado, mas apenas em caso de ativos AAA, da mais alta credibilidade na classificação de risco.
“Não se pode comprar um ativo pela taxa, é preciso avaliar a qualidade, escolher bem a empresa”, afirma Angela.
Com o IPCA em alta, aumentam também as expectativas para a Selic, usada pelo Banco Central para conter o aumento de preços. A taxa básica de juros mais elevada deixa muitos ativos de renda fixa atrelados ao DI atrativos.
Ações recomendadas para 2021
Segundo Iglesias, do Itaú, também é possível encontrar boas oportunidades no mercado de ações. “A Bolsa, em termos de múltiplos e lucros está barata, mais barata do que no pior momento da pandemia. As demais bolsas andaram mais que a nossa, que está relativamente parada há meses.”
O especialista explica que, como a expectativa de lucros das empresas aumentou muito para 2022 e o preço dos ativos não acompanhou, a relação preço da ação e expectativa de lucro —o famoso P/L— está mais baixa agora que nos piores meses de 2020, quando a Bolsa foi penalizada pelo receio em torno da pandemia de Covid-19.
Iglesias alerta, porém, que ações não cabem hoje em uma carteira conservadora e é preciso sempre investir de acordo com o seu perfil de risco.
Ele recomenda ainda a diversificação com ativos internacionais, por meio de fundos e BDRs, com boas oportunidades em Estados Unidos, Europa e Japão.
Na Bolsa local, Bernardi, da 3R, aposta em uma postura mais defensiva, com ativos ligados ao consumo essencial, que devem sofrer um impacto menor em 2022. São eles as empresas do setor de saúde como um todo, com destaque para farmácias, e de alimentos, com destaque para supermercados e atacadistas.
Os especialistas lembram ainda que uma boa alternativa para uma carteira bem diversificada são os fundos de investimento, com destaque para os multimercado, que combinam ativos de renda fixa e renda variável. Além disso, o foco deve ser sempre o longo prazo, de modo a ampliar os ganhos em potencial.
“A diversificação tem um valor enorme. O investidor deve buscar oportunidades em diferentes ativos que reagem de formas distintas aos mais variados cenários”, diz Iglesias.