Ibovespa sobe 6,16% em agosto, melhor mês desde janeiro, mas riscos ainda pesam. Entenda
Saldo positivo de quase R$ 18 bilhões de fluxo estrangeiro e recuperação de papéis domésticos ajudam a Bolsa
Apesar do cenário externo mais conturbado e o início da campanha eleitoral, o Ibovespa subiu 6,16% no acumulado de agosto. É o melhor desempenho mensal desde janeiro, quando o índice subiu 6,98%. A entrada de fluxo estrangeiro, importante elemento para a nossa Bolsa, deu impulso ao Ibovespa no período.
O movimento positivo, no entanto, desacelerou na parte final do mês, principalmente devido a piora das percepções no exterior sobre a continuidade do processo de alta de juros promovido por bancos centrais de economias desenvolvidas. No ano, o principal índice da B3 tem alta de 4,48%.
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Até o pregão do dia 29 de agosto, o fluxo estrangeiro para o segmento secundário da B3, aquele com ações já listadas, era de R$ 17,98 bilhões. No ano, o saldo é positivo em R$ 71,74 bilhões.
O fluxo de fora foi bastante presente na Bolsa nos três primeiros meses do ano, mas entre os meses de abril e maio, ocorreu uma redução.
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O que dizem os analistas?
Para analistas, o movimento é influenciado pela sinalização do Comitê de Política Monetária (Copom) que o ciclo de alta de juros está no fim. O Copom subiu a Selic para 13,75% na última reunião e deixou a porta aberta para uma última alta de menor magnitude em setembro, que pode nem ser necessária.
“O principal fator foi o Banco Central sinalizar que estamos chegando no teto da Selic e os juros longos, projetados para 2030, começaram a cair. Estamos em um momento bom para comprar Bolsa, pois os juros ainda estão muito altos e eles devem cair”, diz o analista da Inv., João Abdouni.
A sinalização abriu espaço para que papéis mais ligados ao ciclo domésticos, e que vinham com fortes perdas no ano, apresentassem recuperação. Foi o caso de companhias do setor de varejo.
“Diversos setores ligados à economia interna, que apanharam muito, tiveram uma recuperação muito boa. Isso e o fluxo olhando para a Petrobras ajudou o índice a fechar no positivo”, diz o economista da Guide Investimentos Victor Beyruti.
Bolsa opera com desconto
Além disso, segundo os especialistas, a bolsa brasileira é negociada com desconto tanto na comparação com suas médias históricas quanto ante outros emergentes. E o Brasil é visto como um emergente em posição mais favorável, devido ao nível de juros atraentes, a problemas geopolíticos em concorrentes, e a resultados macroeconômicos que apresentaram melhora.
Desde o final do mês passado, os mercados americanos também tinham apresentado recuperação, diante de dados de inflação mais positivos no país, o que colaborou para os ganhos locais na primeira metade de agosto.
No entanto, as últimas sinalizações do Federal Reserve, BC americano, incluindo a do seu presidente, Jerome Powell, esfriaram a animação.
Os dirigentes da autoridade monetária vêm afirmando que a prioridade do banco é combater a inflação elevada no país, mesmo que isso gere impactos negativos para a atividade econômica. Com isso, os investidores já esperam uma nova alta de 0,75 ponto percentual na reunião de política monetária de setembro.
É sustentável?
Apesar do desempenho positivo em agosto, ainda há riscos no radar, como pôde ser visto nos últimos pregões. Caso a inflação global não mostre sinais de desaceleração, os juros podem permanecer mais altos no mundo por um tempo maior que o previsto.
Nesse sentido, a perspectiva é de uma possível recessão, ainda que mais branda, nos EUA.
“Ainda parece um alívio temporário antes de uma nova onda de pessimismo global. Os ativos brasileiros chegaram a níveis excepcionalmente baratos. Mas os Estados Unidos sofrem com uma inflação de sérvios difícil de controlar e terá que subir as taxas além do previsto. A Europa também se vê numa situação pior, de escassez de energia, crescimento baixo e inflação”, destaca o economista e sócio da BRA, João Beck.
E, para o Brasil, será necessário observar como a China vai lidar com seus problemas internos, como os ainda persistentes casos de Covid-19 e problemas ligados ao setor imobiliário.
Uma possível desaceleração do país asiático pode impactar ainda mais no preço de commodites, que têm forte peso na nossa Bolsa.
“Esses níveis, depois dessa correção, são sustentáveis sim. Estamos em um momento mais positivo no ciclo de juros. O principal risco seria o Fed ter que segurar os juros mais altos por mais tempo. Olhando para o médio prazo, Fed e China podem pesar mais”, diz Beyruti.
Na balança de riscos, também está presente o cenário eleitoral interno. A eleição ainda não promoveu grandes abalos nos ativos, até pelo fato dos dois principais candidatos serem conhecidos pelo mercado.
O que os agentes procuram saber é como o vencedor do pleito vai lidar com os dilemas fiscais pós-eleição, em um contexto de orçamento apertado e demandas crescentes.
Os principais candidatos à Presidência já deram sinalizações de que vão manter o Auxílio Brasil no valor de R$ 600 no próximo ano, mesmo que o montante não caiba na atual regra do teto de gastos.
Na proposta orçamentária apesentada esta semana, o atual governo manteve o valor de R$ 400, mas já estuda propostas para ampliá-lo, como o uso de uma nova Proposta de Emenda à Constituição (PEC), expediente já utilizado para burlar a regra do teto em outras ocasiões.
“O mercado está contando com esses R$ 600 para o ano que vem, independentemente do governo que for eleito. A grande incógnita é como isso vai ser feito. Mais para frente e quando tiver mais claro o que está sendo pensado de proposta para que isso aconteça, pode vir a fazer mais preço”, diz o especialista da Guide Investimentos.