Fed pode pausar aperto monetário com colapso de bancos nos EUA?
Analistas do mercado já começam a reduzir a expectativa de alta nos juros pelo BC americano em março
Os bancos americanos estão tirando o pé do acelerador em suas expectativas de alta dos juros pelo Federal Reserve (Fed) na reunião de 22 de março depois da quebra do Silicon Valley Bank e do fechamento do Signature Bank. O Goldman Sachs até está projetando que o Fed faça uma pausa e não eleve os juros agora em um movimento de contenção de riscos.
Em relatório, o Goldman cita “estresse no sistema bancário” como motivo para que o Fed pause a alta dos juros e, dependendo do mercado, o banco central volte a elevar os juros em 0,25 ponto percentual nas reuniões de maio, junho e julho, finalizando o ciclo de alta entre 5,25% e 5,50%.
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“O Fed se encontra agora entre a cruz e a espada. Ele quer endurecer a política para conter a inflação, mas agora enfrentará questões sobre se a política já está muito rígida, dada esta desagradável oscilação no sistema bancário”, disse Russ Mold, diretor de investimentos da AJ Bell à Dow Jones.
“Os problemas de alguns bancos nos EUA colocam um ponto de interrogação na reunião do Federal Reserve na próxima semana”, afirmaram os economistas do Commerzbank, Bernd Weidensteiner e Christoph Balz, em nota. Segundo eles, os mercados esperavam um aumento de 50 pontos-base na taxa de juros, já que os dados do relatório de emprego mostraram um mercado de trabalho ainda apertado e a impressão de inflação de terça-feira provavelmente indicará pressões persistentes nos preços. “No entanto, [a quebra do Silicon Valley Bank] pode fazer o Fed se contentar com uma alta menor, para não causar mais problemas no setor bancário”.
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‘Pânico financeiro’
O colapso do SVB e do Signature Bank expõe alguns riscos sistêmicos ao mercado financeiro nos EUA. De olho nisso, o Federal Reserve (Fed) deve pausar seu ciclo de aperto monetário na semana que vem até que entenda melhor a amplitude dos impactos do episódio à economia americana, avaliam os economistas do Wells Fargo Jay Bryson, Sarah House e Michael Pugliesi, em relatório a clientes.
De acordo com eles, os números do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de fevereiro, que serão divulgados na terça-feira, não devem ter grande influência na decisão do Fed em face dos desenvolvimentos recentes. O Wells Fargo é a segunda grande instituição financeira a prever pausa no aperto monetário do Fed em março, após o Goldman Sachs.
Caso o impacto do colapso do californiano SVB e do nova-iorquino Signature Bank manterem-se contidos, o Fed poderá prosseguir com a alta de juros para reduzir a inflação, dizem os economistas. Mas se o “pânico financeiro” se ampliar e aprofundar, a economia americana sentirá os efeitos e mais aperto monetário pode não ser necessário, diz a análise.
No momento, a expectativa majoritária do mercado ainda é por alta de juros de 0,25 ponto percentual (p.p.) no próximo dia 22, com 59% de chance, de acordo com o CME Group. O percentual restante de 41% indica manutenção da taxa dos Fed funds em 4,5% a 4,75%.
‘Crise não é suficiente’
A crise provocada pelo colapso dos bancos não é suficiente para o Federal Reserve (Fed) mudar seu foco no combate à inflação, avalia o estrategista do UBS, Bhanu Baweja, em relatório enviado a clientes. Ao contrário do que está precificando o mercado, que descontou 0,50 ponto percentual da taxa final de fim de ciclo desde que o SVB começou a apresentar problemas nos últimos três dias, o UBS projeta que o Fed vai ter que continuar elevando os juros e, na reunião de 22 de março, esta alta pode ser de 0,50 ponto se o núcleo do índice de preços ao consumidor (CPI, da sigla em inglês) de fevereiro vier entre 0,5% e 0,6% na margem.
Neste momento, o banco estima altas de 0,25 ponto nas próximas três reuniões, em março, maio e junho, atingindo um pico de 5,50%, considerando que o núcleo do CPI de fevereiro fique em torno de 0,3%. O indicador será divulgado na terça. “Mesmo antes das medidas conjuntas do Fed, Tesouro dos EUA e Fdic (a agência garantidora dos bancos) serem anunciadas, havia dúvidas de que a situação do SVB era uma ameaça ao sistema financeiro e tiraria o Fed da rota”, afirma o estrategista.
Para ele, as medidas de contenção anunciadas pelo Fed, Tesouro e Fdic foram inteligentes e ousadas e serão reconhecidas pelo mercado no curto prazo. “As medidas foram notáveis por garantir os depósitos dos clientes e antecipadamente cuidar dos potenciais problemas de liquidez advindas de perdas não realizadas de investimentos em títulos”, disse.
O estrategista do UBS afirma que antes da crise do SVB, o mercado estava muito complacente. “Um pouco antes do SVB, a probabilidade de recessão medida pelas ações havia caído para entre 30% e 35% para tanto o S&P 500 como para o Stoxx600, a projeção mais otimista desde março de 2022, quando os juros tanto do Fed como do Banco Central Europeu (BCE) estavam em zero”, disse.
Segundo ele, a “narrativa da economia Teflon”, de que ela tem capacidade de aguentar altas taxas de juros vai ter que ser revista pelo mercado. Para o banco, as medidas anunciadas pelo Fed dão garantias para os depositantes mas não faz nada pelos credores ou detentores de ações, o que vai levar os investidores a ajustar suas posições. “À frente, teremos maior prêmio de risco e um cenário mais sóbrio no ciclo”, afirma.