Esforço arrecadatório do governo teve ICMS, Carf e taxação de super-ricos

Entenda como foi o ano do governo federal nesta área e quais projetos ainda podem sair do papel

Plenário da Câmara dos Deputados. Foto: Pedro França/Agência Câmara
Plenário da Câmara dos Deputados. Foto: Pedro França/Agência Câmara

A cerca de duas semanas para o fim dos trabalhos do Congresso em 2023, o governo federal ainda busca aprovar pautas que ajudem a elevar as receitas para cobrir o déficit primário.

A busca por receitas extras deu a tônica da atuação do governo no ano, que buscou atacar a chamada “erosão da base tributável”, ou seja, buscar a tributação de atividades e operações não tributadas ou mediante a redução de incentivos fiscais que diminuíam a arrecadação federal.

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Isso porque, no arcabouço fiscal, lei que substitui o antigo teto de gastos como a âncora fiscal nas contas públicas, a promessa era de que o déficit ficaria em torno de 1% neste ano e zero no ano que vem, o que não deve ocorrer. Segundo cálculos feitos pelo Ministério da Fazenda, para zerar o déficit primário em 2024, serão necessários até R$ 168,5 bilhões em receitas extras.

“O governo tem que arrecadar mais para fazer frente a esse aumento de gastos que planeja ter. Para que ele consiga efetivamente atender às demandas da população, precisa arrecadar mais e, por isso, tenta aprovar medidas de forma a aumentar a arrecadação”, diz Haroldo Monteiro, professor de economia no Ibmec RJ.

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Como explica Fabio Graner, analista do JOTA PRO, o governo ainda corre para aumentar as receitas com tributos. “As próximas duas semanas no Congresso serão dedicadas à aprovação, sobretudo, da MP 1185, que trata das subvenções dadas pelos estados para as empresas sediarem suas plantas produtivas”, afirma.

Confira análise do especialista

Veja análise exclusiva de Fabio Graner | Inteligência Financeira

Graner ressalta que ao longo desse primeiro ano de governo Lula, foram diversas medidas para tentar ampliar a arrecadação. “Definitivamente, houve avanços do governo na agenda arrecadatória. A proposta inicial era elevar em R$ 170 bilhões, o governo aparentemente está conseguindo pouco mais de R$ 100 bilhões até agora, com as medidas já tomadas e que estão para acontecer”, pontua.

E-commerce, ICMS e Carf

Dentre os principais projetos aprovados ao longo do ano, houve o retorno do voto de qualidade no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), dando fim a uma mudança de 2020 na legislação que garantia aos contribuintes a vitória em caso de empate no tribunal administrativo. Sob essa nova configuração, a Fazenda calcula queda de cerca de R$ 60 bilhões em arrecadação por ano, que, agora, pode voltar a subir.

Houve também a exclusão do ICMS da base de cálculo dos créditos de PIS/Cofins, que poderá trazer R$ 4,55 bilhões mensais em 2023, chegando a R$ 61,21 bilhões em 2025 aos cofres públicos. Além disso, a lei de autorregularização tributária e a tributação de offshores e fundos de investimentos no exterior buscou acrescentar outros R$ 3,5 bilhões.

Há, contudo, certo ceticismo em relação aos números.

“Algumas propostas não surtirão efeito, pois a jurisprudência ou não está definida, ou, muitas vezes, é favorável ao contribuinte e o governo tem uma interpretação pró-fisco. O contribuinte não abrirá mão da discussão, a não ser que haja uma condição muito favorável para pôr fim à disputa, como os reflexos fiscais das subvenções para investimento e a tributação de offshores”, afirma o advogado tributário Breno Kingma.

Medidas ainda em tramitação

Já entre as medidas ainda em tramitação no Congresso que ainda não foram aprovadas está a tributação dos incentivos fiscais de ICMS, via IRPJ e CSLL, por meio da MP 1185. Segundo a previsão do governo, apenas esse texto teria o potencial de gerar uma arrecadação de R$ 137 bilhões em quatro anos.

“O governo pretende arrecadar com esse tema cerca de R$ 35 bilhões (por ano), e pode ser até um pouco mais do que isso, se conseguir segurar a pressão das empresas por desidratação do conteúdo da medida provisória, o que até agora o governo tem sido bem-sucedido. O tempo é curto e isso pode acabar sendo um fator que atrapalha nas negociações, favorecendo o lado das empresas, que estão pressionando por mudanças para reduzir o seu impacto nas contas”, explica Graner.

Há também em debate mudanças nas regras de pagamento de Juros sobre Capital Próprio (JCP) das companhias abertas, com limitações a dedução desses valores na apuração do IRPJ e CSLL, por meio do PL 4258/ 2023, cujo texto pode ser incorporado à MP 1185.

Apostas esportivas

Mais encaminhada está a tributação dos sites de apostas esportivas e dos rendimentos dos apostadores, já aprovado na Câmara e em tramitação no Senado, por meio do PL 3626/2023, e que o governo prevê uma arrecadação de até R$ 15 bilhões por ano.

“Ainda que eventualmente alguns cálculos do governo possam ser superestimados, é evidente que, se aprovadas, essas medidas aumentarão a arrecadação. Isso porque se trata de incidência sobre atividades e operações antes não tributadas que contavam com benefícios, e que agora passaram a se sujeitar às mesmas alíquotas das operações de mesma natureza”, afirma Alexandre Tortato, advogado e mestre em direito tributário pela FGV/SP.

Já as medidas que ainda dependem de discussão e aprovação do Congresso, mas que só devem entrar em discussão no ano que vem, estão a incidência do imposto de importação sobre compras de até US$ 50,00 em plataformas internacionais, que promete até R$ 8 bilhões anuais de arrecadação, segundo a Fazenda.

Vinícius Pereira, repórter freelancer do JOTA

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