Economista-chefe do Itaú diz que cortar juros agora ‘seria muito arriscado, com boa chance de dar errado’

Mario Mesquita apontou também que 'credit crunch' no Brasil é risco a se monitorar

Fachada da sede do Banco Central, em Brasília (DF). Foto: Adriano Machado/Reuters
Fachada da sede do Banco Central, em Brasília (DF). Foto: Adriano Machado/Reuters

Uma possível mudança de rota na trajetória de alta dos juros nos Estados Unidos não muda, por ora, o cenário para a Selic no Brasil, na visão do Itaú Unibanco. O banco projeta uma taxa básica de juros brasileira passando dos atuais 13,75% para 12,5% até o fim deste ano.

Em conversa com jornalistas, o economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, que também é colunista da Inteligência Financeira, observou que será preciso colocar eventuais mudanças nos juros lá fora nos modelos.

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“Tem que ver os efeitos aqui. Se o Fed para antes [o ciclo de alta de juros] ou não sobe tanto quanto esperava, tem que ver o que implica para o real, inflação. Mas não é suficiente para mudar”, disse.

Mesquita também afirmou “que cortar taxa de juros agora, no curto prazo, seria muito arriscado, com boa chance de dar errado”. “Não vejo tanto espaço assim”, apontou.

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Ele ponderou que o cenário pode mudar, porque o ambiente global parece estar virando, principalmente com a incerteza em relação ao sistema financeiro nos Estados Unidos.

“Essas coisas podem se alterar. Mas a experiência mostra que lá atrás, em 2011, quando o BC buscou se antecipar a um possível choque para defender a atividade econômica, colocando em segundo plano a meta de inflação, deu bastante errado”, lembrou Mesquita, acrescentando acreditar que o BC “tem alguma memória institucional daquele erro”.

Risco de crédito no Brasil

Dados agregados para o Brasil não mostram, até agora, um cenário de “credit crunch” (rápida e intensa restrição no mercado de crédito), mas esse é um risco que precisa ser monitorado, segundo o economista-chefe do Itaú.

“É um risco a se monitorar, está todo mundo olhando, nós, o Banco Central, vocês”, disse Mario Mesquita aos jornalistas.

Quando o BC aperta a política monetária, parte do mecanismo de transmissão natural para a inflação passa pela desaceleração do crédito, lembrou Mesquita. Tanto que o Itaú espera que o crescimento do crédito passe de 14% em 2022 para 8% neste ano.

Se episódios recentes envolvendo grandes varejistas intensificarem essa transmissão e houver uma desaceleração mais intensa, porém, “aí é algo que pode mudar a perspectiva para inflação”, afirmou.

“O BC é uma máquina de imputar novas informações e ir revendo cenários. Por enquanto, é mais um risco [de credit crunch] do que algo concreto”, reforçou.

Esse efeito de desaceleração foi mais intenso no financiamento das empresas via mercado de capitais, que sofreu mais com o “episódio Americanas”, observou Mesquita.

O caso da varejista e seus desdobramentos levaram a um aumento do “spread” das debêntures, encarecimento do financiamento no mercado de capitais e saída de recursos de fundos de renda fixa, mencionou Mesquita.

Ele ponderou, no entanto, que o tamanho desses fundos continua “muito grande” e que a “trava” no mercado parece começar a melhorar na ponta.

Além disso, disse, quando o mercado de capitais “trava”, as empresas podem passar a recorrer mais a bancos. Segundo Mesquita, é preciso monitorar “se bancos não vão passar a assumir o financiamento de certas empresas”.

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