Economista-chefe do Itaú vê inflação ‘qualitativa’ e projeta cenário mais positivo

Mário Mesquita citou também que elevar meta de inflação só gera mais inflação

O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita. Foto: Carol Carquejeiro/Valor
O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita. Foto: Carol Carquejeiro/Valor

O Brasil começa a experimentar uma “inflação qualitativa”, de acordo com o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, que justifica o termo explicando que, ao observar o comportamento dos preços livres, esses estão em estabilidade, enquanto os preços administrados tendem a subir e puxar o índice.

“Estamos esperando uma reoneração dos combustíveis, aumento em tarifas de energia, transmissão, e isso pesa na inflação, mas são preços controlados, os livres, que são a maioria absoluta das mercadorias e serviços, estão em trajetória de queda ou mesmo em estabilidade”, afirmou.

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Mesquita apontou, no Brasil, que o IPCA de 2023 tem um ligeiro viés de alta, puxado pelos componentes de combustíveis, aumento no emplacamento de veículos (custos de licenciamento e IPVA), planos de saúde, e o câmbio, que pode ser um fator de alívio ou de pressão.

PIB do mundo

O PIB mundial tem em 2023 um viés de crescimento um pouco maior, dado dois eventos muito importantes que observamos, um deles é a postura do governo chinês sobre a política contra Covid, convivendo com o vírus, o que permite uma retomada mais intensa e reduzindo os gargalos de cadeia produtiva.

O outro fator é a Europa, ainda que com a guerra da Ucrânia, conseguiu melhorar economicamente, e com o verão chegando, o turismo vai aquecer ainda mais a atividade.

Meta de inflação maior gera inflação maior

“A consequência mais óbvia de uma meta de inflação mais alta é uma taxa de inflação mais alta”, afirmou Mesquita, reforçando não haver evidências que alterar meta de inflação facilite vida do Banco Central na tentativa de controlar o aumento dos preços.

Segundo ele, elevar expectativas no curto prazo tende a refletir choques, cujos efeitos se dissipam ao longo do tempo. Subir as expectativas em horizontes mais longos é mais preocupante, porque evidencia alguma erosão da credibilidade do regime – a regra de bolso, dos banqueiros centrais, para medir ancoragem, é monitorar como se comportam as expectativas, em relação à meta, no horizonte dois anos à frente.

“Realizar mudança de meta de inflação é complicado para BC, pois quando se muda expectativa, muda ela no curto e no longo prazo. No entanto, o importante é que a definição seja rápida, para que se alinhe as expectativas rapidamente” , disse.

Há atualmente um debate sobre o futuro da trajetória de metas para a inflação, atualmente em 3,25% para 2023, e 3,0% para 2024 e 2025. A reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) de junho deverá fixar uma meta para 2026, podendo também alterar as metas já estabelecidas. Vamos examinar aqui argumentos pela elevação das metas.

“Eu fico na torcida pelo menor ruído pq o ruído acaba afetando a curva de juros”, completou.

Expectativas com governo

Perguntado sobre a intenção do governo de forçar um corte na taxa de juros, Mesquita afirmou entender que as preocupações das autoridades (com recessão) são legítimas.

“É bom que se preocupe, recessão é ruim para todo mundo, mas não é o que nós projetamos, nós esperamos inclusive um PIB positivo com viés de aceleração”, completou.

O economista afirmou entender que o ministro Fernando Haddad está trabalhando nas medidas necessárias, como na formulação do pacote fiscal e do arcabouço, a fim de reduzir as incertezas do mercado.

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