É hora de investir em dólar?
A moeda ultrapassou a marca de R$ 5,60 e acumula alta de quase 9% em 2021. Afinal, o dólar está caro? Qual será o limite para o câmbio? Veja o que dizem especialistas ouvidos pela IF
A alta do dólar voltou às manchetes nos últimos dias com a preocupação fiscal do mercado em torno do Auxílio Brasil. Na semana passada, a moeda acumulou uma alta de 3,2%, chegando a ser cotada acima de R$ 5,75 no momento de maior estresse do pregão. Até agora, comprar dólares só era indicado para quem tinha planos de viajar ao exterior ou compromissos a quitar em outro país, mas essa elevação está levantando a pergunta: é hora de investir na moeda? Ou a oportunidade já passou?
A ideia do investimento em dólar parece ainda mais atraente em um momento em que a Bolsa está em baixa e a inflação, em alta. Em setembro, a divisa foi o único ativo dentre os mais tradicionais que teve uma valorização superior à inflação no período, com alta de 5,7%.
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Especialistas, porém, advertem que o câmbio já está muito alto e que sua trajetória é incerta. Comprar dólar é ainda mais arriscado agora. Por outro lado, as eleições presidenciais de 2022 despertam cautela nos investidores, que veem na moeda um porto seguro contra a piora no cenário econômico brasileiro.
“O mercado ainda não opera as pesquisas eleitorais, mas, historicamente, as eleições não necessariamente afetam o preço [dos ativos]. O que eles fazem é aumentar a volatilidade”, diz Victor Scalet, estrategista macro da corretora XP.
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Segundo o especialista, agentes do mercado ficam de olho no cenário fiscal que se desenha para 2023 durante as eleições, e é isso que causa uma maior volatilidade dos ativos conforme as definições de candidatos e intenções de voto. Mesmo com a incerteza quanto à próxima presidência, a XP projeta um câmbio próximo do atual para o fim deste ano e em 2022: R$ 5,70. “Se as condições fiscais se deteriorarem mais do que a gente imagina, o câmbio pode ir a R$ 6″, diz Scalet.
Vanei Nagem, responsável pela área de câmbio da Terra Investimentos, vê a possibilidade de a moeda ir a R$ 6 já em novembro se o risco fiscal e político não se apaziguar.
“Temos inflação global e um governo descontrolado em política econômica. O pacote risco fiscal, alto desemprego e baixa produção industrial mostra que há espaço para a moeda subir”, afirma Nagem.
Apesar do cenário desfavorável, ele vê o atual patamar da moeda como exagerado e não recomenda a compra. “O dólar está muito caro, mas ele a R$ 5,20 também é caro. Ele teria que estar entre R$ 4,80 e R$ 5”.
Com base no cenário econômico e na balança comercial e financeira do Brasil, economistas calculam qual seria uma taxa de câmbio justa em termos econômicos. Esta taxa, como aponta Vanei, estaria bem abaixo dos atuais R$ 5,63.
“A taxa de câmbio é a variável de escape no arcabouço macroeconômico brasileiro. Quando algo de errado ocorre por aqui, como agora, o investidor estrangeiro tende a ir embora do país, elevando a demanda por dólar”, explica Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama Investimentos.
Apesar das recentes altas da moeda, a Órama continua projetando o dólar entre R$ 5,30 e 5,40 para o final de 2021, dada a alta na Selic (taxa básica de juros), que estima estar a 9,25% em fevereiro de 2022.
Quanto mais altos os juros, mais o dinheiro rende no Brasil, o que torna uma operação conhecida como carry trade mais rentável. Nela, se pega um empréstimo em um país de juro baixo, como os Estados Unidos, e o investe em um país de juros altos, como o Brasil. Com isso, mais dólares entram no nosso país, o que reduz a taxa de câmbio.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno, projeta dois cenários. No primeiro, mais pessimista, há a piora da saúde fiscal brasileiro e a tendência do câmbio no médio a longo prazo é de alta. No segundo, no qual ele aposta, há mais clareza quanto ao rumo da economia, passada a turbulência envolvendo o Auxílio Brasil, e a moeda se estabilizaria entre R$ 5,30 e R$ 5,60.
Os especialistas lembram que o dólar é um dos componentes da economia mais difíceis de prever e que o cenário é desafiador. A decisão de comprar ou não a moeda deve ser baseada nas expectativas de cada investidor para a economia nos próximos meses e anos e levar em conta o seu perfil de risco.
Apesar de oferecer proteção contra o chamado “risco Brasil”, por geralmente ter um desempenho contrário dos ativos locais, o dólar é um ativo de renda variável de alto risco.
Como investir em dólar?
Existem diversas maneira de se investir em dólar no Brasil, tanto direta, quanto indiretamente. Veja a seguir as principais formas:
Moeda em espécie e cartão de débito pré-pago
São as opções sugeridas a quem vai viajar para o exterior. É impossível acertar o ponto em que o dólar muda de trajetória. Por isso, a melhor estratégia nessas duas modalidades, segundo os especialistas, é ir comprando aos poucos. No final, consegue-se um preço médio, não muito alto nem muito baixo.
Conta digital internacional
Algumas instituições financeiras brasileiras estão começando a oferecer contas digitais em dólar (ou euro), com cartão de débito para compras e saques no exterior. O cliente precisa abrir uma conta comum nesse banco, depositar seu dinheiro, habilitar a conta internacional e transferir os recursos. A grande vantagem é que o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) cobrado no momento da conversão é menor do que o que incide sobre o cartão de crédito e o cartão pré-pago: 1,1% contra 6,8%.
Contratos futuros na Bolsa
Por meio de sua corretora, é possível comprar contratos futuros de dólar conhecidos como mini dólar (WDO). Cada minicontrato corresponde a US$ 10 mil e tem uma determinada data de vencimento. Este ativo é extremamente complexo e indicado apenas para quem tem um conhecimento amplo do mercado financeiro.
Fundos cambiais
Fundos cambiais são aqueles que investem pelo menos 80% de seu patrimônio em ativos atrelados a moedas. A maioria aposta no dólar. Para descobrir qual o mais indicado para cada investidor, é preciso entender as características do fundo.
Fundos multimercado
Existem diversos fundos multimercado que investem em dólar. Para encontrá-los, é preciso ler a lâmina dos fundos e identificar aqueles que operam moedas.
ETFs internacionais
São vários os ETFs (fundos de índice) internacionais na Bolsa de Valores brasileira. Além de acompanhar a variação do índice estrangeiro, eles também replicam a variação do dólar.
Ações
Por meio de BDRs (recibos depositários de ações), também é possível ter uma exposição à moeda americana. Como estes papéis refletem o preço de ações estrangeiras, em dólar, a cotação no Brasil, em reais, embute a variação cambial.
Além disso, ações de empresas brasileiras também podem refletir o sobe e desce do dólar. É o caso das exportadoras, como Vale, Suzano e Klabin.