‘Combo Lula’ e ‘combo Bolsonaro’: As ações preferidas dos gestores dependendo de quem ganhar as eleições

Gestores de ações começam a radiografar que papéis podem se beneficiar da vitória dos candidatos que lideram as pesquisas

Foto: Austin Distel/Unsplash
Foto: Austin Distel/Unsplash

Com a campanha eleitoral oficialmente na rua e a bolsa brasileira depreciada, os gestores de ações começam a radiografar que papéis podem se beneficiar da vitória dos candidatos que lideram as pesquisas, qual seria o “combo Lula” e qual o “combo Bolsonaro”, nas palavras de Leonardo Morales, da SVN Gestão. Pesam que tipo de risco compensa correr para capturar retornos alguns capítulos à frente da corrida presidencial e avaliam que precauções tomar.

Em agosto, o Ibovespa já sobe 10,3%, e voltou a ficar positivo no ano, com alta de 8,6%. No mês, chama a atenção do índice de “small caps”, de ações de menor capitalização na B3, com ganhos de 13,3%.

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Além da recente alta das bolsas dos Estados Unidos (apesar do resultado desta semana ter quebrado a sequencia de altas em NY, veja link abaixo), o que tem ajudado neste rali de agosto é a recuperação das empresas de consumo, em resposta aos estímulos pré-eleitorais como o aumento do Auxílio Brasil, o bolsa caminhoneiro e o dinheiro para motoristas de aplicativos, lista Ricardo Almeida, sócio-fundador e CEO da Tower Three. “O presidente Jair Bolsonaro precisa conquistar o eleitorado de baixa renda e vem com esse estímulo para a faixa da população muito afetada pela inflação.”

A sua avaliação é que, se Bolsonaro vencer a disputa contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas, as benesses vão continuar. E se Lula ganhar, ele não vê disposição do petista para retirar estímulos.

Com a inflação dando sinais de alívio e mais dinheiro no bolso da população, a decisão do gestor foi sair de ações ligadas à cadeia de commodities, principalmente Vale, e migrar para consumo doméstico. Nomes como Arezzo, Lojas Americanas, Grupo Mateus, Assaí e Carrefour passaram a compor a carteira. A Tower Three ainda mantém Petrobras e bancos no portfólio, mas numa proporção menor.

A questão mais importante para uma onda de valorização consistente na bolsa é a evolução da inflação, no mundo e no Brasil, com menor peso do processo eleitoral, segundo Luis Felipe Amaral, sócio-fundador da Equitas. Mas isso não quer dizer que o resultado nas urnas seja indiferente num cenário de Bolsonaro reeleito ou de retorno do ex-presidente Lula. “O que estou ouvindo dos candidatos leva para lugares diferentes para a economia e para a bolsa”, afirma.

Pontos do discurso do petista como a revogação da reforma trabalhista, interferência nos preços dos combustíveis e a volta do uso dos bancos estatais para fomentar a economia são considerados controversos. “O que há na fala de Lula, e que está arraigada no PT nos temas relativos à economia, é uma profunda descrença dos mecanismos de formação de preços como o equilíbrio entre oferta e demanda e que é o mercado livre que gera prosperidade, riqueza e distribuição de renda”, diz Amaral.

Se o Estado tomar o papel da iniciativa privada para induzir investimentos, o gestor diz que a dinâmica de expansão econômica ficará pior. “O equilíbrio de crescimento é maior e melhor em mecanismos de mercado do que quando o BNDES é o grande fornecedor de funding de longo prazo e o Banco do Brasil dá crédito subsidiado”, diz Amaral. Ele cita que, no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, metade do crédito no Brasil chegou a ser fornecido por bancos públicos e o resto da economia convivia com juros altíssimos. “O resultado é crescimento baixo, alocação de capital terrível e queda dos investimentos.”

Amaral discorda da tese de que um governo Lula poderia favorecer companhias que servem a baixa renda porque não há o mesmo espaço nas contas públicas do primeiro mandato do ex-presidente. “O nível dos programas de transferência [de renda] é parecido num governo e no outro, mas não tem espaço fiscal para fazer. Quem está no jogo da baixa renda vai se beneficiar se a economia crescer, trazer mais consumidores para o mercado e ser mais inclusiva”, afirma. “Vejo mais chance de isso acontecer na condução da política econômica atual. Se acreditar no discurso de Lula, é de se esperar um câmbio mais alto e neste caso são as exportadoras de commodities que se sairiam bem.”

Na gestão dos fundos de ações da Equitas, as escolhas têm se baseado na visão de que a bolsa está muito barata e há margem de segurança para investir. Petrobras é um papel que carrega há muito tempo, mas parte da posição foi substituída por opções, calibrando o tamanho para limitar perdas caso haja uma reação com Lula de volta ao Planalto.

Amaral cita que, mesmo com todo o falatório de Bolsonaro e as trocas no comando da estatal, na prática a empresa trabalhou orientada por um conselho de administração independente, que conseguiu preservar a política de preços de combustíveis e o plano de desinvestimentos, dando foco a áreas de maior rentabilidade.

Estatais como Petrobras e Banco do Brasil apresentaram “resultados espetaculares” e mesmo com o risco eleição o fluxo de caixa e os dividendos compensam ter ações das empresas, diz Morales, sócio e diretor da SVN. Ele afirma que, apesar do ruído em torno dos combustíveis, o governo conseguiu entregar resultados positivos, como a reforma da Previdência, a independência do Banco Central e o marco do saneamento.

Lula eleito poderia beneficiar ações de empresas do setor de educação, pelo histórico apoio ao financiamento estudantil. Shopping centers voltados para a baixa renda, a exemplo da rede Aliansce Sonae, também teriam potencial, além de companhias que pudessem ganhar tração com o suporte do BNDES. Já o discurso para “enquadrar” o BB como banco público Morales diz que há quem ache que se trata de narrativa pré-eleitoral e quem vislumbre uma mão mais pesada na instituição.

A gestão da SVN tem buscado um portfólio equilibrado e após as correções recentes na bolsa aproveitou para montar proteções para outubro. Morales diz ainda gostar de papéis ligados a commodities, mas depois da valorização de Petrobras migrou parte para outras do setor. Mantém também ativos do setor elétrico que tendem a ir bem não importa quem assuma o Planalto em 2023.

A defesa de Lula em discurso de campanha de que o BB não deveria ter lucros similares aos dos bancos privados coloca as ações da instituição na berlinda, enquanto os papéis do Grupo Mateus poderiam ganhar pelo foco de atuação no Nordeste pelo impacto dos programas sociais, diz João Braga, sócio-fundador da Encore.

O gestor diz ter um viés otimista, não ignora a eleição, mas avalia que as ações brasileiras estão baratas independentemente de quem ganhar o voto do eleitor. Na escolha dos ativos tem ponderado a carteira 50% a 50% para um cenário Lula ou Bolsonaro. “Investir é um painel de avião com um monte instrumento para olhar na hora de levantar voo, de de pousar. Olhar muito para a eleição é voar olhando só para um indicador, uma luzinha e há vários outros fatores.”

Ele lembra que, a exemplo de 2002, quando muita gente migrou do Ibovespa para o S&P 500 por temer um governo Lula, o índice em dólar, medido pelo EWZ, o ETF de ações brasileiras negociadas lá fora, ganhou 1.100% a mais do que o referencial americano. “Por que o Lula foi bom? Não, por vários outros motivos. Olhar só para eleição não é uma decisão clara num ciclo de commodities”, alerta Braga.

Leonardo Rufino, da Mantaro Capital, diz ver os pós-outubro com otimismo porque a eleição terá passado. “Hoje há queda indiscriminada de muita empresa de muita qualidade e que consegue conduzir seus negócios de maneira relativamente controlada independentemente do cenário macro.” Ele diz ter posições em companhias com perfil caixa elevado e também em estatais.

Rufino diz que Bolsonaro, mesmo com muita polêmica, deu sequência a reformas do governo Temer em estatais, enquanto Lula parece emular políticas como as de Dilma. “O mercado vê um cenário mais negativo para estatais num governo Lula do que deve ser na realidade.”

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