Grandes bancos lucram R$ 26 bi no 2º tri; o que esperar agora?

Crédito impulsionou resultados entre abril e junho

Com o impulso do crédito, os quatro maiores bancos de capital aberto do país viram ao mesmo tempo o lucro e o risco crescer no segundo trimestre deste ano. Juntos, Itaú Unibanco, Banco do Brasil (BB), Bradesco e Santander lucraram R$ 26,6 bilhões entre abril e junho em termos recorrentes, um aumento de 20,6% em relação ao mesmo período do ano passado.

O motor desse crescimento foi o crédito, que continua forte e tem superado as expectativas do próprio setor, na esteira da recuperação (ainda que claudicante) da atividade econômica. A carteira de empréstimos e financiamentos dos quatro grandes avançou 16,8% em 12 meses, para R$ 3,4 trilhões. O volume maior e a expansão de linhas relacionadas ao consumo contribuíram para um crescimento de 10,5% na margem financeira bruta, que somou R$ 68,83 bilhões.

O crescimento seria ainda maior se não fosse o desempenho da margem com o mercado, que reflete operações de tesouraria e gestão de balanço. O indicador chegou a ficar negativo em alguns bancos com a rápida escalada dos juros.

Mas, se carteira de crédito e spreads estão subindo, nem tudo é positivo. As despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) subiram 49,8%, para R$ 21,53 bilhões. A constituição dessas provisões em parte acompanha o crescimento do crédito, mas também sinaliza que os bancos estão vendo um aumento do risco com a inadimplência em alta, em um ambiente de inflação e juros elevados.

A grande incógnita é saber até onde a inadimplência subirá, depois de já ter voltado aos patamares pré-pandemia na maioria das instituições. O combo de inflação, juros e eleição torna muito difícil projetar o quanto o crédito pode se expandir no ano que vem, mas a expectativa é de desaceleração da economia.

“Vemos um cenário de inadimplência subindo, é uma questão do mercado como um todo”, afirmou nesta quinta-feira o vice-presidente de gestão financeira do BB, Ricardo Forni.

No geral, a expectativa dos bancos é que a inadimplência ainda suba pelos próximos meses, depois se estabilize. O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr., afirmou que os índices de calotes de curto prazo (atrasos de 15 a 90 dias) dão a ideia “do que pode vir pela frente”. De março para junho, o indicador recuou de 3,6% para 3,5% na instituição da Cidade de Deus.

Na outra vertical, de receitas de tarifas, os bancos também têm apresentado recuperação, mas ela é insuficiente para cobrir a inflação. Nessa linha, a receita combinada dos quatro bancos somou R$ 32,204 bilhões no segundo trimestre, alta de 5,4% na comparação anual. O IPCA acumulado em 12 meses até junho foi de 11,89%.

As instituições vêm absorvendo e compensando perda de arrecadação em conta corrente — com o Pix — com a melhora em cartões, seguros (com menos impacto da covid), consórcios, administração de fundos e outros.

Se a receita cresceu abaixo da inflação, os bancos apertaram o cinto para cortar gastos, por outro lado. As despesas operacionais cresceram apenas 0,5% no segundo trimestre de 2022 quando comparado com igual intervalo de 2021, o que equivale a um corte em termos reais. As instituições têm investindo tecnologia, ao mesmo tempo em que reduzem gastos com agências e tentam controlar as despesas com pessoal – considerando que a categoria dos bancários teve reajuste de 10,97% no ano passado e devem conseguir algo parecido este ano.