Campos Neto diz que BC não pode ‘baixar a guarda’ mesmo com queda da inflação

Presidente da autoridade monetária afirmou que 'ainda não é momento para comemorar'

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil (Foto: Raphael Ribeiro/BCB)
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil (Foto: Raphael Ribeiro/BCB)

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, reforçou nesta sexta-feira (26) que houve melhora no processo inflacionário, mas afirmou que a autoridade monetária “não pode baixar a guarda”.

“Muito do que a gente fez [de política monetária] ainda não tem efeito na economia, levamos em consideração. Mas precisamos passar a mensagem de que estamos vigilantes”, disse em evento promovido pela 1618 Investimentos.

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Campos repetiu que ainda não é momento para comemorar. “A inflação de alimentos veio acima do esperado [por exemplo], mas a gente entende que o Brasil se adiantou [no aperto monetário]”, afirmou.

O presidente do BC destacou que as expectativas de mercado para a inflação deste ano estão caindo. “A gente acha que [as projeções de] 2023 e 2024 vão começar a cair em algum momento”, disse.

Campos Neto afirmou ainda que o mercado tem revisado o crescimento econômico do Brasil para cima, mas que é preciso “olhar a continuidade desse processo”.

“Em termos de crescimento mundial, vemos claramente desaceleração. Temos mudança estrutural no emprego e o Brasil é destaque, caiu cinco pontos [no desemprego]”, disse. “Vemos efeito na mão de obra das reformas que foram feitas ao longo do tempo, efeitos também na atividade”, acrescentou.

“Grande surpresa nossa foi emprego. Em algum momento vai ficar em torno de 8,5% [de desemprego]”, projetou. Segundo Campos, a inflação global “mudou de forma drástica”, inclusive em países que historicamente mantêm o índice baixo.

“Metas ajustadas”

O presidente do BC afirmou que a autoridade monetária preferiu estender a janela de atuação no lugar de fazer “metas ajustadas”, ao dar ênfase à inflação acumulada até o primeiro trimestre de 2024 em vez do ano-calendário fechado na última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom).

“A gente estendeu um pouco a janela [de atuação para o primeiro trimestre de 2024]. Entendemos que isso era melhor que fazer meta ajustada, porque tínhamos certeza sobre quando ia voltar [o efeito das medidas de corte de impostos na inflação]”, disse.

Sobre a recente melhora nas expectativas de inflação, ele afirmou que “parte do crescimento, que eu pessoalmente acho que é pequena, foi estimulada por medidas do governo. E existe a percepção de que essas medidas serão retiradas”.

Sobre esses cortes de impostos promovidos recentemente pelo governo, ele afirmou que “a reação do BC é se adaptar a essa medida”. “Se você tira parte da inflação do ano que não está no horizonte e adiciona no ano que está no horizonte, a reação do BC é se adaptar a essa medida, a gente ajusta a atuação”, completou.
Campos ressaltou ainda que parte do aperto monetário só será refletido na economia no próximo ano. “Quando você aumenta os juros, tem uma janela de atuação entre 12 e 18 meses”, ponderou. Além disso, ele ressaltou que a desaceleração do crescimento global deve influenciar os países emergentes.

Em relação à política monetária global, ele destacou que “acha que o mundo desenvolvido ainda tem uma tarefa de subida de juros pela frente”.
Sobre o Pix, o presidente do BC disse estar “em processo de internacionalização”. “Conversamos com outros bancos centrais e eles acham que o modelo é bom”, contou. Ele destacou que o sistema de pagamento instantâneo brasileiro custou R$ 5 milhões. “É um custo baixo para o tamanho da inovação”, disse.

Além disso, Campos afirmou que a autoridade monetária deve anunciar medidas para o mercado de carbono em breve.

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