Campos Neto dá pistas de que patamar de juros deve se prolongar para levar inflação à meta

Presidente do Banco Central, Campos Neto diz que cenário ainda é de incerteza elevada, o que requer uma persistência do combate à inflação alta

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto — Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto — Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a apontar que a inflação cheia no Brasil mostrou uma melhora incipiente, mas reforçou que a mensagem de que a autoridade monetária “vai persistir”, ao enfatizar a importância de levar a inflação de volta para a meta.

“A parte do IPC [índice de preços ao consumidor] cheio, a gente tem visto no Brasil uma melhora incipiente e qualitativa. Existe toda uma preocupação hoje de passar essa mensagem de que a gente vai persistir, de que é importante trazer a inflação para a meta, que esse é um ganho social. Inflação alta distorce preços na economia, atrapalha investimentos, atrapalha investimentos estrangeiros, a formação de capital no longo prazo”, disse ao participar hoje de evento da gestora BlackRock.

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Durante sua apresentação, o dirigente repetiu que a autoridade monetária espera uma desaceleração da atividade econômica em 2023, após um desempenho positivo neste ano, e destacou que parte dessa desaceleração vem do exterior e a outra parte, do aperto monetário já feito.

Sobre a inflação, Campos repetiu que os números no Brasil estão abaixo da média mundial e ressaltou que a inflação ao consumidor teve uma melhora qualitativa, mas que o cenário ainda é de incerteza elevada, o que requer uma persistência do combate à inflação alta.

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De acordo com o dirigente, a inflação na América Latina reage um pouco melhor, enquanto a África tem tido um efeito inflacionário recente e a Ásia tem sentido mais o efeito do câmbio nos preços.

Reformas ajudaram

Campos apontou, ainda, que as reformas no Brasil tiveram um efeito na oferta e que a redução do crédito subsidiado ajudou a reduzir a taxa neutra de juros. “Voltar para um mundo de crédito subsidiado vai elevar o juro neutro”, alertou o dirigente.

Os erros nas projeções e nas expectativas do mercado durante a pandemia geraram uma alteração relevante nas expectativas dos bancos centrais de mercados avançados, que, agora, estão em uma ponta que indica a preferência por “fazer demais” em relação ao aperto das condições monetárias.

“O mercado precifica que todo mundo foi de ‘não fazer de menos’ para o lado de ‘fazer demais’ e depois, eventualmente, ter que cortar [juros], o que significa que provavelmente é isso que irá acontecer”, observou, ao analisar o comportamento dos mercados e o pico dos juros no fim do ciclo precificado nas curvas.

O dirigente apontou que os bancos centrais reconheceram que erraram muito na modelagem e na precificação da inflação e disse que isso pode ter acontecido devido ao ambiente nublado, com juros baixos e alavancagem excessiva, em um período marcado por poucas reformas nos países avançados.

Exemplo do Reino Unido

Campos voltou a lembrar do estresse visto nos mercados de juros do Reino Unido, ao apontar para os riscos fiscais.

“O governo brasileiro gastou muito mais? Não, gastou até um pouco menos do que a média”, afirmou Campos durante sua apresentação. De acordo com ele, alguns países têm rolado medidas fiscais para a frente, enquanto outros têm aumentado.

O dirigente lembrou que o Brasil não adotou medidas de intervenção em preços. “O preço de mercado é um sinal importante para o capex e para o desenvolvimento da indústria”, defendeu Campos.

Ele reforçou que o Banco Central do Brasil saiu na frente na reação às pressões inflacionárias no começo da pandemia, diante do fato de que o país presenciou processos inflacionários recentes no passado. “A gente teve uma interpretação, desde o começo, de que a injeção de recursos geraria pressão de demanda”, afirmou Campos.

Ele lembrou, ainda, que o Brasil estava mais longe do que as estimativas de taxa neutra de juros na época e recordou que a primeira medida de injeção de liquidez feita pela autoridade monetária foi em março de 2020, antes mesmo de ser decretada a pandemia.

Mudança para o “modo crescimento”

Ao olhar para a frente, o dirigente acredita que, talvez, os mercados passem de um período de mudança de preocupação do “modo inflação” para o “modo crescimento”. “E esse binômio de inflação não subindo, mas ainda persistente, e de crescimento mais baixo, com surpresas negativas”, afirmou Campos.

Autonomia do BC

Campos Neto disse que é importante para o processo de autonomia da autarquia que os dirigentes cumpram seus mandatos até o fim.

“É muito importante que os dirigentes [do BC] entendam que eles têm um mandato e que têm que cumprir o mandato para exercer autonomia. Isso se estende a mim também”, disse.

“É importante que eu fique esses dois anos para mostrar que todo o esforço que foi feito, o apoio das pessoas, do Congresso e do STF a esse movimento de ganho institucional sirva para momentos de transição de governo, esse é o ponto mais relevante”, complementou.

Ele afirma ainda que a independência da instituição é muito recente e não é completa, mas que deve ser testada agora, com a transição de governo. “É a primeira vez que passamos para um governo diferente”, destacou.

Real

Sobre conversibilidade do real, Campos disse que a possibilidade de ter conta em outras moedas é mais uma consequência do que uma causa das mudanças recentes na legislação cambial.

“A pergunta que sempre fazem é ‘isso significa que a moeda vai ser conversível? Vou poder ter conta em outras moedas?’ A gente acha que isso é muito mais a consequência do que a causa. O que a gente quer fazer no fim das contas é transformar a moeda em um instrumento menos burocrático do ponto de ista internacional”, pontuou.

“A visão principal era que em algum momento teríamos um Pix internacional e que com a legislação [cambial] antiga não seria possível. Mas depois a gente começou a ver que vai muito além disso, vai no sentido de melhorar o custo de transação de importação e exportação, diminuir a burocracia, o custo de observância na parte regulatória, temos feito muitas mudanças”, complementou.

O presidente da autoridade monetária afirmou que a burocracia no setor ainda está “longe do ideal” e que espera “trazer essa regulação [cambial] cada vez mais para dentro do BC”.

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