Análise: Mercado questiona estratégia do Copom de juros altos por muito tempo

O que faltou dizer, segundo notaram vários economistas do mercado financeiro, é como ficaria a inflação em 2024

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil (Foto: Raphael Ribeiro/BCB)
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil (Foto: Raphael Ribeiro/BCB)

Os analistas do mercado financeiro estão questionando a coerência da estratégia adotada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que troca uma alta menos forte de juros agora por manter uma Selic elevada por mais tempo.

Uma projeção de inflação alternativa divulgada pelo diretor de política monetária do BC, Diego Guillen, mostra que é possível baixar a inflação de 2023 em 0,3 ponto percentual se os juros ficarem estáveis nos atuais 13,25% ao ano ao longo do próximo ano inteiro.

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O que faltou dizer, segundo notaram vários economistas do mercado financeiro, é como ficaria a inflação no ano seguinte, 2024, se o Banco Central de fato entregar a sinalização de manter os juros em 13,25% ao ano ao longo de todo o ano que vem.

Questionado na coletiva do Relatório de Inflação, Guillen reconheceu que, com o passar do tempo e com a queda da inflação esperada, o impacto desses juros altos vai ficando cada vez mais poderoso. O diretor do BC evitou fazer os cálculos, alegando que 2024 está fora do horizonte atual de política monetária.

Mas não é preciso fazer as contas exatas para perceber que o impacto vai se tornando imenso e que a inflação projetada pelo BC para 2024, atualmente em 2,7%, cairia ainda mais abaixo da meta definida para o ano, de 3%.

Aí está a inconsistência da estratégia anunciada pelo Banco Central. A promessa é deixar para depois o combate à inflação muito acima da meta em 2023, mantendo juros altos no ano que vem. Mas, quando 2023 chegar, o horizonte de política monetária já terá se deslocado para 2024. O Banco Central terá que cortar os juros para não deixar a inflação de 2024 ficar muito abaixo da meta.

Essa estratégia do BC só fica coerente em duas situações. Primeiro, o Banco Central deixa de entregar a prometida sinalização de juros bem altos ao longo de 2023, o que leva a uma inflação maior em 2023. Segunda situação, as projeções de inflação de 2024 se mostrarem subestimadas e, de fato, sejam necessários os juros mais altos ao longo do próximo ano.

Logo depois da entrevista do BC, uma interpretação muito popular no mercado foi de que o Banco Central simplesmente desistiu de buscar o centro da meta 2023. Sinalizou uma nova alta da Selic para agosto, para 13,5% ao ano ou 13,75% ao ano. Poderá subir mais ainda na reunião seguinte, se o cenário surpreender novamente para o lado negativo, ainda que seja improvável durante as eleições. Como nada disso é suficiente para cumprir a meta de 2023, promete deixar o juro mais alto no ano que vem, mas esse compromisso não é crível.

De fato, o Banco Central inclusive já adotou uma meta ajustada de inflação meio envergonhada, dizendo que a estratégia monetária desenhada é suficiente para colocar a inflação “ao redor da meta” em 2023. Quando questionado o que seria esse ao redor da meta, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse inicialmente que é um número menor do que 4%.

O argumento é que, dada a incerteza no cenário, uma diferença de 0,1 ou 0,2 ponto percentual em relação ao centro da meta não tem significado estatístico. A projeção de inflação do BC para 2023 é uma inflação de 4%. Com juros estáveis em 13,25% – se alguém acreditar que o BC vai entregar o que promete – a inflação cai para 3,7%. A distância em relação à meta, de 3,25%, é grande.

Poucos se convenceram com o argumento da incerteza para buscar um percentual “ao redor da meta”. Se fosse só a incerteza, a inflação poderia ficar também abaixo da meta. O recado é que o Banco Central busca um objetivo “pouco acima” do centro da meta. Campos Neto disse que esse “pouco acima” é um número abaixo de 4%.

Por Alex Ribeiro

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