Alpargatas fará aporte de R$ 2,7 bi na Rothy’s, dos EUA

Depois de sair de negócios como Mizuno e Osklen, a Alpargatas, dona da marca Havaianas, está indo às compras. A fabricante brasileira vai investir US$ 475 milhões, ou R$ 2,7 bilhões na conversão atual, para deter 49,9% do capital social da californiana Rothy’s, uma marca nativa digital de calçados sustentáveis.

Para um investimento desse porte e em uma empresa que opera em moeda forte como o dólar, a empresa deverá contar com mais recursos além do próprio caixa. Por isso, Funari diz que já está sendo estudada uma oferta de ações da companhia, ainda sem data, formato (restrita ou distribuição pública) ou volume definidos.

O investimento será feito em etapas. No aporte inicial, a Alpargatas pagará US$ 50 milhões por 6,4% do capital da Rothy’s. Após a aprovação da operação pelas autoridades antitruste americanas e até 31 de março de 2022, a companhia vai comprar outros 17,1% por US$ 150 milhões.

Para os primeiros US$ 50 milhões, pagos ontem, foram usados recursos do caixa da companhia. Ao fim do terceiro trimestre, a Alpargatas tinha R$ 698 milhões. O grupo ainda vai receber as parcelas pelos 60% da Osklen, vendidos em novembro por R$ 180 milhões, com adicional variável de R$ 60 milhões condicionado a metas.

Ainda no primeiro semestre de 2022, a empresa investirá outros US$ 275 milhões em outra etapa que compreenderá uma oferta e uma aquisição secundária de ações. Nessa operação, a companhia vai adquirir ações, opções e direitos de subscrição de acionistas que não são os vendedores principais. A meta é que a participação da brasileira chegue a 49,9%.Caso não chegue, os vendedores principais alienarão para a Alpargatas uma quantidade de ações necessárias para permitir que se atinja o percentual.

“Vamos investir US$ 200 milhões no negócio, para construir conhecimento de marca e expansão de varejo”, diz Funari. Os recursos devem ser aplicados na ampliação da escala global da operação, no fortalecimento da marca e em inovação. Considerando todas as etapas da transação, a Rothy’s passa a ser avaliada em US$ 1 bilhão.

Nos 12 meses terminados em novembro, a Rothy’s faturou US$ 140 milhões com a venda de mais de 5,5 milhões de pares de calçados, todos feitos com garrafas recicladas. Desde sua criação, em 2012, e do começo de sua operação no varejo, em 2016, foram utilizadas mais de 100 milhões de garrafas de água recicladas. Ainda não há previsão de vendas dos dos calçados da marca no Brasil.

Considerando o ano de início de vendas em escala, a receita da companhia teve uma taxa composta de crescimento anual superior a 50%. “Pelo menos 40% dos 2 milhões de clientes que acompanham a marca compram mais de um par ao ano”, diz Funari. Inicialmente no mercado de calçados femininos, hoje a companhia também produz calçados masculinos e acessórios.

Com quase metade do capital social da companhia, a Alpargatas vai ser a acionista majoritária da empresa. Os fundadores Stephen Hawthornthwaite e Roth Martin manterão parte relevante no capital social e seguirão na operação. “Nesse primeiro passo vamos ter as duas marcas [Havaianas e Rothy’s] com gestão independente, pois as duas têm grande potencial de crescimento”, afirma Funari. A Alpargatas terá quatro integrantes no conselho da Rothy’s, sendo Funari e Stacey Brown, membro independente do conselho da brasileira, dois desses conselheiros.

Com operação na América do Norte e na China, a Rothy’s mantém uma fábrica de 28 mil m2 na cidade chinesa de Dongguan. Para Funari, a operação pode ajudar a Alpargatas a tornar-se cada vez mais global. O mercado chinês, por exemplo, é um local onde a marca Havaianas ainda precisa de mais presença. “Recentemente fizemos dois movimentos estratégicos importantes para ampliar nossa participação global e nos tornarmos uma empresa digital first: a compra da Ioasys e agora a Rothy’s”, acrescenta.

Com a aquisição, a companhia deixa de ser “monomarca”, situação que Funari já havia afastado no evento feito com investidores na última semana. Agora, o executivo sinaliza que a companhia se concentrará em aquisições em setores complementares, de tecnologia, e não em novas marcas. “Vamos focar nas duas marcas no curto a médio prazo, pois elas têm grande potencial de crescimento.”