Dividendos da Petrobras (PETR4) podem baixar com reserva de remuneração, diz mercado
Para analistas, aprovação de 'reserva' de remuneração proposta pelo conselho da Petrobras pode levar a queda nos dividendos a partir de 2024
O mercado financeiro teme que a nova reserva de remuneração ao acionista a ser aprovada pelo conselho de administração da Petrobras (PETR3; PETR4) prejudique os dividendos da companhia.
Esse é um dos motivos, além da alteração no estatuto da petroleira para a indicação de conselheiros, para a queda de 6% nas ações ON e PN na segunda-feira (23), após a divulgação da ata indicando as mudanças.
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Analistas afirmam que existe falta de detalhes sobre a proposta da reserva que reduz chances de a estatal distribuir dividendos extraordinários ainda este ano.
Para nós, da Inteligência Financeira, eles citam que a companhia pode demorar para preencher o fundo, rebaixando os dividendos da Petrobras em 2024. Mas veem que essa mudança não deve afetar o próximo provento, referente ao terceiro trimestre.
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Mercado vê risco em ‘reserva’ de remuneração
A criação da reserva destinada a remunerar acionistas com dividendos, JCP e recompra de ações da Petrobras será submetida à aprovação de acionista da AGE (Assembleia Geral Extraordinária). A companhia, contudo, não informou a data do encontro.
Mas o mercado financeiro recebeu com pessimismo os sinais da ata. Em primeiro lugar, aumentou entre analistas entrevistados o temor de ingerência política na estatal. Além disso, a Faria Lima ligou o radar para uma possível queda nos dividendos da Petrobras no médio prazo.
A Petrobras tem como política de dividendos distribuir 45% do valor do fluxo de caixa livre apurado entre trimestres, caso a dívida bruta da empresa mantenha-se abaixo de R$ 65 bilhões.
Apesar de a diretoria ter enfatizado que a reserva só seria acionada após a distribuição de dividendos, a petroleira já pode assegurar o valor “sem a necessidade desse fundo”, aponta Felipe Pontes, sócio da L4 Capital.
“Não dá para dizer ao certo porque eles nem sequer divulgaram a ata da reunião do conselho”, diz Pontes. “Mas acredito que a criação dessa reserva possa ser um sinal para que paguem apenas o dividendo suficiente dentro da política de dividendos em vigência”, completa.
“O lado bom é que o dinheiro poderá ficar nesse ‘fundo’. Porém isso já é possível de se fazer com o que existe hoje. Por isso o lado ruim fica em destaque.”
Reserva pode reduzir dividendos da Petrobras (PETR3;PETR4)
De acordo com Bruno Benassi, especialista em ações da Monte Bravo, a ausência de definições acerca da reserva de remuneração chamaram a atenção. Ele explica que o mercado teme que o novo fundo vire um “motivo para a companhia diminuir o repasse de seus acionistas”.
“Ninguém sabe o tamanho dessa reserva, então durante a composição a Petrobras poderia reduzir o dividendo pago”, destaca Benassi.
Conforme a explicação de Gabriel Bassotto, analista-chefe de ações do Simpla Club, a falta de prazo também assusta o investidor.
“Não sabemos quantos meses a Petrobras vai precisar para encher a reserva com um valor sustentável conforme sua política de dividendos”, pontua. “Mas qualquer evento que venha a congelar dividendos no período por causa de uma reserva pode ter um impacto na distribuição”, prossegue.
Se a reserva for criada, devemos sentir os efeitos apenas em 2024.
Bruno Benassi, especialista em ações da Monte Bravo
Faz coro aos especialistas Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. Segundo ele, o impacto pode chegar ao acionista a “curto e médio prazos”.
As chances de a Petrobras distribuir o fluxo de caixa livre entre seus acionistas ainda neste ano — ou dividendo extraordinário — “saíram do radar” diz Bassotto. A Monte Bravo também reduziu as expectativas de distribuição superior à prevista no estatuto da companhia.
Entre a ingerência política e o viés de redução de dividendos, as ações da Petrobras (PETR3;PETR4) despencaram 6% na bolsa de valores na segunda-feira.
Próximo dividendo da Petrobras deve superar 2º trimestre
Outro lado do mercado prefere enxergar o copo meio cheio. Para esses analistas, os dividendos da Petrobras (PETR3;PETR4) não serão impactados caso a reserva proposta pelo conselho seja aprovada.
Frederico Nobre, head de análise da Warren, avalia que o maior impacto causado com a criação do fundo de remuneração seria no programa de recompra de ações, algo que “a Petrobras vem estudando como alternativa para remunerar acionistas”.
“A Petrobras vem pensando em outras formas de distribuição, como a recompra de ações e a reserva estatutária. Na minha visão, a nova regra vai afetar mais a recompra do que a distribuição de dividendos”, afirma Nobre.
Yallon Mazuti de Carvalho, analista-chefe da BOX Asset, diz que o mecanismo seria “basicamente um incremento de caixa”, e não teria impacto negativo nos proventos. Ele prevê que os dividendos da Petrobras devem ficar estáveis enquanto a ação não atingir o preço justo de R$ 42.
Eu acredito que os dividendos serão mantidos no atual patamar, mesmo com criação de uma reserva de remuneração.
Yallon Mazuti de Carvalho
Já de forma unânime, o mercado prevê que o próximo dividendo tende a superar o provento total de R$ 15 bi anunciado no segundo trimestre.
Isso porque a companhia vem surfando a maré de alta nos preços do petróleo, com a restrição de oferta da commodity no mercado movida pelas guerras da Ucrânia e de Israel. Ainda por cima, a empresa atingiu produção recorde de barris de petróleo no terceiro trimestre.
Seguindo o calendário da estatal, novos dividendos devem ser anunciados apenas em dezembro.
Ressaltando que a petroleira também chegou a maior produção de diesel desde 2013, João Lucas Tonello, analista da Bennforf Research, diz que o mercado “aguarda um resultado recorde” da Petrobras no terceiro trimestre.
A Petrobras divulga sua prévia operacional na quinta-feira (26), enquanto os resultados vão a público em 9 de novembro.