Será que desta vez Warren Buffett está errado?

Warren Buffett tem diminuído seus investimentos de forma significativa em um momento que o mercado parece estar promissor. Será mais um movimento genial de Buffett ou desta vez estará errado?

Warren Buffett é uma lenda viva do mercado de ações, com resultados absolutamente incríveis nas últimas 6 décadas. Foto: Rick Wilking/Reuters
Warren Buffett é uma lenda viva do mercado de ações, com resultados absolutamente incríveis nas últimas 6 décadas. Foto: Rick Wilking/Reuters

Warren Buffett é um sucesso inegável no mercado de ações. Mais do que isso, tornou-se uma verdadeira lenda, dada a incrível longevidade com retornos acima da média. De acordo com levantamento do The Wall Street Journal, desde 1965, a sua empresa Berkshire Hathaway obteve retornos médios de 21% ao ano. É quase o dobro do S&P 500, um dos principais indicadores do mercado, com 10% ao ano.

O Oráculo de Omaha, como também é conhecido, já seria famoso apenas pelo tempo de mercado recorde. Buffett é gestor profissional de ações há quase 70 anos. Alie essa imensa longevidade no mercado com seu incrível e consistente retorno acima da média. Logo, temos algo que na teoria deveria ser impossível – só não é porque Buffett conseguiu provar o contrário.

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Buffett também erra

Como ninguém é perfeito, nem mesmo Warren Buffett, há alguns poucos erros em sua trajetória de investidor. Um caso famoso em que errou foi com o investimento no banco Salomon Brothers.

O Salomon Brothers era o banco de investimentos mais influente no mercado financeiro estadunidense na década de 1980. Assim, recebeu o título de “O Rei de Wall Street” pela revista Business Week. O seu CEO, John Gutfreund, convenceu Buffett a investir no banco algo como US$ 700 milhões. O objetivo era evitar que polêmico empresário e bilionário Ron Perelman, tomasse o controle do Salomon.

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Tudo correu bem no começo. Contudo, em 1991, foi descoberto que um trader estava manipulando os leilões de títulos realizados pelo Departamento do Tesouro.

O trader era Paul Mozer, responsável pelo departamento de títulos governamentais do Salomon. A fraude foi revelada e o Salomon sofreu um duro golpe em sua reputação.

O Departamento do Tesouro proibiu o Salomon Brothers de participar dos seus leilões, o que poderia levar o banco à falência. Warren Buffett precisou intervir, e tentou de tudo para convencer Nicholas Brady, o então Secretário do Tesouro, a reverter esta decisão.

Buffett se torna CEO do Salomon

Sendo assim, dado o risco sistêmico de um banco do porte do Salomon falir e a reputação de Buffett, Brady concordou. Logo, alterou a decisão, mas com uma série de condições.

Além de afastar os envolvidos no caso Mozer, o próprio Buffett teria que se tornar CEO do banco e conduzir pessoalmente a sua reestruturação.

Buffett aceitou, ficou como CEO até 1992 e conseguiu evitar a falência do banco com a sua reestruturação. Evitou o pior, mas ainda assim amargou um significativo prejuízo neste investimento.

A bolha da internet

No final dos anos 1990, com a rápida ascensão da internet, muitas empresas estavam fazendo IPO na Nasdaq. O fato por si só poderia ser positivo para a economia.

Contudo, o problema é que a vasta maioria destas empresas não tinham negócios sólidos, na verdade sequer conseguiam ter um negócio.

As métricas tradicionais de EBITDA, fluxo de caixa, margens e retorno estavam sendo abandonadas. No seu lugar, entrava uma abordagem bastante heterodoxa de avaliação. Agora, alguns analistas ‘precificavam’ o número de visualização de páginas ou acesso de clientes nos sites da empresa.

Então, Buffett vendeu grande parte de seus investimentos. Para ele, a situação era uma bolha, com empresas sem negócios sólidos captando bilhões de dólares no mercado, apenas por oportunismo e empolgação excessiva dos investidores.

Com isso, deixou muito dinheiro em caixa esperando pela possível crise que viria e as oportunidades de compra de boas empresas por preços muito abaixo de seu valor intrínseco.

Buffett acerta quase sempre – e ganha muito dinheiro com isso

Além disso, Buffett foi muito claro em diversas entrevistas, palestras e comunicações públicas sobre as suas preocupações. Dessa forma, pesava para ele a insanidade destes investimentos sem critérios racionais nas novas empresas de tecnologia.

Especialmente em 1998 e 1999 Buffett foi duramente criticado por gestores, analistas, “especialistas em investimentos”. Ele foi acusado de estar ultrapassado, desatualizado e que deveria se aposentar.

Mas Buffett estava certo como (quase) sempre. No ano 2000, após o recorde histórico da Nasdaq em março, a bolha da internet estourou. Assim, mais de 500 empresas de capital aberto que prestavam serviços na recém-popularizada internet quebraram. Como efeito, mesmo o índice Nasdaq, que havia atingido seu recorde histórico em março, já havia caído 75% em dezembro.

Consequentemente, Buffett aumentou ainda mais a sua reputação. Logo, ganhou também muito dinheiro, usando o caixa que havia acumulado para comprar empresas sólidas e lucrativas, por preços muito abaixo de seu real valor.

O momento atual

Agora, a economia dos Estados Unidos está bem. Os prognósticos são bastante positivos. Todos os principais indicadores econômicos apontam para uma inflação controlada e um crescimento saudável da economia. O cenário é o melhor possível.

Dessa forma, seria, teoricamente, um momento ideal para comprar ações. Afinal, temos um “soft landing”, ou seja, “pouso suave” da economia. Com redução moderada da atividade econômica para combater a inflação, ao mesmo tempo em que se mantém o crescimento, e os lucros corporativos.

Ainda mais com o Fed, o Banco Central dos EUA reduzindo juros, justamente pela sua avaliação do momento positivo da economia.

Tudo certo, a grande maioria dos investidores otimistas, mas há um grande sinal de cautela: Warren Buffett não está comprando. Ao contrário, está se desfazendo de muitas de suas posições nos últimos meses.

Vendeu parte significativa de suas ações da Apple e do Bank of America, dois de seus maiores investimentos. O caixa da Berkshire pode chegar a US$ 300 bilhões quando for fechado esse trimestre, ou algo próximo disso.

O que Buffett está pensando?

Difícil de adivinhar, pois ele não tem se manifestado publicamente. Há paralelos com seu comportamento em 1999 nas vésperas da crise da bolha da internet, em termos de vendas de ações.

Ao contrário do final do século passado, quando Buffett reiteradamente expressou sua opinião, agora tem se omitido de fazê-lo.

Seria então uma nova jogada genial de Buffett que está vendo problemas com esse otimismo todo do mercado?

Alternativamente, seria um de seus raros erros? Somente o tempo poderá responder de forma definitiva essa pergunta. Contudo, dado o histórico do Oráculo de Omaha é recomendável ter cautela nesse momento, mesmo com o otimismo generalizado com a economia.

Historicamente quem apostou contra Buffett quase sempre perdeu. Estatística é coisa séria e leva-la em consideração é Inteligência Financeira.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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