Petrobras (PETR4) perde ‘uma Sabesp’ após reter dividendo extra e frustrar investidores

Desde a máxima registrada em meados de fevereiro, perda de valor da estatal já atinge cerca de R$ 90 bilhões, quase o valor da Eletrobras

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, durante coletiva de imprensa. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, durante coletiva de imprensa. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Frustração, decepção, surpresa, desapontamento.

Palavras como essas se repetiram nos relatórios de analistas nesta sexta-feira (8), ilustrando o estado de ânimo do mercado com Petrobras (PETR4), após sua inesperada decisão de reter um valor gigante de dividendos.

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Como consequência, a maior empresa brasileira perdeu R$ 55 bilhões em valor de mercado, para R$ 474 bilhões, segundo o consultor Einar Rivero.

Isso equivale ao valor da Sabesp na bolsa de valores.

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Mais do que o valor envolvido, analistas viram na decisão da estatal um divisor de águas na estratégia da companhia.

Sem uma exigência estatutária de reserva de capital, só no biênio 2021-22 a Petrobras distribuiu quase todos os R$ 300 bilhões de lucro aos acionistas.

Em relação a 2023, o mercado já sabia que as cifras cairiam. Primeiro, porque o lucro seria menor, refletindo menores preços do petróleo.

De fato, a companhia anunciou na noite de quinta-feira (7) que seu lucro líquido de 2023 (R$ 124,6 bilhões) foi 34% do que no ano anterior.

Petrobras (PETR4): dividendo extra, uma obsessão

Contudo, esse não era o assunto principal. Há meses analistas especulavam sobre quanto a Petrobras (PETR4) anunciaria de dividendos extraordinários.

A maioria estimava valores da faixa de R$ 15 bilhões a até mais de R$ 40 bilhões.

Isso, mesmo depois de o conselho de administração da petroleira ter aprovado em novembro passado um novo plano estratégico com mudanças importantes.

Uma delas abria a porta para a companhia passar a ter uma reserva de capital. Também frisou sua intenção de entrar mais em energia limpa.

A maioria dos analistas, porém, não encontrou evidências de que haveria uma mudança radical na política de remuneração aos acionistas pela Petrobras (PETR4).

Além disso, a avaliação predominante era de que a Petrobras (PETR4) seria pragmática, uma vez que seu principal acionista também precisa dos dividendos para aliviar sua frágil condição fiscal.

Na semana passada, contudo, o presidente-executivo da estatal, Jean Paul Prates, sinalizou que a mudança era para valer. E as ações começaram a cair.

Num evento público, Prates alegou que a empresa passava por um momento de transição e precisava ser mais cautelosa nos pagamentos.

“Precisamos ser cautelosos. Os acionistas vão entender”, alegou então.

Não, não vão entender

Ainda assim, muitos investidores viram nas sinalizações da companhia apenas um esforço para conter a empolgação do mercado.

Dessa forma, mesmo os mais pessimistas foram surpreendidos quando a companhia anunciou na noite de quinta-feira (7) que não pagaria nenhum centavo em dividendo extra.

Pelo menos não de imediato. Em vez disso, manteria em caixa cerca de R$ 43 bilhões.

Algumas casas de análise manifestaram frustração com a medida, mas entenderam que a tese de investimento na Petrobras ainda é atrativa.

O BTG Pactual, por exemplo, manteve recomendação de compra para as ações.

A casa alegou ainda que, por estatuto, os recursos retidos não poderão ser usados para outros fins.

Ou seja: mais cedo ou mais tarde, irão para o bolso dos acionistas.

O próprio CEO da Petrobras disse em teleconferência com analistas nesta sexta-feira que a companhia pode distribuir excedente de lucro “a qualquer momento”.

O Itaú BBA conservou recomendação neutra, “em meio a um cenário incerto para o papel”.

Mas pelo menos três instituições não concordaram com a mudança e cortaram a recomendação para os papéis imediatamente.

Com o título “O mercado não vai entender”, o Bradesco BBI cortou a recomendação das ações da Petrobras, de compra para neutra.

Santander e Bank of America foram na mesma direção.

Quase uma Eletrobras a menos

Com a derrocada das ações (queda de 10,6% em PETR4 e de 10,4% em PETR3), a companhia também exerceu forte influência sobre o Ibovespa, que caiu 0,99%.

Se considerar a máxima de R$ 567 bilhões atingida em meados de fevereiro, antes de Prates sinalizar nova abordagem para pagar dividendos, a perda de valor de mercado da Petrobras (PETR4) sobe para R$ 93 bilhões, pouco menos do que o valor da Eletrobras.

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