Para CEO do Itaú, Americanas (AMER3) foi caso de ‘fraude’ e não terá efeito em cadeia
Milton Maluhy falou também da expectativa do banco pelas propostas de novo arcabouço fiscal, reforma tributária e da boa relação com ministro Haddad
Após a divulgação dos fortes resultados do 4º trimestre de 2022, tendo provisionado 100% das possíveis perdas em caso de calote da Americanas (AMER3), o CEO do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, afirmou que o ocorrido com a varejista foi “caso isolado”, “uma fraude”. Para ele, não haverá efeito em cadeia, pois esse tipo de ação não é praxe das outras grandes empresas.
“Nossa visão é que se trata de um caso isolado, e não tem um efeito de contaminação. Não há nenhum impacto além do já provisionado, e também não houve impacto na construção para o guidance de 2023, ocorreu uma fraude e vamos olhar para o que aconteceu”, afirmou Maluhy na coletiva de resultados.
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O CEO afirmou ainda que o banco já fez uma reavaliação da carteira e que não encontrou nenhum outro caso de preocupação.
“Vamos olhar com cuidado, mas faz parte da atividade de banco fazer essa checagem, não vamos fazer restrição a outras empresas por conta desse evento”, completou.
Sobre o motivo de ter provisionado 100% do valor das perdas com Americanas, Maluhy disse que a decisão foi tomada por prudência.
E também pelas incertezas com o processo de recuperação judicial e para que os balanços de 2023 não sejam impactados negativamente pelo evento.
PDD e Guidance
As provisões e o guidance do banco para 2023 já incluem cenários de piora macroeconômica, juros em patamares elevados e contração no crédito para grandes empresas, o que chama de “atacado”.
“Quando é uma empresa grande, o banco consegue capturar a situação antes de realizar o empréstimo. Já no estudo e na formulação do rating, é possível notar a deterioração do crédito antes de inadimplir de fato. O banco não espera o grande cliente atrasar para fazer provisão. Trabalhamos com despesa esperada, olhando para a atividade, nível de juros, e começamos a fazer uma avaliação individual das grandes empresas. No caso do evento (ele não cita nominalmente a Americanas), era uma empresa listada e auditada, não deu para antecipar”, apontou o CEO.
O Itaú projeta que o PIB do Brasil crescerá 0,9% ao fim de 2023, que a Selic caia para 12,5%, inflação no patamar de 5,8% pelo IPCA, desemprego em 8,5% e o dólar a R$ 5,50.
“A combinação macro com os nossos resultados dá a base para fazermos o guidance do banco, no entanto, qualquer mudança ou evento brusco, nós avisaremos o mercado e faremos um novo cálculo”, disse.
Cruzada de Lula contra o BC
Questionado sobre as recentes críticas de Lula às taxas de juros e à independência do Banco Central, o executivo evitou comentar diretamente as falas do presidente, citou ser “normal haver visões diferentes sobre política econômica”.
No entanto, falou do bom relacionamento com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e sua equipe, citando “conversas muito positivas”.
“O mercado está aguardando passos concretos por parte do governo, como a proposta do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária, para que seja feito o debate com os grupos de interesse e para que a gente tire qualquer ruído da curva de juros.”
Haddad e oportunidade de crescimento
Citando o encontro com o ministro da Fazenda no Fórum Econômico Mundial, Maluhy afirmou ter tido uma sensação positiva da equipe, somado à melhora no ambiente externo, vendo que a recessão não será tão grande, Fed segurando a inflação e China de volta ao mercado global são sinais importantes de haver uma boa oportunidade de crescimento.
“O que tem de concreto é que o plano de redução do déficit do Haddad é positivo e queremos ver a discussão avançar, assim como a reforma tributária, uma simplificação tributária é fundamental para o crescimento do brasil em diversos aspectos”, apontou.
Janela de IPO
Perguntado se os juros elevados e o efeito Americanas podem afastar as empresas de abrir capital, ou seja, realizar IPO, Maluhy afirmou que o mercado de capitais é o melhor lugar para captação de recursos e crescimento, mas que o arcabouço fiscal é fundamental para o melhor ambiente.
“Sendo assim, se o negócio for sólido, ele consegue captar mais barato. Mas, quando vier o arcabouço fiscal, será melhor. A espera pelo projeto pode atrasar a janela um pouco (esperada inicialmente para abril), mas dependendo de como vierem as propostas do governo”, afirmou.
2 anos como CEO do banco
Sobre seus dois anos à frente da presidência do banco, Maluhy Filho afirmou que reforça a transformação cultural na empresa, o investimento no digital, a centralidade no cliente e o recorde com o NPS, que é o indicador de satisfação do cliente.
“Nossa expectativa é melhorar ainda mais o NPS acima de 70 pontos. Nossa revisão de cultura busca e reforça valores contemporâneos, empoderando as pessoas, sem tirar olho da performance, simplificação da hierarquia, autonomia e responsabilidade para quem lidera negócios, a gente mede pelo ENPS (satisfação de colaboradores em 88 pontos) e colaboradores felizes e engajados geram mais resultados”, finalizou.