Ibovespa teve apenas 38,5% dos pregões com variação positiva ou negativa superior a 1%: o que isso significa para o investidor?
Analistas ensinam como olhar o Ibovespa para investir em ações
O investimento em ações surpreendeu no primeiro semestre. O Ibovespa, índice de referência da bolsa, encerrou o período com uma alta de 7,61%. Isso significa o melhor desempenho em um primeiro semestre desde 2019. No entanto, as frequentes oscilações (ainda que pequenas) podem gerar confusão para os investidores.
Dos 122 pregões do primeiro semestre, apenas 38,5% tiveram o Ibovespa fechando com variação superior a 1%, tanto positiva quanto negativa. Os dados são do TradeMap. Ou seja, na maioria das vezes, o Ibovespa ‘anda de lado’. Porém, em um prazo estendido, o movimento tem sido progressivo.
Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS
Nesse contexto, nós da Inteligência Financeira ouvimos especialistas sobre o papel do índice como referência para tomar decisões de investimento na bolsa. É importante entender como analisar o Ibovespa e quando suas oscilações podem ser relevantes – e quais sinais devem ser observados.
Foco nos fundamentos das empresas
Felipe Pohren, sócio da Matriz Capital, destaca que os investidores de longo prazo devem se preocupar menos com a oscilação diária do preço das ações. Para investimento em ações, “mais importante do que o momento de mercado são os fundamentos das empresas nas quais se investe”, diz.
Ele enfatiza que os preços das ações podem se mover em direções opostas ao comportamento geral do mercado. Para Pohren, observar o Ibovespa pode ser relevante para entender o humor do mercado, mas é necessário focar nos aspectos específicos das empresas escolhidas para investir.
Os investidores de longo prazo devem encarar as quedas como oportunidades de compra, enquanto os especuladores buscam tendências de curto prazo e volatilidades para obter ganhos rápidos, segundo o analista.
Oscilações diárias: como lidar?
Pedro Canto, analista CNPI da CM Capital, compartilha uma visão semelhante em relação à importância das oscilações diárias ao abordar como analisar o Ibovespa.
“De maneira nenhuma as oscilações diárias devem impactar a tomada de decisão do investidor”, afirma categoricamente.
Para ele, as oscilações de curto prazo são sujeitas a ruídos, aleatoriedade e notícias pontuais e estão pouco relacionadas aos fundamentos das empresas e às teses de investimento.
Canto destaca que o investimento em bolsa de valores deve ser encarado como algo de médio e longo prazos, e a visão do investidor deve ser alinhada a esse horizonte.
No que diz respeito ao período ideal para observar e tomar decisões de investimento, o analista da CM destaca a importância dos balanços trimestrais das empresas. “Uma boa parte da análise de investimentos em ações, por exemplo, leva em consideração os balanços das empresas. Estes são divulgados de forma trimestral”, ressalta.
Portanto, ele sugere que a aferição de resultados e a tomada de decisões sejam baseadas em períodos mais amplos, recomendando um mínimo de três meses para avaliar os investimentos.
Como analisar o Ibovespa?
Mas, afinal, como analisar o Ibovespa? Canto ressalta que o índice é apenas um termômetro da classe de ativos das ações, e existem outras classes igualmente relevantes, como juros, câmbio e commodities.
No entanto, ele destaca a importância dos juros como fator determinante para as decisões de investimento na bolsa.
“Os juros movem o mundo, e todas as tomadas de decisões são baseadas neles”. Canto enfatiza que o comportamento impacta diretamente o desempenho da bolsa de valores. “Basicamente, juros para baixo, bolsa para cima. E vice-versa”, acrescenta.
Portanto, observar o Ibovespa pode fornecer uma visão geral do mercado e do sentimento dos investidores, mas é fundamental considerar outros fatores. Além dos fundamentos das empresas, dos balanços trimestrais e da movimentação dos juros, cada investidor precisa levar em conta seu perfil, objetivos e tolerância ao risco.
Investimento em ações no longo prazo
Alguns investidores tendem a se desfazer de boa parte das ações de uma empresa ou mesmo zerar posições por conta de notícias negativas pontuais, que podem refletir apenas um momento específico da empresa ou da economia.
“Mas, lá na frente, pode ser que a empresa consiga passar por cima dessas adversidades e performar bem”, avalia Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
Por isso, o investimento na bolsa, para ele, exige prazos longos e um certo desdém em relação às oscilações de curto prazo. “Alguma notícia que nem chega a se concretizar acaba sendo precificada e as ações entram no fluxo vendedor, muitas vezes, de forma até irracional”, complementa.
Para Mota, o ideal é que o investidor tenha um prazo de investimento de cerca de 5 anos. “Acho que esse seria um patamar legal de apuração para renda variável, mas não existe um prazo fixo para isso”, alerta.
Como se especula na bolsa
Por outro lado, os especuladores, buscam ativos com maiores volatilidades e tendências mais claras para obter ganhos de curto prazo.
“O índice serve como referência do humor do mercado, além de meio para operar o mercado como um todo, principalmente em operações iniciadas e encerradas no mesmo dia, conhecidas como day trades”, detalha Pohren, da Matriz.
É comum que parte predominante das oscilações aconteçam entre +1% e -1%, e aí está boa parte das oportunidades para quem realiza day trade. Porém, para o investidor comum, essa oscilação não é relevante. O alerta é de Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos
“Por exemplo, num dia de perda de 1% do índice, em algum momento, determinada ação está caindo 2%. Pode ser um ponto de compra (no day trade). O normal seria ela voltar para a média das ações, que seria o equivalente a -1%”.