Americanas (AMER3): conheça o histórico dos papéis até o fatídico rombo de R$ 20 bilhões

Ações da empresa já chegaram a valer R$ 120

Fachada das Lojas Americanas Foto: Divulgação
Fachada das Lojas Americanas Foto: Divulgação

O rombo de R$ 20 bilhões na Lojas Americanas, informado à CVM no fim da quarta-feira (11) pegou o mercado acionário de surpresa.

Os papéis da empresa iniciaram o dia 12 de janeiro de 2023, data que pode ser simbólica para a companhia, em leilão com queda de 75%.

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Fundada em 1929, quando um grupo de norte-americanos desembarcou no Rio de Janeiro (RJ) com o objetivo de abrir uma loja do tipo R$ 1,99, a varejista passou por nove mudanças de moedas, uma guerra e quatro planos econômicos.

Tantos desafios e a mesma sorte que não tiveram varejistas como Mesbla, Mappin, Ricardo Eletro e tantas outras.

Com mais de 100 anos de existência, a Americanas S/A (AMER3) é, até agora, uma sobrevivente do varejo brasileiro.

Quem são os donos da Americanas (AMER3)?

A Americanas (AMER3) abriu capital há mais de 80 anos e tem hoje entre seus acionistas, com cerca de 30% da companhia, os empresários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto da Veiga Sicupira e Marcel Hermann Telles. E são eles os três principais nomes da empresa há 40 anos.

Contudo, a grande guinada da companhia começou nas últimas duas décadas.

Isso porque o plano de expansão de lojas físicas e também no ambiente eletrônico se acelerou a partir de 2005 e 2006, com a aquisição dos ecommerce Shoptime e Submarino.

E com as aquisições, surgiu, logo em seguida, o grupo B2W Digital, um dos maiores varejistas do país. Assim, foi nessa toada que, em 2007, as ações AMER3 disparavam e encostavam na casa dos R$ 80.

Por que as ações da AMER3 caíram?

Mas cinco anos mais tarde, o barco virou. E quase afundou. A BMF&Bovespa chegou a solicitar às Lojas Americanas (AMER3) esclarecimentos sobre um requerimento de falência da empresa feito pela companhia Athenabanco Fomento Mercantil.

À época, a Americanas negou a dívida. Mas naquele mesmo ano, as ações AMER3 já valiam menos de R$ 5. Ou seja, 95% a menos do que poucos anos antes. Entretanto, como dito no início, a empresa sempre foi bastante resiliente. 

E foi de lá pra cá que subiu e caiu com as turbulências próprias da economia brasileira, chegando aos incríveis R$ 120 de valor de face em agosto de 2020, em meio ao fechamento da economia por conta da pandemia de covid-19.

É que enquanto as atividades econômicas do planeta se dissolviam e os juros despencavam, a Americanas (AMER3) se beneficiava. Com o fechamento das lojas físicas, tudo se voltou para a Internet.

E com as aquisições das empresas de ecommerce ainda nos anos 2000, sua experiência de longa data no mercado eletrônico, a fazia nadar de braçada em meio a maior crise econômica do século.

Tudo parecia ir muito bem, até que uma pedra no meio caminho, conhecida como escalada dos juros, surgiu em meados de 2021, invertendo totalmente a curva de tendência das ações.

Desde agosto de 2021, quando os juros subiram de 4,25% ao ano para 13,75% (valor do atual momento), as ações da Americanas (AMER3) e de suas concorrentes Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) derreteram ao longo dos meses.

O que aconteceu com as ações da AMER3?

A ações AMER3 já valiam R$ 9,16, na cotação do dia 23 de dezembro de 2022, com perdas de mais de 70% no último ano.

Além da escalada dos juros, para piorar, segundo levantamento realizado pela CNDL e pelo SPC Brasil, 40% dos brasileiros em atividade econômica ativa estavam negativados em outubro. Isto é, novo recorde da série histórica, realizada há oito anos. Para quem trabalha no varejo, as estatísticas são preocupantes.

Vale a pena investir em Americanas (AMER3)?

Para tentar mudar a performance da companhia, o executivo Sérgio Rial, ex-Santander, assumiu a varejista em janeiro.

A ideia era dar um novo fôlego à Americanas (AMER3), dirigida por Miguel Gutierrez nos últimos 20 anos.

Rial chegou a afirmar em uma rede social que esperava “maior nível de consistência” no marketing, e que “prateleira vazia ou geladeira que não funciona” são mau sinal.

Mas o pior ainda estava por vir. No final da noite de ontem, Rial informou que estava deixando a AMER3. Motivo: a divulgação de inconsistências contábeis bilionárias.

Rial, então, ficou 10 dias no cargo.

A área contábil da Americanas (AMER3) identificou a existência de operações de compras feitas pela companhia em valores de R$ 20 bilhões. Os valores, porém, não se encontram adequadamente refletidos na conta fornecedores nas demonstrações financeiras do terceiro trimestre de 2022.

O conselho de administração decidiu, ainda, criar um comitê independente para apurar as circunstâncias que ocasionaram as referidas inconsistências contábeis, que terá os poderes necessários para a condução de seus trabalhos.

O último grande escândalo sobre inconsistências no balanço de empresas no Brasil foi com o IRBR3. A empresa que já teve suas ações cotadas a R$ 34, hoje circulam na casa do R$ 1.

O que dizem os bancos

Mesmo antes da notícia bomba de ontem (11), o mercado já vinha olhando as contas da Americanas (AMER3) com um pé atrás.

“Apesar do cenário macroeconômico ter sido desafiador e ter impactado negativamente todas as companhias do setor, entendemos que o desempenho da Americanas decepcionou ainda mais, dado o forte sortimento de produtos que a companhia hoje oferta em seu ecossistema e que não foi suficiente para amenizar o impacto decorrente da piora do cenário para o consumo”, diz trecho da última análise do BBI Investimentos.

Também o BTG Pactual já torcia o nariz para a situação da Americanas (AMER3).

“Os resultados operacionais pintaram um quadro preocupante (em relação a receita e de fluxo de caixa). Após a recente correção (afetando a maioria das ações de tecnologia globalmente), uma possível expansão de múltiplos de AMER3 (com desconto em relação a seus pares, com a ação caindo 60% no acumulado do ano) dependerá da consistência nos próximos trimestres em sua operação de lojas físicas (também um destaque negativo no trimestre) e em meio a um mercado de e-commerce brasileiro bastante competitivo”, diz um trecho do relatório.

Por que LAME3 e LAME4 viraram AMER3?

Uma das alternativas neste período de instabilidades que a AMER3 encontrou foi passar por uma reorganização societária, que extinguiu as ações LAME3 e LAME4. Os ativos passaram a ser negociados como AMER3, o mesmo criado em julho de 2021 com a combinação de B2W e as ações das Americanas (AMER3).

Mas não adiantou muito. No último balanço da empresa, a Americanas (AMER3) divulgou a relação de lucro e prejuízo líquido na ordem de R$ 212 milhões no terceiro trimestre, ante lucro líquido de R$ 240,5 milhões do mesmo período do ano anterior. 

Além disso, no período, o Ebitda alcançou R$ 582,3 milhões. Ou seja, uma redução de 21,6% em comparação ao mesmo trimestre do ano anterior.

Embora o número de transações da Americanas (AMER3) tenha aumentado 22,3%, não foi suficiente para compensar a queda do ticket médio do trimestre, que variou -22,1%. 

E com um agravante, para tentar conter a sangria e diminuir as dívidas, a Americanas realizou uma emissão de debêntures no valor de R$ 1 bilhão. Em julho, foram outros R$ 2 bilhões em lançamentos.

Para piorar, as vendas no e-commerce da Black Friday de 2022 foram 23% menores do que no ano passado.

Quanto Americanas (AMER3) pagou dividendos?

A companhia distribui como dividendo mínimo obrigatório, em cada exercício social, 25%  do lucro líquido do exercício, ajustado nos termos do artigo 202 da Lei das S.A.

A última distribuição de lucros da Americanas (AMER3) ocorreu em janeiro deste ano, quando a AMER3 distribuiu R$ 550,6 milhões em Juros Sobre o Capital Próprio (JCP) acionistas.

Os sócios da varejista receberam R$ 0,61303854 por ação.

Como comprar ações da AMER3?

As ações da Americanas (AMER3) são negociadas na B3, a Bolsa de Valores brasileira, e são comercializadas sob o ticker AMER3. Portanto, para comprar os papéis você precisa ter conta em corretoras ou distribuidoras de títulos e valores mobiliários cadastradas e autorizadas na B3. Assim, a negociação pode ser feita de forma eletrônica até mesmo por meio de aplicativos em seu celular.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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