A incoerência das três semanas de rico — e como ela pode impactar o seu bolso

Fim de ano chegou: época feliz para alguns e uma armadilha financeira para outros; entenda como não cair em ciladas e começar 2023 tranquilo

- Ilustração: Renata Miwa
- Ilustração: Renata Miwa

Fim de ano chegou e, com ele, as confraternizações, os presentes de Natal, o 13º salário ou algum bônus, entre outras festividades. Uma época feliz para alguns, pode ser uma armadilha para outros.

“Esse é um período em que existe um hábito cultural de maior consumo e lazer. Muitas vezes as pessoas entram nesse “clima de final de ano” sem se darem conta e acabam fazendo compromissos com os quais não conseguem arcar”, explica Lilian Byrro, assessora financeira e mestre em finanças.

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Na visão dela, é natural querer um descanso depois de períodos mais intensos de trabalho, mas é importante ter cautela. “O ideal é que esses momentos sejam vividos com consciência para não significar mais trabalho e mais luta no ano seguinte”, ressalta. 

A incoerência das três semanas de rico

Há alguns anos, Lilian usou a expressão em um artigo para exemplificar um comportamento que observava frequentemente.

O tempo passou, mas o conceito continua fresco. “Observei pessoas que sofreram o ano inteiro para conseguirem fechar seus orçamentos mensais, mas que, em dezembro, estavam fazendo compras, festas e viagens, gastando mais do que podiam”, explica a assessora. 

A “incoerência das três semanas de rico”, ou seja, das semanas de festividades do fim de ano, causa preocupação. “Dependendo de como a pessoa vive essas três semanas, ela pode complicar ou facilitar enormemente o seu próximo ano”, alerta Lilian.

Identifique os gatilhos

Existem alguns gatilhos para esse comportamento. Entenda cada um deles e saiba identificá-los:

Tradição

É a crença de que é preciso fazer as coisas sempre de uma certa forma, ou aquele momento não será feliz. “É importante perceber que é possível, sim, aproveitar essa época do ano sem que isso comprometa as suas finanças. É possível conciliar lazer e preocupação com o futuro”, ressalta Lilian.

Conta mental

O segundo gatilho é o da conta mental: a tendência de contabilizar mentalmente o décimo terceiro e outros adicionais como valores “extras” que não entram no orçamento anual. “Isso é um grande erro. Esses valores são parte significativa do seu salário, aproximadamente 10% do seu ano”, destaca Lilian. Ou seja: guardar esse dinheiro “extra” significaria poupar uma parte significativa da sua receita — o que pode fazer a diferença lá na frente.

Eu mereço

Argumento clássico e muito usado no momento de dúvida sobre gastar ou não. “De fato, depois de trabalhar e nos esforçar tanto, todos nós merecemos. E é por isso que precisamos pensar com carinho nesses merecimentos. Você pode merecer férias abonadas, mas pode merecer também viver um ano tranquilo. Pode merecer ter uma reserva de emergência para não se desesperar a cada “imprevisto” que acontecer e pode merecer construir algo importante para o seu ser do futuro”, explica a assessora. 

5 dicas para não perder o controle

A boa notícia é que é possível evitar ciladas em alguns passos. 

1. Faça um orçamento

Hora de colocar as contas no papel e fazer um orçamento anual de 2023. “Entenda suas principais despesas e principalmente liste os gastos extras, como matrícula escolar, IPVA e IPTU, que costumam apertar o orçamento mensal”, explica Lilian. 

2. Separe o ganho extra

Daquilo que entrar na conta no fim do ano, separe uma parte para os custos que virão ou para ter mais segurança financeira. “O valor pode ser usado para formar uma reserva de emergência ou para cobrir alguma dívida com juros altos que você ainda não pagou”, ressalta Lilian.

3. Planeje o lazer

Ninguém é de ferro. Por isso, o que sobrar pode ser usado para aproveitar as festividades. O importante é fazer boas escolhas. “Aqui é a hora de ser criativo e cultivar a valentia para fazer o que realmente te dá prazer e não o que você acha que deve fazer”, aconselha a assessora financeira.

4. Organize o fim de ano

Por fim, é fundamental fazer um planejamento mais minucioso dos gastos extras de fim de ano. Isso inclui os presentes de Natal, as compras para a ceia e os gastos na virada. “É importante tentar ao máximo seguir esse planejamento. Isso ajuda a não cair em tentações de última hora”, ressalta Lilian. 

A assessora ainda dá uma dica extra, que pode ser o seu mantra: “Lembre-se sempre que viver momentos de lazer é bom, mas bom mesmo é viver um ano tranquilo no qual você não sinta, ao final, que precisa de um desafogo”. 

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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