Duelo IF: Gol (GOLL4) ou Azul (AZULL4), em qual ação investir?
Especialistas mostram as forças e fraquezas das gigantes do setor aéreo
Se você precisou viajar de avião provavelmente já teve de escolher entre os serviços da Gol (GOLL4) ou Azul (AZUL4). As duas gigantes competem no setor aéreo brasileiro, embora tenham proposta de valor e estratégias diferentes.
Nesta edição do Duelo IF, falamos com especialistas para mostrar se vale mais a pena investir em Gol ou Azul. Cada analista trouxe pontos fortes das empresas e fatores que podem preocupar os investidores.
Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS
Gol: força no segmento corporativo e aposta no baixo custo
No terceiro trimestre deste ano, a Gol apresentou melhoria nos seus números operacionais, com a receita líquida chegando a R$ 4 bilhões, Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 695 milhões, com margem Ebitda de 17,3%. A empresa registrou prejuízo de R$ 1,5 bilhão, uma redução de 38,7% em relação ao prejuízo de R$ 2,5 bi no terceiro trimestre de 2021.
“Por mais que setor tenha sofrido na pandemia, a empresa vem mostrando números melhores nos últimos trimestres”, avalia Heitor De Nicola, especialista de Renda Variável e sócio da Acqua Vero Investimentos.
Uma das vantagens competitivas da Gol é ter forte atuação no triângulo Rio-São Paulo-Brasília.
“É um segmento que sente menos, caso algum choque muito grande nas tarifas acontecer. Viagens nesse triângulo costumam ser mais resiliente por conta do poder aquisitivo dos clientes”, explica Luan Alves, head de equity research na VG Research.
No aeroporto mais movimento do Brasil, o de Congonhas, em São Paulo, a Gol vai operar, a partir de março de 2023, 238 slots (horários de voos), o que representa uma participação de 40,8% nos pousos e decolagens do local.
Assim, a companhia fica atrás apenas da Latam, que terá 240 slots. A Azul terá 84 slots.
Outro ponto forte da Gol é seu programa de fidelidade, o Smiles. No terceiro trimestre, o número de usuários cresceu 1,5 milhão na comparação anual, para 20,5 milhões de clientes.
Além da força nos destinos mais comuns em viagens de empresários, a Gol também aposta em diminuir ao máximo os custos para oferecer tarifas mais baixas aos passageiros.
A companhia aérea se orgulha para dizer que tem o menor custo operacional proporcional do mercado no indicador (CASK) que excluir gastos com combustível.
Azul: foco em destinos turísticos e ticket médio mais alto
Apesar de também fazer rotas comuns na aviação corporativa, a Azul aposta mais nos destinos turísticos, onde geralmente opera quase sem concorrência.
“Na Azul, as aeronaves são melhores, mais confortáveis, tem televisão durante o voo e a companhia tenta cobrar a mais por isso”, diz Alves, da VG. “Em média, a Azul tem tarifas 80% mais altas que Latam e Gol nas mesmas rotas”.
Nos resultados do último trimestre, a Azul também mostrou melhoria.
A receita líquida cresceu 61% em comparação com o 3T21 para R$ 4,4 bilhões. O prejuízo líquido foi de R$ 1,6 bilhão, um alívio em relação aos R$ 2,2 bilhões de prejuízo líquido registrados no 3T21.
O programa de fidelidade da companhia, o TudoAzul, é menor do que o Smiles, mas não pode ser desprezado.
Ao fim do terceiro trimestre, o programa tinha 15 milhões de membros e crescimento de 82% do faturamento bruto ante o terceiro trimestre de 2019 (a empresa não divulgou a comparação com 2020 e 2021).
Quais são os riscos do setor aéreo?
Para ambas as teses, os especialistas apontam riscos que podem impactar o setor como um todo.
O desafio de curto prazo das companhias aéreas é lidar com a volatilidade do câmbio e o preço dos combustíveis. Esses fatores podem aumentar muito o custo operacional, diminuindo as margens das empresas, que já estão muito pressionadas.
“O setor aéreo é muito difícil, as empresas não conseguem uma rentabilidade elevada por muito tempo. É um setor cíclico e depende de vários fatores”, diz Luan Alves.
Para a Gol, o analista cita o endividamento “esticado” como grande preocupação. O indicador de dívida líquida sobre Ebitda da empresa está em 9,1 vezes, bem acima das 5,7 vezes da Azul. “Em um contexto de combustível caro, demanda reprimida e juros altos, a dívida pesada custa mais e joga contra a Gol”, afirma Alves.
Já na Azul, a grande preocupação é com o sucesso dos investimentos agressivos que a empresa propõe. “A Azul apresentou números ousados no Investor Day, com pretensão de investir forte para tentar diminuir a diferença de marketshare”, conta Heitor De Nicola. O problema, segundo o especialista, é que a empresa já queimou quase R$ 1 bilhão de caixa no último trimestre. “É preciso acompanhar como isso vai impactar o caixa da empresa”, diz.
Gol e Azul estão baratas?
Enquanto o setor aéreo enfrenta um momento delicado, com fatores de risco por todos os lados, o mercado vem punindo as ações de Gol e Azul. No ano, as ações da Gol caem 65% em 2022, enquanto os papéis da Azul têm desconto de 56%.
As duas empresas operam, atualmente, com o indicador de Preço/Lucro negativo: Gol em -0,5x e Azul em -1,1x.
Diante dos números, há oportunidade de entrada nesses papéis, segundo especialistas.
“Aviação civil terá um 2023 melhore e devem conseguir dar mais retorno para os acionistas”, diz Luan Alves.
Para De Nicola, “é uma janela de oportunidade, principalmente para investidor que olha para horizonte mais longo”.
É melhor investir em Gol ou Azul?
Portanto, esta edição do Duelo IF termina… em empate.
Desta vez, cada um dos analistas tem uma empresa favorita.
Luan Alves, da VG, prefere a ação da Azul, enquanto Heitor De Nicola, da Acqua Vero Investimentos, escritório ligado ao BTG Pactual, gosta mais de GOLL4.
“Hoje, segundo o BTG, a Gol é a principal escolha do setor, por ter maior exposição ao mercado doméstico e por ser líder do seu segmento”, justifica De Nicola.
Por outro lado, Luan Alves argumenta que “a Azul tem uma malha melhor que a Gol, é monopolista nos trechos que faz e é uma tese que, hoje, oferece melhor risco-retorno”.