Com Selic em alta, vale a pena investir no Tesouro Prefixado ainda em 2024?
Especialistas apontam que as taxas estão altas, mas isso pode significar tanto uma oportunidade, quanto um sinal de alerta para o investidor
As recentes altas na taxa Selic atraem as atenções de muitos investidores para os ativos de renda fixa, especialmente os títulos do Tesouro Direto. Contudo, há diferentes tipos de títulos para o investidor considerar, com características distintas. Por exemplo, vale a pena investir hoje no Tesouro Prefixado?
A resposta curta de especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira é que as taxas atuais estão em um patamar alto, dos maiores da série histórica. Contudo, isso, no final, apesar de poder ser uma oportunidade, também representa um sinal de alerta para o investidor.
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De um lado, a taxa está de fato alta e pode valer a pena. Por outro lado, a questão fiscal pode piorar ainda mais o cenário econômico e político, o que faria a Selic subir e prejudicaria esse investidor na marcação a mercado.
A saída, de acordo com especialistas é que, se for fazer a alocação, que esta seja feita de forma tática. De olho no perfil de investidor e tolerância a riscos, mas principalmente inserida em uma carteira diversificada, que tenha a maioria da sua alocação em outros títulos, especialmente pós-fixados e IPCA+.
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Atualmente, os títulos do Tesouro Prefixado estão pagando taxas na casa dos 13% ao ano. O título mais curto, que vence em 2027, hoje paga 13,28% ao ano ao investidor, dois pontos percentuais acima da Selic. Vamos entender por que isso está acontecendo, do que se trata o Tesouro Prefixado e quais as oportunidades e cuidados a se tomar.
Como funciona o Tesouro Prefixado?
O nome pelo qual conhecemos o título é um bom resumo de como ele funciona. O Tesouro Prefixado ganha esse nome porque a taxa de remuneração do investidor é fixada no momento do investimento e não muda mais, faça chuva ou faça Sol. É diferente de outros títulos cujas rentabilidades sobem ou descem seguindo a Selic ou a inflação.
De acordo com os especialistas ouvidos pela reportagem, as taxas estão em um patamar alto visto poucas vezes na história recente. No entanto, isso também é um sinal de alerta para o investidor.
“Se essas taxas estão subindo, é porque o ambiente de risco aumentou. Diante dos desafios atuais do governo, ou seja, descontrole das contas públicas, a taxa precisa subir para atrair os investidores”, afirma Daiane Gubert, head de assessoria de investimentos da Melver.
E isso é um ponto crucial para entender o Tesouro Prefixado porque esse título está sujeito à marcação a mercado. Ou seja, se o investidor antecipar o seu resgate, ele receberá de volta o valor do título naquele dia, o que pode representar tanto um lucro ainda maior quanto um prejuízo.
“Se algo acontecer, tivermos uma piora, o corte de gastos for abaixo do esperado, os juros futuros podem subir ainda mais. Você pegou [o título] em 13% ao ano e nessa situação ele está negociado a 13,5% ou 14% ao ano. Mesmo assim você vai estar em uma taxa alta, mas deixou de ganhar uma parte e estaria prejudicado numa saída a mercado”, afirma Vítor Oliveira, sócio da One Investimentos.
Vale a pena investir hoje no Tesouro Prefixado?
Os especialistas não têm uma resposta única sobre o tema. A avaliação é que as carteiras mais conservadoras hoje devem ser compostas, prioritariamente, por títulos que entreguem mais essa segurança caso a situação política e econômica piore.
Como, por exemplo, os pós-fixados (Tesouro Selic), cuja remuneração sobe se os juros subirem. E os atrelados à inflação (Tesouro IPCA+), que também tem uma remuneração que cobre caso os preços disparem.
Contudo, isso não significa necessariamente, para todos os especialistas, dizer adeus ao Tesouro Prefixado. Santiago Schmitt, head de renda fixa da Manchester Investimentos, vê espaço para uma “alocação tática” em uma possível oportunidade.
A avaliação de Schmitt é que a precificação da curva futura de juros, de que a Selic tenha de subir até se aproximar de 14% ao ano, pode não se cumprir. Nesse caso, quem colocar uma pequena parte do seu patrimônio no Prefixado poderia se beneficiar na marcação a mercado, por essa expectativa não se confirmar.
“Prefixado de curto prazo parece uma oportunidade dado o momento em que estamos. O mercado está precificando mais o que o Banco Central deveria fazer do que aquilo que ele vai fazer”, opina. “Parece improvável que [Gabriel] Galípolo, alinhado ao governo federal, tenha uma postura tão ortodoxa”, diz, citando o futuro presidente do BC.
Vítor Oliveira, da One Investimentos, também vê que “Tesouro Prefixado é interessante em momentos de estresse”. Contudo, ele também defende um olhar mais atento aos títulos de maior segurança e essa alocação como algo mais pontual, para ser feita aos poucos acompanhando o movimento do mercado.
Olhos para o Tesouro IPCA+
Daiane Gubert, da Melver, não vê o Tesouro Prefixado neste momento como uma boa opção. “Em um cenário de alta de juros, não é recomendado contratar uma taxa prefixada, pois há o risco que ela se torne menor do que a própria Selic”, diz ela.
A especialista também recomenda um olhar mais atento, em razão dos fatores políticos e econômicos, para um título atrelado à inflação. “Esses fatores pressionam a inflação e ter um ativo que protege da inflação é um excelente negócio”, avalia.
Santiago Schmitt também ressalta a importância do Tesouro IPCA+. “O mercado vem dando foco para as NTN-B porque estamos nesse nível de taxa que não víamos desde o Dilma 2, a preocupação com o déficit fiscal aumentou”, diz.
“É um ativo que se comporta bem mesmo em momentos mais pessimistas. Se for um cenário mais favorável, com alívo monetário, pode-se ter uma venda antecipada com ágio”, completa.