Tesouro Direto: papéis fecham mês com oportunidades

As maiores perdas prevaleceram entre os títulos atrelados à inflação e de longo prazo. Os papéis mais indicados para os próximos meses são os de curto prazo

A rentabilidade dos títulos do Tesouro Direto fechou o mês de fevereiro sem direção única. Dos onze papéis disponíveis para investir, três avançaram e cinco recuaram – os outros três estão sendo negociados há menos tempo e, por isso, não há cálculo de retorno. As maiores perdas de fevereiro prevaleceram entre os títulos atrelados à inflação e de longo prazo, movimento comum em cenários de instabilidade.

O resultado acima do esperado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação; a discussão da PEC dos combustíveis no Congresso; e a tensão geopolítica entre a Rússia e a Ucrânia contribuíram para a percepção de incertezas de um mês movimentado.

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A agitação, no entanto, não vai acabar junto com o mês de fevereiro. Por isso, o economista da Zahl Investimentos, Joni Vargas, orienta que os investidores busquem títulos atrelados à inflação. “Porque você tem boas taxas disponíveis e a certeza de que vai receber a remuneração de volta, é o melhor na relação risco-retorno. É um momento interessante para a entrada de novos investidores”.

A recomendação é reforçada pela analista de renda fixa da XP Investimentos, Camila Dolle. “Quando a gente tem títulos com preços mais baixos e taxas mais altas, pode ser uma oportunidade para quem precisa alocar dinheiro em ativos que sofreram marcação para baixo, mas sempre com cautela com relação a prazo porque o cenário é de incerteza”.

Com isso, os papéis mais indicados para os próximos meses são os de curto prazo. “Tesouro Selic com vencimento inferior a cinco anos está interessante agora que a taxa básica está em dois dígitos e deve permanecer assim até o fim do ano. A mesma lógica de prazo serve para o IPCA+”, recomenda Adriano Rondelli, especialista da Valor Investimentos.

A expectativa para a Selic, taxa básica de juros da economia, no final de 2022 se manteve em 12,25% no último Boletim Focus divulgado pelo Banco Central (BC) na última segunda-feira (21). O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu elevar a Selic em 1,5 ponto percentual, a 10,75% ao ano, o maior nível desde outubro de 2017, no último encontro do ano, no começo de dezembro. Foi a oitava alta consecutiva e a subida já era esperada pelo mercado.

O mesmo relatório apontou que a expectativa do mercado para a inflação medida pelo IPCA em 2022 aumentou de 5,50% para 5,56%. Essa já é a sexta semana de aumento consecutivo na projeção.

Os títulos que oferecem maiores riscos são os de longo prazo do Tesouro IPCA+, dizem os especialistas. Os papéis com vencimento entre 2032 e 2055 têm o maior prazo entre os disponíveis para investimento no Tesouro Direto atualmente. E, justamente por estarem mais expostos à volatilidade, são considerados mais arriscados. Isso acontece porque é mais difícil prever como estará a situação da economia do país em 2032, ou ainda mais longe, em 2055. Assim, é comum que o preço desse título tenha oscilação grande ao longo do tempo no mercado.

Na semana passada, papéis com vencimentos mais longos ficaram disponíveis no mercado de títulos públicos em substituição a outros. Entre os prefixados, o Tesouro com vencimento em 2025, 2029 e 2033, mais pagamentos de juros semestrais, passaram a ser operados no lugar dos títulos com prazo para 2024, 2026 e 2031.

No Tesouro Selic, o menor prazo ficou para 2025, e não mais 2024. Já entre os títulos atrelados à inflação, passou a estar disponível o papel com vencimento em 2032, com pagamento de juros semestrais, que substituiu o título com vencimento em 2030.

Valorização

Os papéis de longo prazo atrelados à inflação foram os que mais caíram em fevereiro. Os títulos com vencimento em 2045 recuaram 2,68% neste mês. A aplicação mínima para esse papel é de R$ 32,01, e esse título oferecia, nesta sexta-feira (25), retorno de 5,68% ao ano. No mês passado, o mesmo papel apresentou queda de 11,71%.

Assim como nos últimos meses, os títulos atrelados à Selic fecharam o mês no patamar positivo (em termos nominais, sem considerar a inflação). As taxas dos títulos com vencimentos em 2025 e 2027 registraram ganhos de 1,05% e 1,27%, respectivamente.

O prefixado de curto prazo, com vencimento em 2025, registrou alta de 0,46%. O mesmo ativo tinha aplicação mínima de R$ 36,88 e retorno de 11,34% ao ano nesta sexta-feira. Os demais papéis prefixados, recém disponibilizados pelo Tesouro Direto, ainda não possuem cálculo de retorno.

Vale lembrar que tanto nos papéis prefixados como naqueles indexados ao IPCA, quanto maior a taxa, menor o preço. Quando as taxas sobem, portanto, apesar de ser uma boa notícia para quem vai investir — já que assegura rentabilidade maior se mantiver a aplicação até o vencimento —, o valor de mercado dos papéis diminui, o que implica em perda temporária para quem possui os títulos na carteira.

A marcação a mercado pode trazer muita volatilidade ao investimento em Tesouro Direto. Tanto para o lado do bem, ampliando seu retorno potencial, como para o lado negativo, abrindo espaço para prejuízos, como aconteceu em novembro com os títulos atrelados à inflação e com juros prefixados.

Essa oscilação só atinge os investidores que resgatam os investimentos antes do fim do prazo “combinado” com o governo. Se levar o título até o seu vencimento, o retorno acordado na hora da compra está garantido.

O que esperar para março?

Março é o mês que o Federal Reserve (Fed), banco central americano, deve elevar os juros dos Estados Unidos e quando acontecerá mais uma reunião do Copom no Brasil. Ambos os eventos devem impactar os retornos dos títulos do Tesouro Direto. “A gente precisa acompanhar o que o mercado vai ajustar de expectativas de juros, sobretudo depois dessa invasão da Rússia na Ucrânia. A mensagem do Banco Central sobre intenção de aumento e velocidade dos juros, pós reunião do comitê, também deve sinalizar os próximos rumos econômicos”, afirma Dolle.

E o aumento da inflação não deve aliviar para o mercado de títulos públicos em março. Para Rondelli, a tensão geopolítica na Europa será o protagonista nesse quesito. “Uma guerra tem potencial grande de afetar os preços das commodities, petróleo principalmente por causa da relação com a Rússia. Isso tudo impacta bastante o nível de inflação do mundo, que já está bem alta”.

Commodities metálicas e agrícolas, assim como as de energia e minerais, devem ser as mais afetadas no próximo mês. “Certamente esses serão os setores mais afetados com essa guerra que se desenha, se durar. O que vai forçar os bancos centrais do mundo a aumentar os juros para controlar a inflação mundial, impactando nos preços dos ativos”, explica Vargas.

Qual título comprar?

Pensando na cautela necessária para o cenário de riscos atuais, os analistas indicam os títulos pós-fixados para os investidores em março. “Mas, para prazos mais longos e investidores mais arrojados, olhamos com bons olhos os títulos de inflação com cinco anos de prazo. Os títulos mais arriscados em termos de oscilação são os prefixados de longo prazo”, diz a analista da XP.

A dica de ouro do economista da Zahl é aplicar uma parte em prefixados mais curtos; a reserva de emergência em pós fixados; e alongar a carteira com os títulos de inflação. “A ideia é pegar o Tesouro Prefixado de curto vencimento, no máximo três anos. Os pós fixados para aproveitar a Selic subindo. E usar os IPCA+ para prazos maiores”. Ele cita, como títulos preferenciais, o Tesouro Selic 2025, Tesouro Prefixado 2025 e Tesouro IPCA+ 2032.

Para os investidores mais arrojados, o especialista da Valor destaca a oportunidade do Tesouro IPCA+. “Quem tem mais estômago, pode apostar no médio a longo prazo dentro dos títulos atrelados à inflação. Estamos falando de taxas excelentes, se aproximando de 6%, cujo ganho é bem expressivo e onde você consegue se proteger da inflação, se levar até o vencimento”.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

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