Registro de emissão de debêntures salta 175% em 2024 após novas regras para CRIs e CRAs
Segundo estudo realizado pelo Itaú BBA, no primeiro trimestre foram protocolados R$ 104 bilhões em registros de novas debêntures na CVM
Com boa parte das ações de empresas ainda apanhando na bolsa, o apetite do investidor pelos ativos de crédito corporativo vem movimentando o mercado financeiro. No primeiro trimestre de 2024, foram protocolados R$ 104 bilhões em registros de novas debêntures na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A cifra representa uma aceleração de impressionantes 175% na comparação com o mesmo período do ano passado, quando R$ 37,9 bilhões entraram na fila para negociação no mercado.
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O levantamento, obtido por exclusividade, foi realizado pelo Itaú BBA. A instituição computou tanto as debêntures tradicionais, quanto as incentivados, como são chamadas as isentas de cobrança de imposto de renda.
Registros crescem 13 vezes em 2024
De todo esse universo, o nicho de debêntures incentivadas foi o que mais avançou – um salto de 13 vezes de um ano para o outro, apesar da base bem menor. O volume de incentivadas registradas saiu de R$ 2,6 bilhões no primeiro trimestre do ano passado, para R$ 34,8 bilhões agora, em 2024.
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As debêntures incentivadas são emitidas por empresas para financiamento de projetos de infraestrutura, nos setores de iluminação, mobilidade urbana e saneamento básico.
Os títulos tradicionais, por sua vez, cresceram 96,60%. Foram de R$ 35,3 bilhões entre janeiro e março do ano passado, para R$ 69,4 bilhões neste ano.
CRIs e CRAs também explicam
A descoberta da fraude fiscal na Americanas (AMER3) e os problemas de crédito com Light (LIGT3) explicam em parte a expansão no registro de debêntures de 2023 para 2024. Logo após os eventos, o mercado de crédito pisou no freio.
No entanto, Gilberto Kfouri, responsável por renda fixa e pelos multimercados do BNP Paribas, aponta que a demanda por ativos também cresceu motivada pelo desempenho dos papéis.
“Os prêmios estão fechando e a Selic está caindo, mas os prêmio é ainda bastante interessante para o investidor”, conta.
Luís Nazário, gestor de fundos de crédito da Principal Claritas, também lembra que, desde a mudança nas regras para emissão dos certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) e do agronegócio (CRAs), as debêntures – principalmente as incentivadas – se transformaram nas vedetes da renda fixa.
“As novas regras para CRIs e CRAs vão trazer muitos investidores para as debêntures. Com a demanda forte, a oferta cresceu também”, explica.
Em fevereiro, o Conselho Monetário Nacional (CMN) alterou as regras para os lastros elegíveis de emissores de CRIs e CRAs. Com isso, o número de novas emissões desses títulos secou, empurrando o mercado para as debêntures, principalmente as incentivadas.
Fechamento de prêmios
Como esperado, a demanda crescente já impacta na rentabilidade dos títulos, que estão em queda livre. Segundo o levantamento do Itaú, as emissões protocoladas de debêntures incentivadas de baixo risco já estão no patamar de julho de 2022.
Alguns casos são extremos, como por exemplo o da empresa de ferrovias Rumo (RAIL3). A companhia protocolou em março duas séries, uma com vencimento dez anos, e outra mais longa, para 15 anos.
Na mais curta, os papéis contavam com preço indicativo sem spread, ou seja, equivalente ao IPCA. Na mais longa, o prêmio sugerido seria equivalente à NTN-B35.
No fim das contas, a companhia conseguiu levantar R$ 1,2 bilhão, mas os investidores exigiram um prêmio um pouco maior. As debêntures de 10 anos saíram ao valor da NTN-B, acrescido de um pequeno spread de 0,15%. A série de 15 anos, além da NTN-B, foi acrescida de juros de 0,25%.
“O prêmio é baixo, mas a empresa é ótima pagadora”, diz Nazário, da Claritas.
Ele explica que como é uma debênture incentivada e não paga Imposto de Renda, o efeito para o investidor é um adicional de 1,5% ao ano sobre o investimento. A NTN-B, hoje, paga ao investidor cerca de 6% de juros ao ano ano.
“Com as Bs (NTN-Bs) pagando perto de 6%, não faz o menor sentido investir em outro negócio hoje, mesmo com a redução dos spreads”, destaca Kfouri, do BNP Paribas.