Quer debênture AAA e com alto rendimento? Isso pode não existir, diz executiva da Bradesco Asset
Ana Luísa Rodela diz que rating das agências de classificação de risco não é suficiente para investidor encontrar melhor equilíbrio entre liquidez, segurança e rentabilidade
Aplicações em dívida privada devem crescer ainda mais em 2025. Porém, o investidor deve redobrar os cuidados antes de sair comprando papéis, como debêntures.
O alerta é da chefe de gestão de crédito da Bradesco Asset Management (Bram), Ana Luísa Rodela.
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Segundo ela, o cenário de juros em alta e economia desacelerando amplia os riscos para empresas e seus credores. Por isso, o crivo sobre a qualidade dos emissores também tem que crescer.
Nesse sentido, usar como filtro as debêntures que possuem rating AAA, nota máxima de qualidade pelas agências de classificação de risco, pode não ser suficiente, pondera Ana Luísa.
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Por isso, a Bram usa um filtro mais rigoroso. Então, “no máximo 7% das empresas que recebem triplo AAA das agências de rating têm a mesma nota conosco”, disse à Inteligência Financeira.
A gestora tem uma equipe de 22 analistas de crédito privado, cuja tarefa principal é esmiuçar os riscos das emissões, incluindo muitos que não são fáceis para o grande público detectar.
Isso inclui fatores como participação de mercado da emissora, histórico de acionista, dependência de fornecedores e clientes. E até a geografia escolhida para resolução de potenciais litígios.
Então, o trabalho é encontrar as melhores dentre as melhores. “Passamos uma peneira no que já foi peneirado”, ilustra ela.
O resultado desse trabalho de análise é a conclusão frequente de que papéis que oferecem rentabilidade maior também têm mais risco.
“Não tem almoço grátis”, ensina a executiva.
No caso da Bram, isso significa um universo hoje restrito a 127 grupos econômicos.
Esse trabalho permitiu a gestora escapar de eventos de crédito dos últimos anos, incluindo os que levaram Americanas (AMER3) e Light (LIGT3) à recuperação judicial, contou.
Oferta de debêntures cresce. Os riscos, também
Os comentários da especialista acontecem na esteira de sucessivos recordes de emissão de debêntures no Brasil.
Segundo dados da Anbima, nos primeiros 11 meses de 2024 essa modalidade levantou R$ 450,5 bilhões, montante 106% maior do que um ano antes.
Como o mercado para captar recursos via venda de ações deve seguir fechado, diante do cenário mais adverso, as debêntures podem se manter como opção para as empresas.
Contudo, o mix de juro alto e economia desacelerando tende a criar desafios para as emissoras, pondera Ana Luísa.
“Em 2025, vamos ver mesmo empresas boas passando por dificuldades”, prevê a executiva da Bram.
Dentre os setores que são presença frequente nas emissões de debêntures e que exigem atenção do investidor, segundo ela, estão geração de energia e saneamento básico, que enfrentam desafios setoriais. Ela não citou nomes.
Ilustrando esse cenário, na semana passada, a fabricante de pás para geração eólica Aeris propôs mais prazo para pagamento de juros de debêntures.
A Aeris citou as atuais perspectivas macroeconômicas e de seu setor, além da perspectiva futura de geração de caixa, como justificativas para o pedido.
Foco em liquidez exige crivo maior na escolha de ativos
Com R$ 924 bilhões sob gestão (dados de outubro), a Bram é uma das maiores do setor no País e atende clientes de varejo, empresas e fundos de previdência por meio de fundos.
Embora com perfis distintos, essas categorias têm uma característica comum ao investidor brasileiro: a demanda por liquidez.
Em muitos casos, tratam-se de fundos que permitem ao cliente o resgate imediato da cota.
Por isso, além da seleção de ativos com melhor qualidade (mais resilientes em períodos de mercado adverso), os gestores precisam montar uma cesta diversificada e serem ágeis quando necessário.
É um conjunto difícil para um investidor mediano que não tem experiência, instrumentos nem tempo para gerir seus ativos, diz Ana Luísa.
“Por isso, é melhor terceirizar com um gestor de confiança.”
Cuidado com infraestrutura e agronegócio
Para a especialista da Bram, suas recomendações valem ainda mais para as emissões ligadas a projetos de infraestrutura.
As de melhor qualidade, diz ela, costumam ser emitidas para investidores especializados, como bancos, que os mantêm em carteira.
Já aquelas que vão para o mercado exigem um crivo muito detalhado dos investidores, diz ela.
Dos 48 ativos dessa categoria que a Bram analisou, a gestora só aprovou 10. Essa categoria surgiu no ano passado.
“Eu esperava ver coisas muito mais amarradas, mas têm vindo operações muito frouxas para o mercado”, disse a executiva, referindo-se à qualidade das emissões.
Além disso, Ana Luísa também orienta o investidor a ter bastante cuidado com ativos ligados ao agronegócio, inclusive os incentivados, como os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), dadas as características regionais, de cada segmento de atividade e da volatilidade dos mercados.