Posse de Donald Trump: o que esperar da economia, inflação, bolsa e juros dos EUA?

Tarifas, corte de impostos e deportação em massa: o que esperar da economia dos Estados Unidos com o retorno de Donald Trump à Casa Branca

Donald Trump retorna à Casa Branca em 2025: entenda como investir nos EUA e o que esperar da economia do país sob  seu segundo mandato. Foto: Gage Skidmore/Flickr
Donald Trump retorna à Casa Branca em 2025: entenda como investir nos EUA e o que esperar da economia do país sob seu segundo mandato. Foto: Gage Skidmore/Flickr

Talvez no maior retorno político da década, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, toma posse nesta segunda-feira (20) e retorna à Casa Branca depois de ser derrotado por Joe Biden em 2020. O republicado promete trazer consigo uma série de medidas que deve afetar de forma severa a economia, os juros e a inflação dos EUA. A forma de investir por lá também sofre mudanças, dizem especialistas.

Deportação de imigrantes ilegais, corte de impostos, e imposição de tarifas comerciais à países como a China estão entre as medidas prometidas por Trump. E elas trazem seus efeitos.

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Juros sob Trump podem atrapalhar economia dos EUA

Logo antes da posse de Donald Trump, a taxa de juros nos Estados Unidos permanece uma das maiores incertezas da economia americana.

Desde a virada do ano, os Treasuries de 10 anos saltaram de 4,57% para 4,79%, após desacelerarem.

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Sob Trump, as taxas de juros dos EUA devem permanecer mais altas do que o esperado ao final de 2024 pelos economistas.

A medida de aplicar tarifas comerciais contra Canadá, China, México e outros países, nesse sentido, pode provocar mais inflação nos EUA e obrigar o Federal Reserve a cortar os juros apenas uma ou duas vezes em 2025. Esta é a avaliação de José Maria Correia da Silva, coordenador de alocação e inteligência da Avenue.

“As taxas do Tesouro americano sobem desde outubro porque o mercado tenta se antecipar às tarifas”, destaca Silva.

Por outro lado, dados mais recentes de inflação mostraram que os juros ainda têm espaço para cair. O Índice de Preços ao Consumidor (CPI na sigla em inglês) indicou que o núcleo da inflação americana cresceu 0,2% em dezembro, abaixo do 0,3% esperado.

Para Thomas Haugaard e Mario Aguilar, gerente de portfolio e estrategista da Janus Handersen Investmentes, os números da inflação mais recentes nos EUA “ajudam muito a dar ao mercado confiança de que o Fed está no caminho certo”.

“Talvez mais importante do que isso, as cifras tiram do caminho uma alta dos juros na economia dos EUA, o que muitos participantes do mercado começaram a considerar prematuramente”, dizem à Inteligência Financeira.

Mesmo assim, é esperado que a taxa neutra seja um obstáculo para algumas das políticas de Trump, argumenta Gino Olivares, economista da Azimut Wealth no Brasil. Para ele, a estimativa é de que os juros se estabilizem perto de 4,0% sob Trump, taxa adequada para a economia americana ainda aquecida e criando 220 mil vagas de emprego ao mês.

Corte de impostos e fiscal apertado: Trump pode gerar inflação

A inflação da economia dos EUA sob Trump pode piorar por meio do corte de impostos sobre empresas.

A Janus Hendersen, nesse sentido, entende que o republicano deve ensejar algo parecido com o que fez em seu primeiro mandato.

“O mercado espera que o Fed libere menos a política monetária devido às preocupações com as tarifas alfandegárias e algum alívio fiscal, o que pode ter efeitos inflacionários (como aconteceu no início do primeiro mandato de Trump).”

Os alívios tributários de 2017 devem ser renovados por Trump.

“São bilhões que o governo americano vai deixar de arrecadar”, diz José Maria. “Mas o consumidor vai ter mais dinheiro no bolso para gastar”, completa.

Se a política fiscal na economia pode ser parecida, o déficit do governo dos EUA piorou desde que Trump assumiu a Casa Branca pela primeira vez. Em 2017, rondava em torno de 102% do PIB. Oito anos depois, ultrapassa 120%.

“O espaço fiscal para realizar novos cortes de impostos é muito menor. Isso pode levar a uma dificuldade de aprovar as medidas no Congresso, já que a base republicana de Trump já se provou não ser tão firme ao rejeitar a proposta de teto de despesas de Elon Musk”, diz Olivares.

Tarifas não devem gerar inflação na economia dos EUA

Por outro lado, o economista explica que as tarifas comerciais contra países vizinhos e a China não são inflacionárias porque tem efeito one off. Ou seja, o impacto na inflação é imediato, e não residual.

“E, portanto, o impacto não é tão significativo”, sinaliza o economista da Azimut Wealth. “As tarifas de Trump não devem gerar uma dinâmica inflacionária durante meses, mas geram aumento de dinâmica de preços. Isso leva à uma economia mais cara”, afirma.

Mas isso não quer dizer que as tarifas não tenham efeito agudo na economia dos EUA. O dólar deve se fortalecer com novas taxas comerciais, e o custo de importação, muitas vezes antecipado por indústrias, varejo e outros setores, deve aumentar. Esta é a análise de Lia Valls, pesquisadora associada do FGV-IBRE e professora da UERJ.

“Veremos forte desaceleração do comércio mundial”, pondera Lia.

A Oxford Economics prevê tarifas adicionais de 30% para todos os produtos importados da China. Para a Europa, a taxa seria de 25%, mas para bens selecionados.

“A Europa pode muito bem ser a região mais afetada na economia global por um cenário de guerra comercial”, diz a Janus Hendersen. A China deve agir para não deixar as tarifas desestimularem a economia local.

Onde investir nos EUA com Trump no poder?

Com a posse de Trump, investir nos Estados Unidos abre algumas oportunidades para dolarizar retornos.

Na renda fixa, o estrategista da Avenue, José Maria Correia, recomenda investir nos títulos do Tesouro dos Estados Unidos.

“A renda fixa atrelada a juros continua pagando um prêmio em dólar que é extraordinário, perto de 4,75%. E acima da média histórica”, afirma o especialista. É, de acordo com ele, uma “oportunidade de dolarizar o retorno com uma taxa que não víamos desde 2007”, antes da recessão global.

Ao mesmo tempo, a bolsa deve continuar aquecida, mas com outros setores tomando a dianteira assumida pelas big techs como Nvidia e Microsoft.

Na bolsa de valores, os retornos do S&P 500 devem cair em 2025.

O índice saltou 23% no ano passado, mas deve subir 12% neste ano, de acordo com expectativas do Morgan Stanley. A meta do banco como cenário-base é um avanço do S&P para 6.500 pontos até o fim de 2025.

Enquanto a expectativa é de retorno mais tímido para o S&P sob Trump, destaca Paula Zogbi, gerente de research da Nomad, alguns setores podem se sair melhor.

“Na economia dos EUA, o setor de bancos no S&P 500 ganham com Trump pelas mudanças de fomento de mercado de capitais, e corte de impostos. Também temos o segmento de energia, com aumento de oferta de combustíveis fósseis”, diz ela.

Nesse sentido, empresas de porte médio listadas nas bolsas americanas merecem mais atenção do investidor, aponta Paula. A economia dos Estados continua em bom momento, e essas empresas ficaram de fora da valorização do S&P.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

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