Gestora projeta política econômica inflacionária e possível recessão nos EUA com vitória de Trump
Confira sugestões para ter uma carteira global, de acordo com analistas
Em sua carta mensal de agosto, intitulada “Trumpnomics 2.0”, a TAG Investimentos destaca o favoritismo de Donald Trump na corrida presidencial norte-americana após o atentado contra o republicano.
“Por uma questão de milissegundos, ao invés de termos assistido, ao vivo, a cena de um ex-presidente ter sua cabeça explodida por uma bala de AR-15, vimos Donald Trump sair triunfante, punho cerrado, gritando ‘lute’ e com ferimentos superficiais na orelha direita. Com isso, ele, que já tinha vantagem nas pesquisas, em especial nos ‘swings states’, os estados que de fato definem as eleições, abriu ainda mais a dianteira nas últimas pesquisas e também nas bolsas de apostas. O mercado financeiro já trata sua eleição como cenário base”, diz o documento.
Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS
Assim, informa a gestora, o desafio passa a ser entender quais políticas esse governo Trump irá implementar, pois possivelmente, além da presidência, o Partido Republicano deverá fazer o “sweep”, ou seja, maioria no Congresso e no Senado.
“Se isso acontecer, Trump passa o que quiser”, frisa o relatório da TAG.
Últimas em Investir no Exterior
Declarações de Trump
A gestora, então, fez um compilado de uma entrevista que Trump concedeu à Business Week, bem como de outras declarações do republicado de seu vice, JD Vance. Confira abaixo.
- Os Estados Unidos têm um problema com o yen (e o yuan) fracos e competitivos. De fato, hoje é mais barato produzir no Japão do que na própria China. O Japão está absurdamente barato. “Trump quer um dólar mais fraco. Vai conseguir?”, questiona a TAG.
- Trump vai colocar tarifas de importação lineares de 10% e, no caso da China, de números que chegam em até 60%. Ele cita nominalmente que são excelentes para se abrir qualquer negociação, pois o adversário já começa levando gol e querendo fazer um acordo. “A racional dele é clara. Com tarifas altas, ele convida as empresas estrangeiras a produzirem nos Estados Unidos e a criarem “american jobs”, pontua a gestora.
- Trump disse que manteria “Jay” Powell no comando do FED, desde que ele estivesse fazendo a coisa certa. Ou seja, de acordo com a TAG, quer um banco central obediente e mantendo juros baixos.
- O republicano declarou que vai manter “Nancy Pelosi (presidente emérita dos democratas) e seus adeptos” longe das carteiras de criptomoedas das pessoas. De acordo com a TAG, “há leituras, inclusive, de que ele considera ter parte das reservas dos Estados Unidos em bitcoin”.
Ambiente “frouxo” em regulações
- Além disso, com Trump,podemos esperar um ambiente mais frouxo em termos de regulações, como é praxe em governos republicanos. Também podemos esperar um governo ainda mais gastador do que o de Biden.
- Em termos geopolíticos, Vance disse que os EUA têm que focar em China, que é o grande adversário. Trump disse que se Taiwan quiser proteção, deverá pagar, como se fosse uma apólice de seguro. “Definitivamente aqui vemos um geopolítico ainda mais conflituoso e ruidoso, com Ucrânia (e Europa) abandonadas à própria sorte”, destaca a gestora.
Política econômica inflacionária
A partir desse cenário, a TAG afirma conseguir esboçar uma política econômica inflacionária, tanto pelos maiores gastos quanto pelo “tarifaço” colocado nas importações. E, em um segundo momento, um consumidor já sofrendo com o alto nível de preços e uma economia que começa a desacelerar.
“Se ainda tiver um tarifaço, aumentando os preços de sua cesta de consumo, a tendência será uma redução ainda maior no consumo, o que pode levar os Estados Unidos a uma recessão”, projeta a gestora.
Juros
Em relação à curva de juros, a TAG pontua que “um Fed (banco central dos EUA) talvez domesticado e um fiscal selvagem nos levam para uma curva positivamente inclinada, com taxas de juros de longo prazo bem superiores às de curto prazo”.
“Quando pensamos no dólar, suas políticas são a favor de um dólar forte, porém o desejo é de desvalorizar a moeda. Como? Ao apontar a bitcoin como reserva de valor, Trump dá uma pista de como pode induzir esta desvalorização, ao dizer que busca outras fontes de reserva de valor”, aponta a carta mensal da gestora.
Em termos de investimentos, o documento ressalta que é preciso tomar cuidado com o cenário:
“Se por um lado a vitória de Trump é provável, ela não é certa. No dia 21 de julho tivemos o anúncio formal da desistência de Biden à reeleição, endossando Kamala Harris, atual vice-presidente. E, neste mundo em que vivemos, pode acontecer de tudo”.
Logo, diz a TAG, “ir ajustando o portfólio para esse novo mundo de Trump é mais arte do que ciência”.
“Achamos prudente irmos fazendo isso de forma gradual, na medida em que o grau de certeza for aumentando”, conclui a gestora.
Carteira global em cenário com Trump favorito
A seguir, confira algumas ideias para uma carteira global, de acordo com a TAG Investimentos:
- Em um mundo inflacionário, no qual o fiscal se sobrepuja ao monetário, tendemos a gostar mais de juro real (TIPS) do que juro nominal (por exemplo, TLT). Também neste mundo, gostamos bastante de operações que ganhem com o aumento da inclinação da curva de juros americana.
- Em termos de moedas, achamos que uma boa diversificação aqui é interessante. Por isso, mantemos e até aumentaremos nossa exposição de ouro e outros ativos reais inflacionários, como o cobre. E também começamos a olhar com bons olhos a bitcoin. “Nunca pensei que fosse escrever isso”, diz a TAG. O ouro funciona também como uma proteção geopolítica.
- Em bolsa, achamos que o SP500 está muito bem precificado, e gostamos de investimentos como RSP (o SP500 com igual peso), XLF (setor financeiro) e XLV (setor de saúde). Os dois últimos ganhando com a desregulamentação. “O setor financeiro ganhando também com uma curva mais empinada. Começamos a olhar para mercados emergentes como o Brasil, que produzem commodities, aqui abrindo um parêntese que o Brasil, além do vento externo, necessita lidar com suas próprias questões e dificuldades internas”, pontua a gestora.
- Este mundo “trumpniano”, caso se confirme, será um mundo mais volátil, de acordo com a TAG. Isso nos remete a trabalhar com maior nível de caixa, para aproveitar mais as oportunidades, bem como de forma mais tática e usando de instrumentos que tenham convexidade (opções) para a proteção de carteira.
Muita água para correr
“Apertem os cintos, estamos no parque de montanha russa ‘Six Flags’ e já estamos começando a vivenciar o ‘Trump Ride’. E agora, com a entrada de Kamala Harris, os democratas ganharam um novo fôlego, trazendo uma nova atração ao parque: a emocionante ‘Kamala Coaster’, que parece surfar a animação de ser novidade”, diz a carta mensal da TAG.
Por fim, a gestora salienta que “tem muita água para correr até as eleições”. A ver.