Bolsa argentina valoriza mais de 60% no ano. É hora de investir nas ações dos hermanos?
Levantamento ainda compara os principais índices de bolsa ao redor do mundo
O S&P Merval da Argentina destaca-se como o índice de melhor desempenho em 2024. Até 31 de outubro, a bolsa registra uma valorização de 63,42% – em dólares. É o que aponta levantamento realizado pela Elos Ayta Consultoria com um panorama dos principais índices de bolsa ao redor do mundo neste ano. Diante desse cenário, será que é hora de investir na Argentina? Confira o que dizem os especialistas consultados pela Inteligência Financeira.
É hora de investir na Argentina?
De acordo com Victor Furtado, head de alocação da W1 Capital, este pode ser um bom momento para investir na bolsa argentina. “A gente está vendo o país com muitos bons olhos. Principalmente depois da vitória de Javier Milei e de todo esse novo viés que ele está colocando na economia da Argentina. Ele vem conseguindo melhorar as contas públicas e a inflação”, afirma o especialista.
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Furtado destaca também a aproximação de Milei com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. “A Argentina tem bastante produção de milho e de soja. Consequentemente, a gente viu no governo Trump passado, em meio à guerra comercial com a China, países como Brasil e outros emergentes, principalmente os parceiros do republicano, se dando muito bem. Acabam sendo os receptores dessa demanda. Então, o setor de commodities agrícolas e a Argentina podem se dar muito bem, principalmente se a gente tiver uma guerra comercial mais acirrada entre China e EUA”, ressalta o especialista.
Retorno de 30%: é possível?
Na avaliação de Lucas Sigu Souza, sócio-fundador da Ciano Investimentos, o fato de a Argentina estar em um lugar um pouco mais seguro para investir significa que naturalmente muito já foi precificado. “Assim, ela não vai dar o mesmo retorno que deu no último ano. Então, não acho que o investidor deva esperar 60% de retorno dolarizado. Mas, talvez, metade disso, ou seja, 30% de retorno dolarizado no próximo ano ainda é bem plausível, lógico, com risco”, projeta o especialista.
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De acordo com Souza, é preciso entender que “a economia não está 100%”. “Ainda está em reconstrução. Porém, se o investidor que é agressivo está disposto a correr risco para ter um retorno de 30% no ano em dólar, que não é algo tão fácil de encontrar, a gente entende que é, sim, uma boa oportunidade investir no mercado argentino”, diz ele.
Cautela ao investir na Argentina
Mesmo otimistas com os hermanos, os especialistas salientam que é preciso avaliar com cuidado os riscos ao decidir investir na Argentina. “É um país que tem muito histórico de crise econômica, com muitos problemas. Isso porque, apesar de eles terem controlado de certa forma a inflação, ela ainda está muito alta. Além disso, a taxa de juros está elevada, as contas do país ainda não são robustas o suficiente. Entretanto, acreditamos que, com essa nova gestão e consequentemente com uma parceria mais direta e mais clara com os Estados Unidos, eles devem se beneficiar mais ainda”, reforça Furtado.
Souza pontua que a “harmonia com o governo americano faz com que qualquer risco que se possa ter com relação à economia e à política da Argentina está bem mais mitigado”. “Então, é mais provável que se tenha retorno do que perda do investimento lá”, acrescenta ele.
O especialista da Ciano Investimentos salienta que a origem da inflação por conta das commodities está controlada. “A pandemia já se estabilizou no mundo inteiro, e a gente já conseguiu contornar essa questão. Então, por isso, entendemos que, sim, a Argentina já é um lugar mais seguro para investir”, completa Souza.
Desempenho em 2024: Merval da Argentina lidera
O levantamento da Elos Ayta Consultoria mostra que, neste ano, as bolsas latino-americanas estão entre as que mais perderam valor, enquanto alguns índices asiáticos e americanos apresentam desempenho positivo.
De acordo com a consultoria, até o final de outubro, cinco dos principais índices globais apresentam rentabilidade negativa em dólares, sendo quatro deles de países latino-americanos.
“O índice IPyC do México lidera as perdas com uma desvalorização de -25,46%, refletindo uma combinação de fatores econômicos locais e incertezas macroeconômicas. Em seguida, o Ibovespa do Brasil acumula uma queda de -19%, pressionado pela instabilidade política e pelas preocupações com a desaceleração econômica. Por fim, o CAC 40 da França, com recuo de -3,84%, completa o trio de maiores quedas no período”, diz o relatório da Elos Ayta Consultoria.
Por outro lado, o crescimento do S&P Merval da Argentina, com uma valorização de 63,42% em dólares, é impulsionado pela inflação alta no país, que leva investidores a buscar proteção no mercado acionário local.
“Na sequência, o FTSE China 50 apresenta uma alta de 27,56%, beneficiado pela recuperação de setores estratégicos da economia chinesa. O índice Nasdaq dos Estados Unidos completa o pódio com uma valorização de 20,54%, impulsionado pelo desempenho sólido das empresas de tecnologia”, afirma a consultoria.
Outubro de 2024: bom desempenho
Em outubro, o Merval da Argentina foi o único índice a apresentar valorização em dólares, com um ganho de 6,74%. De acordo com a Elos Ayta, “esse desempenho positivo destaca a resiliência do mercado argentino em um contexto de inflação e depreciação da moeda local. Isso acaba atraindo investidores em busca de proteção contra a instabilidade econômica”.
No entanto, outros índices não tiveram o mesmo fôlego. O Ibovespa do Brasil foi o índice com a maior queda no mês, recuando -7,21%. Na sequência, aparecem o AEX da Holanda (-6,04%) e o CAC 40 da França (-5,97%). Segundo a consultoria, esse desempenho negativo reflete uma onda de aversão ao risco, impulsionada pelas incertezas globais e pelos desafios econômicos domésticos.
“O levantamento da Elos Ayta evidencia um cenário desafiador para os índices de bolsa latino-americanos. Especialmente para o México e o Brasil, que estão entre os mais afetados pela volatilidade em 2024. “Em contraste, o desempenho positivo do Merval da Argentina demonstra como as condições locais, como a inflação elevada, podem impulsionar o mercado acionário como alternativa de proteção para os investidores. Além disso, a força dos índices chineses e americanos ressalta o dinamismo das economias desses países, que se destacam mesmo em um contexto global de incertezas”, conclui o relatório.