Crescimento surpreendente do PIB americano? ‘Nunca aposte contra os EUA’
A semana passada foi bastante interessante e repleta de lições
O mercado é tão dinâmico que em apenas uma semana podemos aprender várias lições com as notícias e números que acontecem nesse espaço de tempo. Crescimento surpreendente do PIB americano? Mudança de perspectiva sobre os juros nos EUA? Volatilidade do real em destaque? Confira essas e outras análises.
Dólar, PIB e estratégias: lições do mercado global
A semana passada foi bastante interessante e repleta de lições que gostaria de compartilhar com vocês. Então, vamos a elas…
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Never bet against America
Na quinta-feira (26), tivemos o anúncio do PIB americano do terceiro trimestre de 2023 nos EUA. Entre os meses de julho a setembro, a economia americana cresceu nada mais, nada menos que 4,9% em comparação ao terceiro trimestre de 2022, superando uma já forte expectativa de 4,3%.
A prévia do PIB americano demonstrou que a economia cresceu mais do que o esperado, alcançando uma robusta taxa de 4,9%, o que representa uma aceleração em relação aos 2,1% de crescimento no segundo trimestre de 2023. Esses dados indicam que a economia americana parece não estar sinalizando um “no landing”, ou seja, não há indícios de um “pouso” até o momento.
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É impressionante notar que alguns meses atrás, especialmente no início do ano, havia um certo consenso entre os agentes do mercado de que os EUA passariam por uma recessão em 2023. Acreditava-se que a desaceleração em curso naquele momento, juntamente com o aumento das taxas de juros, levaria inevitavelmente a maior economia do mundo a entrar em recessão. No entanto, em vez disso, estamos vendo uma taxa de crescimento “à la China”!
Qual é a lição aqui?
Apenas reforça o que Warren Buffett certa vez nos disse: “Never Bet Against America” (“nunca aposte contra os Estados Unidos”, em tradução livre).
Expectativas versus resultados
Na semana passada, tivemos os resultados de diversas empresas, incluindo gigantes de grande porte com elevada importância no índice S&P 500, como Microsoft, Google, Meta e Amazon.
O que chamou minha atenção foi que, em geral, essas quatro empresas apresentaram números que indicaram uma forte expansão de lucros. Por exemplo, o lucro da Microsoft cresceu 27% em comparação com o ano anterior. Estamos falando de uma das maiores empresas do mundo, avaliada em trilhões de dólares, que conseguiu alcançar um crescimento expressivo de lucro.
E não foram apenas elas; a Amazon viu seu lucro subir bem, a receita do Google voltou a crescer em dois dígitos, e as medidas de corte de gastos tiveram um grande impacto nos números da Meta.
Além disso, essas empresas superaram as estimativas do mercado. Até agora, cerca de 30% das empresas do S&P500 já divulgaram seus números, e, em geral, temos observado que a maioria delas tem superado as expectativas de receitas e lucros dos analistas.
Apesar dos bons resultados das empresas, observamos o S&P 500 e o Nasdaq continuarem em queda nesta segunda metade de outubro.
Qual é a lição aqui?
O poder das expectativas… não apenas as passadas, mas também as que as empresas têm divulgado em seus resultados, bem como as expectativas futuras! Vimos isso nas conferências de resultados, com a Amazon indicando números mais fracos do que o esperado para as vendas do quarto trimestre e a Meta comentando que suas receitas de anúncios desaceleraram no início do mesmo período devido à guerra entre Israel e o Hamas.
Aprendemos que existem diferentes tipos de expectativas!
Outra lição da semana é que mesmo os investidores mais convictos sobre um ponto entendem e reconhecem o momento de mudar de opinião. Bill Ackman e Bill Gross são dois gestores de Hedge Funds famosos e de grande porte aqui nos EUA. Na semana passada, eles reduziram algumas de suas posições, especialmente aquelas que se sairiam bem caso os juros nos EUA continuassem subindo. Em outras palavras, eles veem uma relação de risco versus retorno menos vantajosa ao acreditar nisso.
Eles ressaltam os riscos de os EUA eventualmente entrarem em uma recessão no futuro e os juros acabarem cedendo. É interessante que isso ocorra justamente numa semana em que tivemos o anúncio de um PIB americano bastante forte, como comentei anteriormente. A questão é que grande parte do mercado aposta em um arrefecimento desse crescimento para o quarto trimestre devido a alguns fatores:
- das elevadas taxas de juros que afetam o consumo (que corresponde a 68% do PIB);
- o fortalecimento do dólar, que torna os produtos americanos mais caros e tende a afetar negativamente as exportações;
- o fim das férias de verão, durante as quais muitos americanos gastaram mais em viagens, bares, hotéis e serviços em geral.
No entanto, ao analisar o PIB americano divulgado, vê-se que, além de uma boa contribuição do consumo, houve um aumento nos estoques (Inventories) em geral na economia. As empresas não aumentam estoques indefinidamente, não é mesmo? Portanto, seria normal, razoável e até esperado que essa parcela tenha menos relevância no próximo PIB, o que representa mais um fator de desaceleração olhando para o futuro.
Qual é a lição aqui?
A medida dessa potencial desaceleração da economia será um fator-chave na discussão da evolução esperada das taxas de juros daqui para frente. Grande parte do mercado aposta em uma desaceleração. Portanto, em outras palavras, o que os “2 Bills” trouxeram à tona na semana passada: talvez eles entendam que não há mais espaço para os juros subirem. Se isso for verdade, talvez este seja o melhor momento para o investidor contratar taxas de juros não vistas em décadas na renda fixa americana. Talvez esses 5% ao ano que vemos muitos títulos pagando atualmente não durem para sempre.
E. não por acaso, temos visto nos EUA um grande influxo na compra de títulos americanos
Real, um ativo de risco
Por último, mas não menos importante, aprendemos, ou relembramos (dado que essa é uma situação recorrente da qual já deveríamos ter aprendido), que o Real é um ativo de risco, o qual oscila muitas vezes ao sabor dos nuances da política econômica e de suas diretrizes. Ao relativizar a disciplina fiscal em seu comentário sobre as metas do orçamento, o presidente Lula envia um sinal que não foi bem recebido, não apenas pelo mercado, mas também por aqueles que pensam ou se preocupam com a sustentabilidade econômica do país a longo prazo.
Qual é a lição aqui?
Como reflexo, em poucos minutos, o dólar sobe de mais de R$ 4,93 para R$ 5,01 e nos lembra a importância de termos uma poupança em dólar para não ficarmos reféns de situações que vez por outra acontecem no Brasil e acabam se refletindo na cotação do dólar x real.
E o que podemos aprender nesta semana?
Todos os dias temos a oportunidade de aprender algo. Mesmo que isso soe clichê, é uma verdade na qual acredito profundamente. Mas, saindo do campo da filosofia ou concepções de vida, esta semana nos reserva muitas coisas interessantes que podem afetar o mercado.
Decisão de juros
Nesta quarta-feira, o banco central americano irá definir sua taxa referencial de juros nos EUA. A vasta maioria do mercado (98,6%) aponta para a manutenção dos juros no atual patamar. É importante lembrar que, nesse sentido, o retrospecto do mercado não é nada favorável. Consistentemente o mercado erra em suas estimativas acerca da taxa de juros… vamos aguardar para ver.
Mas tão importante quanto a decisão em si, será a entrevista após o anúncio, na qual o presidente do FED fornece um direcionamento futuro sobre a economia e as taxas de juros.
Payroll
Seguindo a mesma linha de indicar para onde as taxas de juros podem se encaminhar, temos o Payroll (relatório do mercado de trabalho americano) na sexta-feira. A saúde do mercado de trabalho é um fator-chave para o poder de compra das famílias e, consequentemente, para as projeções de PIB americano, inflação e taxas de juros.
O relatório de emprego de outubro pode mostrar a criação de 175 mil empregos, de acordo com as estimativas de consenso da FactSet, um número significativamente menor do que o mês anterior, quando foram criados 336 mil empregos, surpreendendo a todos. Espera-se que a taxa de desemprego se mantenha estável em 3,8%, de acordo com a FactSet.
Resultados
Além disso, ainda teremos muitas empresas divulgando seus números… a maior empresa dos EUA, a Apple, divulgará seus resultados, por exemplo. Os resultados desempenham um papel importante na orientação dos mercados.
Ainda mais em um momento em que o medo parece ter tomado conta do mercado. O indicador Fear and Greed Index da CNN mostra que os preços de mercado refletem o “medo extremo”.