Queimadas, secas e enchentes: como eventos climáticos extremos afetam o agronegócio?
E por que o investidor deve ficar atento a essas variações do meio ambiente?
Recentemente, grande parte do Brasil foi tomado por fumaças vindas de queimadas de diversas regiões do país. Essa situação crítica levanta um ponto bastante importante: de que forma eventos climáticos extremos afetam o agronegócio por aqui, como foram as queimadas no Brasil.
Além disso, será que o investidor precisa ficar mais atento aos ativos financeiros ligados ao agronegócio?
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Mas antes, importante saber que quando falamos sobre eventos climáticos extremos, não estamos discutindo apenas sobre as queimadas no Brasil. Também vamos refletir sobre as secas e as chuvas abundantes. Como o episódio das enchentes no Rio Grande do Sul no início para o meio desse ano.
Eventos climáticos extremos: impacto das queimadas no Brasil
Então, para se ter uma ideia, em relação ao fogo que assola parte do agro brasileiro, a cana-de-açúcar, o café, a pecuária, a soja e o milho são as cadeias que tiveram prejuízos imensuráveis com as recentes queimadas.
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“Tanto que não existe uma estatística precisa dos impactos para cada setor”, afirma Rodrigo Lima, sócio-diretor da Agroicone, e especialista em meio ambiente e desenvolvimento sustentável no setor agropecuário e de energias renováveis.
De acordo com o especialista, na cadeia de cana-de-açúcar, por exemplo, estima-se que as queimadas alcançaram mais de 400 mil hectares nesta safra (2024/2025), entre 40% e 50% da área de cana que já tinha sido colhida e o restante de canaviais novos.
“Além disso, até o dia 13 de outubro, foram detectados 226 mil focos de incêndio no Brasil, especialmente nos estados de Mato Grosso, Pará, Amazonas, Tocantins, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rondônia, São Paulo, Acre e Bahia”, pontua.
Impactos na próxima safra
Você pode até estar pensando que essa parte colhida da cana, portanto, não teve prejuízo. Isso é verdade, porém, o impacto se dará na safra seguinte.
“Quando ocorrem as queimadas, demora-se muitos anos para as áreas se recomporem. Não basta chover e começar a rebrotar. O capim volta fraco, ou seja, tem enormes dificuldades de sobreviver”, comenta Cesar Castro Alves, gerente da consultoria agro do Itaú BBA.
Alves explica ainda que quando as áreas de produção queimam, mata toda a biodiversidade. “Portanto, bichos, matéria orgânica, microrganismos do solo. E demora muitos anos para tudo isso voltar.”
Outros eventos climáticos extremos que merecem atenção
E além das queimadas, a atenção também se dá em relação às secas e chuvas abundantes. Afinal, esses demais eventos também podem prejudicar, e muito, o agronegócio brasileiro.
Isso porque, o ano de 2024 deve se encerrar com um recorde de eventos climáticos extremos, potencializados pelos efeitos do El Niño.
Dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação de agosto de 2024, apontam que 963 municípios apresentaram ao menos 80% de suas áreas produtivas potencialmente impactadas pela seca.
Nesse caso, as culturas que são perenes que merecem maior atenção. E aí, estamos falando do café, da laranja e da cana-de-açúcar.
“O que acontece é que esses alimentos têm sua colheita exatamente no período de seca. O problema é quando a seca é maior do que o esperado. O café, por exemplo, tem a colheita exatamente no período de seca. Mas se esse evento climático for muito grande, o grão não enche muito, fica pequeno. Já a laranja não desenvolve totalmente, e a planta não vegeta, que é basicamente a folha para uma nova produção para o ano seguinte”, explica Cesar Castro.
Toda a cadeia se prejudica com eventos climáticos extremos
E não vá pensando que são esses commodities os únicos que sofrem os impactos das chuvas, secas e queimadas. Pelo contrário!
“Todas as cadeias produtivas precisam estar atentas a esses efeitos. Afinal de contas, cadeias perenes, como cana e florestas plantadas, geram potenciais fontes combustíveis para incêndios. A biomassa no solo, propiciada pelo plantio direto e, naturalmente, as pastagens, são fontes para as queimadas. Por isso, todos precisam definir estratégias para gerir os riscos”, acredita Rodrigo Lima.
Reflexo no bolso
E claro que esse prejuízo não fica só na mão do agricultor. Mas também do consumidor. Isso porque esses impactos podem gerar reflexos nos preços do açúcar, etanol e mesmo da bioeletricidade gerada pela cana.
“Já na pecuária, os impactos para as pastagens devem gerar prejuízos para a produtividade. O que trará, de imediato, perdas para os pecuaristas, podendo refletir no preço da carne. Em alguns casos, a morte de animais, o emagrecimento, e a degradação das pastagens, exigirão investimentos nos próximos anos, visando reduzir prejuízos”, afirma Lima.
Atenção dos investidores
E quando a gente fala do bolso, é importante os investidores também ficarem atentos. Isso porque, os riscos envolvendo as queimadas, chuvas e secas precisam ser mensurados e precificados por quem aplica parte do patrimônio em ativos financeiros do agronegócio.
O que ocorre é que safras perdidas e operações impactadas geram prejuízos de curto prazo e que podem afetar investidores de acordo com os produtos associados aos projetos. “A entrega física de uma safra de grãos, por exemplo, que lastreia títulos como a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) ou o Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), pode ser frustrada pelos eventos climáticos extremos. O que geram impactos como a redução das taxas de juros pagos aos investidores”, analisa Lima.
Ainda de acordo com o especialista em meio ambiente, os Fundos de Investimentos em Cadeias Agroindustriais (Fiagros) também mostram impactos. Visto que projetos financiados foram impactados pelas queimadas. “Por isso, devem ser analisados caso a caso”, pondera.
Além disso, projetos atrelados a seguro rural tendem a ter menor risco quando se considera o fogo. “Desse modo, aprimorar a política nacional de seguro rural é outro desafio que precisa evoluir para lastrear investimentos em cenários de risco elevados”, conclui Lima.