“Meu erro é não parar para estudar mais sobre o que fazer com o dinheiro”
O filósofo Magnus Cesar Bouchardet tem uma paixão: a bicicleta. E um problema: a má organização das finanças
Muito antes de se tornar uma lenda do mundo dos negócios, Jorge Paulo Lemann desenvolveu uma técnica simples para acertar mais do que errar. Todo seu pensamento estratégico é voltado para a seguinte tríade: bom senso, visão de futuro e raciocínio simples, conforme a jornalista Cristiane Correa conta em seu livro Sonho Grande (Editora Sextante).
Lemann já foi apontado pela revista Forbes como um dos homens mais ricos do Brasil, com patrimônio estimado em US$ 23 bilhões. Ele é sócio da AB InBev (fabricante das cervejas Budweiser, Stella Artois, Corona, Skol, Brahma e Antarctica), 3G Capital, Kraft-Heinz e Burger King.
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Nada muito complicado. Mas faltou Lemann citar um pequeno detalhe, que faz toda a diferença. Dinheiro é um bicho exigente, que gosta de ser estudado, acompanhado de perto. Dinheiro requer atenção. Que é o que o professor de filosofia, palestrante e influenciador digital Magnus Cesar Bouchardet, de Belo Horizonte, não consegue dar ao dinheiro dele.
“O que mais me faz falta é uma boa educação financeira para eu saber onde colocar o dinheiro quando sobra, e de onde tirar quando ele falta”, diz Magnus, que é embaixador da Gravel Specialized Brasil, uma das fabricantes de bicicleta e equipamentos mais famosas no mercado de trilha em montanha.
Veja abaixo os principais trechos da conversa que a coluna Meu erro, aqui da Inteligência Financeira, teve com o filósofo, enquanto ele ia da capital mineira para a cidade de Lagoa Santa (MG), uma pedalada de mais ou menos 50 quilometros, para testar e divulgar material esportivo.
Qual é seu maior erro em relação ao dinheiro?
Meu maior erro é não entender o funcionamento do banco em relação a investimentos. Eu não sei, por exemplo, a que eu tenho direito com minha conta corrente, nem como posso usar meu cartão de crédito da melhor maneira. Aliás, essa parte da mecânica burocrática bancária que pode me beneficiar ou prejudicar para mim é uma incógnita. No fundo, o que mais me faz falta é uma boa educação financeira para eu saber onde colocar o dinheiro quando sobra, e de onde tirar quando ele falta, além de fazer o cartão de débito e o de crédito trabalharem para mim.
Você perdeu muita grana?
Já perdi dinheiro porque, sem educação financeira eu acabo me desorganizando. Então, faço compras ruins ou gastando demais com coisas que não vou usar. Eu continuo perdendo dinheiro porque não sei como funciona o desdobramento do meu dinheiro. Quer um exemplo bem prático? Milhas de avião. Se eu tivesse mais paciência para estudar como usar as milhas de uma maneira mais eficiente, não perderia dinheiro com isso e potencializaria meus ganhos.
E em investimentos? Você já perdeu dinheiro investindo errado?
Eu gosto de investir onde eu tenha algum retorno humano, em experiências como viagens, materiais esportivos, cultura. Entendo que perder dinheiro é algo como investir onde não se tenha retorno para sua vida, para o que te deixe feliz e completo. Neste sentido, meu pior investimento é pagando impostos, que não me dão retorno nenhum.
O que você acha que deveria mudar na sua atitude em relação ao dinheiro?
Eu preciso mudar minha postura. O que é mais grave é eu não saber o funcionamento do banco, quanto eu deveria investir todo mês e onde. Nesse sentido, continuo errando ainda porque eu não consigo parar para ver isso, para estudar. Mas é total culpa da minha ignorância, porque não busco aprender para usar meu dinheiro de uma forma melhor.
Quais lições você aprendeu com esse seu jeito de lidar com seu dinheiro?
Minha principal lição é que eu, você, todos nós precisamos ter inteligência financeira. E ser inteligente significa saber quanto se ganha e quanto se gasta. Só assim você consegue dominar o dinheiro e passa a economizar e, depois, a investir. Muitas pessoas pensam em ganhar mais, mas eu penso em como não vou perder ou vou gastar menos.
Você sabe para onde seu dinheiro está indo hoje?
Sim: para material esportivo. Então, eu tenho que ficar muito atento a isso, porque minha vida gira em torno da bicicleta, em pedalar ao ar livre, testar equipamentos e novos modelos de bicicleta, participar de provas, divulgar marcas ligadas ao esporte. Este é o grande sentido da minha existência. Então, minhas roupas são velhas, meu carro é velho. Mas… meus equipamentos são todos de primeira linha. Passagem aérea, para mim, é o melhor retorno do meu dinheiro. Outro dia, eu ouvi uma história de um cara muito reservado. Ele morreu e a família, então, entrou na casa dele. Os parentes só encontraram coisas velhas. Havia no quarto dele uma gaveta cheia de fotos. Eram centenas, de todos os lugares do mundo. A grande riqueza desse cara eram as viagens que ele fazia. Eu penso assim também.
Para você, o que é investir?
A gente pode usar a mesma palavra para sentidos diferentes. Vou citar Jürgen Habermas, filósofo e sociólogo alemão, que diz que “antes dos falantes entrarem numa conversa, eles devem esclarecer os termos”. É o caso dos investimentos. Eu trato o conceito de investimento da seguinte forma: investir é aplicar seu dinheiro no que te dá retorno existencial. Mas pode ser que, para você, isso signifique deixar o dinheiro no banco para colher lá na frente. Se for este o conceito que vamos usar, eu não invisto em nada, deixo na poupança, mas é um investimento idiota, com retorno ridículo. Meu investimento todo está em bicicleta. Se eu precisar de dinheiro, vendo uma bike ou um equipamento esportivo e sigo em frente.
Como controla os gastos?
Não fico gastando com coisas supérfluas, como comida fora de casa ou ir em festa inútil. Só faço o que eu sou apaixonado, que é andar de bicicleta na natureza. Meu conceito de investimento é esse: é retorno humano. Tenho saúde para celebrar. Do ponto de vista econômico, eu não invisto em absolutamente em nada. Mas sei que isso é um erro.