Quais são os maiores erros de cada perfil de investidor?
Saber qual é seu perfil não é o mesmo do que ter conhecimento sobre os investimentos
O diagnóstico do perfil do investidor é o ponto de partida para que a escolha dos produtos financeiros seja feita com menos achismo e mais segurança, de modo a construir uma carteira de investimentos aderente aos objetivos de quem investe.
Perfil não tem a ver com conhecimento
Se acha que os perfis conservador, moderado e arrojado (mais utilizados pelo mercado) representam o grau de conhecimento do investidor ou o quanto ele tem de patrimônio aplicado, está enganado.
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Os três perfis possuem características distintas entre si, que levam em consideração quatro fundamentos: tolerância ao risco, situação financeira, conhecimento do mercado e objetivos, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Corretoras, bancos e profissionais autônomos fazem o mapeamento do perfil do investidor a partir de questionários compostos por perguntas sobre objetivos financeiros, conhecimento sobre investimentos e questões ligadas ao comportamento – importantes para identificar vieses que poderão influenciar nas tomadas de decisão, sobretudo em momentos de turbulência no cenário econômico.
Além das perguntas feitas via questionário, o bom profissional de investimentos precisa aprofundar a abordagem de alguns tópicos junto ao investidor e levantar questões como, por exemplo, a projeção de resgate das aplicações, se tem planos de viajar, comprar um imóvel ou outro grande objetivo a ser alcançado em médio ou longo prazo.
Muitas pessoas gostam de investir em vários lugares por conta própria, mas para montar uma carteira de investimentos assertiva, o especialista deve saber onde o cliente já investiu para não dobrar o risco e pôr em xeque toda a estratégia.
O economista e fundador da Eu me banco, escola de formação de especialistas em investimentos, Fabio Louzada, elencou os perfis de investidores e seus maiores erros. Confira:
Perfil conservador
O perfil conservador é caracterizado pela aversão ao risco (principalmente quando o investidor teve uma experiência na bolsa de valores e sofreu no passado), disponibilidade de caixa (quanto menos dinheiro tiver, mais conservador), por escolher segurança à alta rentabilidade, e dar preferência a investimentos com remuneração confortável, sem grandes riscos ou regras difíceis de assimilar. Em muitos casos, quanto maior a idade, mais conservador é o investidor.
Equívocos do perfil conservador
Muitas vezes o perfil conservador tenta ganhar um pouco mais e acaba correndo riscos desnecessários. Por exemplo, ele sai de um CDB de banco para investir numa debênture de empresa, de olho em retornos mais lucrativos. Abre mão de ganhar 0,50% no CDB de olho no 0,55% ofertado pela debênture – sem avaliar que o risco de calote é muito maior e que, ao contrário do CDB, as debêntures não constam na lista de investimentos garantidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Outro erro comum do perfil conservador (e dos perfis moderado e arrojado também, diga-se de passagem), é aplicar olhando o “retrovisor” dos investimentos. Acreditar que um investimento que rendeu 10% no passado terá a mesma performance no futuro é cilada. Rentabilidade passada não é garantia de rendimento futuro – guarde essa frase como se fosse um mantra.
Outro erro é não considerar as particularidades de cada investimento, não se informar sobre a carência para resgate, investir por conta própria, não se informar sobre impostos e, claro, aplicar o dinheiro na poupança ou seque aplicar.
Achar que o dinheiro não vai render nada e, por isso, aplicar na famosa caderneta de poupança faz uma grande diferença em longo prazo.
O investidor pode até ficar feliz com os R$ 100 mil guardados por lá, porém, se tivesse aplicado suas economias de forma inteligente ao longo dos anos, poderia ter mais do que o dobro desse valor.
Perfil moderado
O perfil moderado traz na essência um pouco dos perfis conservador e arrojado. Tem dinheiro guardado, mas não está disposto a correr tanto risco. Por isso, aplica parte dos recursos em investimentos com menor liquidez de olho em retornos financeiros atrativos a médio e longo prazo. A outra parte aplica em investimentos conservadores, que tenham liquidez rápida e possam ser resgatados caso surja algum imprevisto.
Equívocos do perfil moderado
Um erro comum do perfil moderado é seguir o chamado efeito manada, o que o faz perder boas oportunidades. Ele assiste o movimento de subida da bolsa de valores, mas não investe achando que está tudo muito caro, fica à espera de momentos melhores. A bolsa bate 90 mil, 100 mil, 110 mil, 115 mil pontos e, com o mercado celebrando aos quatro ventos, o moderado finalmente decide entrar. Pouco depois, a bolsa cai para 110 mil, 100 mil, 90 mil pontos e ele acaba perdendo a “onda” por demorar demais.
Mais um erro é fazer a diversificação dos investimentos por conta própria sem ficar atento à correlação dos ativos. É aquela história: a pessoa quer diversificar e acha uma boa ideia aplicar em ações do Bradesco, Itaú e Santander. São todas empresas do mesmo setor, papéis com correlação positiva. Isso significa que se uma delas tiver desempenho ruim, as demais tendem a seguir o mesmo caminho, ou seja, no fim das contas a pessoa não diversificou nada e tem uma carteira pouco protegida. Quando o mercado vai mal, a carteira desaba por completo.
Outro deslize do perfil moderado é não analisar taxas. Aplica tudo em um só lugar, pagando taxas altíssimas sem ao menos buscar opções de produtos similares no mercado.
Os moderados oscilam entre ser extremamente otimistas até o momento em que se deparam com uma crise que os tornam pessimistas convictos. Logo depois, se uma onda de expectativas positivas chega ao mercado, viram otimistas novamente.
Perfil arrojado
Foco na rentabilidade e tolerância ao risco são características fortes do perfil arrojado. O arrojado sabe que as oscilações fazem parte do mundo dos investimentos, entende as regras do jogo e planeja suas aplicações com vistas para o longo prazo. Boa parte da sua carteira é composta por renda variável, porém, para ter segurança nas finanças, equilibra com investimentos moderados e conservadores.
Outro detalhe importante: o perfil arrojado não precisará do dinheiro investido em curto prazo, por isso, aguarda o momento mais oportuno para fazer resgates.
Equívocos do perfil arrojado
Por ter mais conhecimento sobre investimentos do que os perfis conservador e moderado, o arrojado tende a tomar muitas decisões por conta própria, acha que sabe mais do que o mercado.
O arrojado, muitas vezes, faz aplicações de forma autônoma sem consultar seu profissional de investimentos. Muitos investimentos arrojados têm características particulares que o investidor não costuma estudar, o que acaba o expondo a riscos desnecessários. “Destaco aqui como produtos arriscados as criptomoedas, small caps e derivativos no geral”, diz Louzada.
Por último, mas não menos importante, o arrojado muitas vezes acha que é arrojado, até perder dinheiro e se dar conta que é um moderado otimista. “Veja bem, muitos investidores eram arrojados até a pandemia de covid-19 e a consequente crise econômica. Aparentemente, muitos se descobriram conservadores neste período. Por isso, é tão importante ser transparente nas respostas da análise de perfil do investidor. O perfil verdadeiro precisa se sobrepor às questões emocionais”.