LCI ou previdência privada: o que é melhor?

Entenda as características de ambos os investimentos antes de tomar uma decisão

Ilustração: Renata Miwa
Ilustração: Renata Miwa

Reclamações relacionadas ao pequeno valor recebido da Previdência Social depois da aposentadoria são recorrentes. Diante disso, a previdência privada aparece como maneira de complementar o benefício pago pelo INSS.

Porém, há outras opções no mercado que caem no gosto dos investidores que esperam aposentar com um rendimento maior, como as Letras de Crédito Imobiliário. Mas, o que é mais indicado nesse sentido, LCI ou previdência privada?

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Economistas e planejadores financeiros contam aqui, na Inteligência Financeira, se é vantajoso investir em LCI ou previdência, qual produto rende mais e é mais indicado para curto, médio e longo prazos e se vale a pena trocar de investimento, caso o investidor já tenha uma das opções em carteira.

Quais as principais diferenças entre previdência privada e LCI?

A LCI é um investimento de renda fixa conservador e tem como uma das suas principais atratividades o fato de ser isento de imposto de renda. Porém, essa modalidade costuma ser usada no médio e no curto prazos, segundo os especialistas.

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Além disso, o retorno da LCI depende da taxa de juros atrelada ao investimento. No geral, as letras acompanham o CDI ou índices inflacionários, como o IPCA.

Já a previdência é composta de fundos de investimento e indicada para o longuíssimo prazo, ou seja, acima de dez anos. É possível encontrar previdências compostas por fundos de renda fixa, de inflação, multimercado ou ações.

Por ser um fundo de investimento, a rentabilidade está ligada a algum índice. “No caso de um fundo de previdência composto por ações, ele deverá buscar retornos similares ao da bolsa de valores”, explica Julianne Simões, planejadora financeira. O índice mais comum de ser usado como referência nesses casos é o Ibovespa.

Custos de operação

Outra diferença importante entre os fundos de previdência e as LCIs é que, nas letras de crédito do setor imobiliário, geralmente há menos custo para operação, mas ele requer mais conhecimento.

No outro caso, ou seja, na previdência privada, costuma haver mais custos, mas, em compensação, não é preciso se preocupar tanto sobre qual ativo investir e em qual momento. Isso porque há gestores fazendo essa conta para o investidor.

É vantajoso investir em LCI?

Dito isso, a isenção do imposto de renda da LCI pode ser um grande diferencial em relação a outros investimentos que possuem tributação, inclusive sobre a previdência privada. Porém, é preciso se atentar ao índice escolhido como referência (por exemplo, IPCA ou Selic).

Além disso, é importante saber sobre a liquidez do investimento, ou seja, se há possibilidade de saída antecipada, e sobre risco de inadimplência daquele papel, que significa se o banco que pegou emprestado ou a companhia beneficiada pelo crédito correm o risco de não arcar com os pagamentos.

Outro benefício da LCI é o FGC (Fundo Garantidor de Crédito), que é obrigado a ressarcir o investidor em até R$ 250 mil (por CPF) em caso de insolvência da empresa.

Vale acrescentar também que, por ter vencimentos mais curtos, a LCI dá mais possibilidades de escolhas para o investidor de, vencendo o tempo e recebendo o dinheiro todo, reinvestir em outros ativos.

Por isso, é possível utilizar as LCIs como projeto para aposentadoria. Porém, neste caso, o investidor terá o ônus de ser ativo, movimentando o dinheiro pelo menos a cada vencimento.

Previdência privada ou LCI no curto prazo?

Como dito anteriormente, a previdência, seja ela privada ou pública, é feita para o longuíssimo prazo. “Se é de curto prazo, não faz sentido ser previdenciário. Você tem outras opções”, alerta o especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, Ricardo Jorge, ao destacar que, no curto prazo, a única opção é LCI quando comparada à previdência privada.

Já no longo prazo, os planos de previdência privada podem ser utilizados como um produto de investimento para diversificação de carteira, assim como qualquer outro produto de investimento, e como forma de garantir renda futura, destaca Adriana Matheus, economista e especialista em investimentos.

“Para renda futura, uma previdência faz total sentido e deve ser utilizada como ‘planejamento de aposentadoria’ ou até mesmo sucessão, pois existe a vantagem de não entrar em inventário”, diz Adriana.

Qual a rentabilidade média da previdência privada?

Para a previdência privada, há muitas opções de fundos e tudo depende do perfil de investidor de cada pessoa (conservador, moderado ou agressivo). Isso tudo faz da rentabilidade média da previdência privada algo difícil de ser identificado com precisão.

Ainda assim, é possível fazer alguma aproximação. “Utilizando como exemplo os fundos conservadores que utilizam como benchmark o CDI, temos uma rentabilidade real entre 0,6 a 0,8% ao mês, já descontando o IR”, diz Marlon Glaciano, planejador financeiro e especialista em Finanças.

Como funciona a rentabilidade da LCI?

Para a LCI, Glaciano explica que há três opções de rentabilidade: prefixada, pós-fixada e híbrida:

  • Prefixado: O rendimento é definido na hora da compra dos títulos;
  • Pós-fixado: O rendimento é totalmente vinculado a algum índice, como o CDI, por exemplo;
  • Híbrido: Combina uma taxa predefinida de juros a um índice econômico, como o CDI.

Dito isso, LCI ou previdência privada: o que é melhor?

Julianne diz que a previdência privada é indicada apenas quando o cliente tem certeza que aquele montante é um dinheiro que ele vai poder deixar por pelo menos 10 anos, optando, preferencialmente, pela tabela regressiva (leia mais adiante a diferença entre as tabelas regressiva e progressiva).

Mas, há outras opções do mercado que podem entregar rentabilidade melhor e tributação menor. A LCI está entre elas. Porém, ela destaca um “risco oculto” na LCI. “Na prefixada, se há um disparo da inflação, perde-se poder de compra”, alerta. “Pensando em longo prazo, gosto de trabalhar com as híbridas, que é IPCA mais uma taxa prefixada, e com a pós-fixada”.

Ela destaca que, recentemente, com a queda dos juros, a pós-fixada pode perder atratividade, mas ela lembra o histórico inflacionário e de juros altos do Brasil, que tendem a fazer da aposta por juros altos um bom negócio a longo prazo.  

Adriana também avalia a LCI como melhor opção para o longo prazo. “Isso se você entende por longo prazo algo de quatro, cinco, dez anos ou mais e se não existe a intenção após esse período de transformar o recurso em renda”, destaca.

“Agora, se você pensa em aposentadoria com recebimento de renda futura, podendo inclusive reverter à família (depois da morte), aí o produto é um plano ou uma carteira com produtos de previdência”, complementa Adriana.

Mas, afinal, qual rende mais: previdência privada ou LCI?

Adriana destaca que para fazer cálculo da rentabilidade da LCI se exige que você tenha todos os dados sobre a aplicação, como valor investido, data do investimento, data do resgate ou da simulação e taxa aplicada.

Assim, “é importante fazer a cotação dessa taxa para buscar a melhor negociação possível, ela poder variar, o valor e o prazo são cruciais. Podendo ficar entre 90% e 99% do CDI, lembrando que é isenta de imposto”, destaca Adriana.

Quando comparada com o rendimento de um outro produto não isento, a LCI 90% do CDI equivale a 105,8% do CDI para produtos que pagam imposto de renda. Já uma LCI 99% do CDI equivale a 116,5% do CDI para produtos não isentos

“Assim um plano de previdência precisaria trazer um retorno superior a 105,8% ou 116,5% para começar a ser atrativo”, explica Adriana.

Quais os prós e contras de cada uma das modalidades?

O que vai definir o que é melhor, se LCI ou previdência privada, é, principalmente, a capacidade que a pessoa tem de administrar os seus próprios recursos. Na previdência privada, existe a certeza de custos extras, que dizem respeito à gestão dos ativos, ou seja, são as taxas do fundo, mas em compensação você não se preocupa com a gestão.

“Se o investidor não tem disciplina ou ele não tem o conhecimento necessário para fazer a gestão do seu próprio recurso, aí sim a melhor recomendação é que ele delegue essa função a um profissional da área. E aí a gente optaria pelo investimento em uma previdência privada, em uma previdência complementar”, complementa Jorge.

A saída é escolher uma boa casa, com profissionais experientes e qualificados.

No caso da LCI, o ponto negativo é a necessidade de ter que operar os investimentos com frequência.

Neste caso, é possível “adquirir uma LCI longa com vencimento em 36 meses, podendo ter ou não liquidez após determinado período. Se não houver a liquidez, com prazo mais longo, traz a possibilidade de melhores taxas e consequentemente melhores retornos”, destaca Adriana.

“Ao vencer a LCI, (o dinheiro) retorna para a conta e o valor precisa ser renegociado, observando as condições do momento da cotação”, destaca a economista. Ou seja, será preciso fazer um novo investimento com novas condições a cada vencimento.  

Na previdência, é melhor PGBL ou VGBL?

A escolha por um ou outro plano de previdência privada vai depender do nível de renda e da capacidade de fazer contribuições. Além disso, a forma com que a pessoa declara imposto de renda, se é pela modalidade simples ou se é pela modalidade completa, também influenciam na decisão.

Assim, “o PGBL pode ser benéfico para quem necessita de incentivo fiscal, ou seja, deduzir a alíquota de imposto de renda sobre os valores recebidos na pessoa física”, avalia Julianne.

Para os planos PGBL, é possível abater 12% das contribuições. Essa modalidade faz sentido, geralmente, para aqueles que declaram o IR no modelo de declaração completa.

“Mas cabe um cuidado adicional aqui, pois no momento do resgate, a alíquota de imposto de renda será calculada sobre todo valor investido mais o rendimento”, complementa a planejadora. “Imagina uma pessoa totalmente leiga, ela não sabe nada, faz uma previdência, e dali a três anos precisou resgatar e ela está no plano errado e vai descontar, por exemplo, 15% sobre tudo”, alerta Julianne.

Já no VGBL também é preciso pagar imposto de renda, mas, neste caso, a alíquota será calculada somente sobre o rendimento e não há incentivo fiscal (dedução da alíquota do IR sobre os valores recebidos na pessoa física).

Qual o imposto na previdência privada?

Atualmente, é possível optar pelo tipo de tributação que incidirá sobre a previdência privada. Há duas tabelas possíveis para apuração de imposto de renda, a progressiva e a regressiva.

  • Progressiva: essa tabela é a mesma usada para apuração de imposto de renda na declaração anual sobre a renda tributável e pode ser entre 0 até 27,50%.
  • Regressiva: nessa tabela, também chamada de definitiva, quanto mais tempo o investimento for mantido, menos imposto será preciso pagar. “Neste caso, a alíquota inicia em 35% e a cada 2 anos terá redução de 5%, chegando em 10% em 10 anos”, explica Julianne.

Vale a pena trocar investimento em previdência por LCI?

Trocar um plano de previdência por um LCI é válido para investidores maduros, que possuem já uma acumulação futura bem projetada e se possível já com uma fatia em moeda forte, como, por exemplo, o dólar, segundo Glaciano.

“Tudo isso porque a LCI tem um prazo de validade para retornar, sendo mais utilizada como uma opção de curto ou médio prazos, gerando mais mobilidade para o rebalanceamento da carteira”, complementa.

Ainda assim, quem já está investido em previdência privada deve ponderar que a retirada precoce pode aumentar o pagamento de imposto de renda e fazer da retirada um bom negócio, mas não para o investidor e, sim, para a Receita Federal.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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