Por que investir só o que sobra no fim do mês é um dos maiores erros financeiros?
Planejador explica os perigos desse hábito e como mudar a mentalidade para construir um patrimônio sólido
Investir só o que sobra no final do mês é um hábito comum entre muitos brasileiros. Porém, ele pode ser o maior obstáculo para quem deseja conquistar uma vida financeira equilibrada. “Esse sem dúvida é o pior hábito financeiro, e por uma simples razão: será que vai sobrar alguma coisa no final do mês para investir?”, questiona Vinícius Panizza, CFP®, especialista em Previdência do Itaú Unibanco e planejador financeiro.
De acordo com ele, a cultura de gastar primeiro e investir depois afeta diretamente a capacidade de construir reservas financeiras. Um estudo recente encomendado pelo Mercado Pago aponta que 54% dos brasileiros que não investem justificam a ausência de investimentos pela falta de dinheiro no fim do mês. “Isso mostra que esse costume não faz bem para a saúde financeira das pessoas, pois a capacidade de gerar reservas deve ser prioridade assim que o salário é recebido”, reforça.
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Os perigos de investir só o que sobra
O maior risco dessa prática é óbvio: não sobrar dinheiro para investir. Panizza explica que, quando isso acontece, o investidor perde não apenas a oportunidade imediata de investir, mas também duas variáveis cruciais para o sucesso financeiro: tempo e juros compostos.
“O tempo é uma variável que não volta mais, por isso temos que usá-lo a nosso favor. Ninguém fica rico do dia para a noite, a não ser que ganhe sozinho na mega-sena acumulada. O processo de construção de patrimônio leva tempo, e quanto antes começar, mais fácil será esse caminho”, diz ele.
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Já os juros compostos permitem que os rendimentos se acumulem tanto sobre o valor investido quanto sobre os lucros anteriores. “Esse mecanismo poderoso de geração de riqueza no longo prazo pode aumentar significativamente nossas reservas, mas apenas se começarmos a investir cedo e de forma consistente”, ressalta.
Como mudar esse hábito?
A solução, segundo Panizza, está em uma simples mudança de mentalidade: trocar o pensamento de “se sobrar, eu invisto” por “recebi, investi”. Ele explica que a chave é priorizar os investimentos assim que a renda é recebida.
“Se você mudar a ordem e colocar os investimentos em primeiro lugar, o resultado pode ser muito diferente. O ideal é se pagar primeiro, ou seja, reservar uma parte da renda para os investimentos antes de avaliar outras despesas e cortar gastos desnecessários”, aconselha.
Além disso, ele sugere que cada economia seja atrelada a objetivos claros, sejam eles de curto, médio ou longo prazo. Revisar esses objetivos periodicamente também ajuda a manter o foco e a motivação. “À medida que os objetivos são atingidos, novas metas aparecem, e precisamos estar atentos a essas mudanças.”
O consumismo e a luta contra o cérebro
Outro erro destacado pelo especialista além de investir só o que sobra é o consumo excessivo no presente. “Investir pode gerar uma sensação de abstinência para alguns, enquanto o consumo gera prazer imediato. Mas esse prazer é momentâneo, e o ciclo consumista se repete”, alerta Panizza.
Esse comportamento está ligado à chamada troca temporal, conceito que reflete o impacto das escolhas feitas hoje no futuro. “Se você gasta muito no presente, pode ter problemas amanhã. Por outro lado, gastar menos hoje permite acumular mais dinheiro para o futuro. Essa escolha no tempo faz toda a diferença”, explica.
Panizza conclui destacando a importância de estar bem assessorado financeiramente e buscar conhecimento para vencer a tentação do consumo imediato. “Trocar o consumo desnecessário pela construção de uma reserva financeira traz o melhor benefício de todos: a tranquilidade.”
Criar o hábito de investir regularmente, ainda que em pequenas quantias, pode ser o primeiro passo para transformar a vida financeira e construir um patrimônio sólido ao longo do tempo.