Onde investe o gestor conhecido como ‘Warren Buffett brasileiro’?
César Paiva ainda explicou em evento por que não compra renda fixa
Apelidado como o “Warren Buffett” brasileiro, César Paiva, sócio-fundador, gestor e principal executivo da paranaense Real Investor, disse estar animado com o momento atual da bolsa por conta dos preços das ações. Ao participar de evento da Bradesco Asset com o private banking do banco, ele comentou que não se trata de olhar para o Ibovespa, que reúne as empresas de maior capitalização de mercado e liquidez, mas para ações de boas empresas que estão com descontos expressivos.
“Faz tempo que o Brasil está barato, mas poucas vezes esteve tão barato quanto agora”, afirmou Paiva, citando um preço/lucro (P/L, múltiplo que relaciona o preço atual com os lucros projetados) na casa de oito vezes, o câmbio depreciado, a R$ 5,80, e as avaliações de preço justo, o “valuation”, no chão.
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“A gente entra em 2025 com as expectativas na lona e com coisas baratas. Mas quando você compra uma boa empresa, em que o lucro e os dividendos crescem, o simples carrego já traz bons resultados.”
O fundo de ações mais antigo da casa, que nasceu como um clube de investimento, exibe um retorno de quase 1.950% desde 2008, ante 264% do Ibovespa e 300% do CDI, com apenas dois anos negativos.
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José Rocha, executivo-chefe de investimento (CIO), gestor e sócio-fundador da Dahlia Capital, acrescentou que com a popularização das debêntures incentivadas, os investidores passaram a entender o que significa um retorno em IPCA+, mas esquecem de olhar para setores que têm o seu “valuation” calculado com base na inflação, com retornos entre 13% e 15% acima do índice de preços.
Renda fixa não seduz Buffett brasileiro
Em meio ao dilema de que com juros altos todo mundo corre para a renda fixa, Paiva citou que o investidor que vê a rentabilidade das Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B) a 6% a 7% acima do IPCA, deveria olhar para as empresas da mesma forma, invertendo o P/L, para chegar à rentabilidade que as ações podem ter se comparadas à dos títulos públicos, com algumas batendo nos 15%. “E lembrando que a grande maioria das empresas listadas tem capacidade de repassar a inflação nos seus produtos”, comentou.
Setores como concessionárias de serviços públicos essenciais, como empresas de energia e saneamento, e de shopping centers se encaixam nesse tipo de análise.
“Não tenho vontade de comprar renda fixa”, disse Paiva. “Se compro uma ação com P/L de 5, me dá um retorno de 20% e metade disso paga em dividendos. Se a expectativa é que o lucro cresça ao longo dos próximos anos, o múltiplo baixo em algum momento pode ir para 7 a 9 vezes o lucro, nessa conta tenho uma TIR [taxa interna de retorno] de 20%, 30% ao ano nos próximos cinco anos. Mas tem que ter paciência.”
Se no período entre 2014 e 2016 as ações estavam depreciadas, com o cenário macroeconômico piorando e o lucro das empresas também, além de o endividamento ser alto, o ambiente hoje se mostra diferente. Na temporada atual, continuou Paiva, os resultados vêm aumentado, a economia cresce e a inflação ainda parece estar sob controle.
As investidas de César Paiva
Com R$ 8 bilhões na Real Investor, em quatro estratégias, o gestor disse que não investe na bolsa. Mas compra participações em empresas que acredita serem boas oportunidades e que estejam efetivamente mal avaliadas. Não adianta eleger apenas a qualidade e pagar caro pelas ações, afirmou.
Entre os setores que compõem a carteira atual, ele citou o financeiro, com nomes como Bradesco, Banco do Brasil, PagSeguro e BB Seguridade. O de “utilities”, com Eletrobras, Neoenergia e Eletrobras. Além de commodities, com o trio Petrobras, Suzano e Vale.
No segmento imobiliário, Paiva citou que tem a administradora de shopping Allos e, mais recentemente montou uma posição na MRV. Um papel que “namorava” desde o fim do ano passado, mas que comprou agora com um desconto de 60%.
Conforme descreveu, a companhia enfrentou ventos contrários desde a pandemia. Ofertou imóveis com desconto porque a avaliação da administração era que não ia vender nada e a companhia acabou exibindo o melhor volume de vendas em 2020, se endividou para entregar os imóveis, a inflação disparou e os juros idem. “Foi um desastre”, disse o gestor. “Mas em 2023 o resultado foi bom, 2024 vai ser bom e em 2025 vai ser maravilhoso.”
“Vale a pena ser paciente, seletivamente contrário. Nós ficamos empolgados com o momento atual pelos preços que produzem”, defendeu Paiva.
Rocha não abriu tanto a carteira da Dahlia, mas disse gostar do tema da inteligência artificial nos Estados Unidos. “Estar fora da bolsa americana é ficar fora da quinta revolução industrial.”
Com informações do Valor Econômico