Tokenomics: a arte de dar utilidade a um token

Sem uma boa estrutura de tokenomics, nem mesmo bons fundamentos e uma grande base de usuários garantem que o criptoativo de um projeto crescerá em valorização; entenda

- Ilustração: Marcelo Andreguetti
- Ilustração: Marcelo Andreguetti

Criar uma aplicação descentralizada ou um protocolo de sucesso no mercado de criptomoedas é uma tarefa árdua. Além de resolver alguma dor do setor, é necessário ainda pensar na utilidade do criptoativo nativo do protocolo ou da aplicação.

Utilidade em governança, incentivos para guardar e movimentar, rendimentos e fluxo de suprimento são algumas das questões que devem ser levadas em consideração. Esse conjunto de características por trás de um ativo digital é chamado de tokenomics, a junção dos termos “token” e “economics”.

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Sem uma boa estrutura de tokenomics, nem mesmo bons fundamentos e uma grande base de usuários garantem que o criptoativo de um projeto crescerá em valorização. Para visualizar, nada melhor do que a prática.

Internet descentralizada

Quando você acessa a internet e interage com diferentes aplicações on-line, um servidor tem acesso aos metadados das suas atividades. Em outras palavras, um agente centralizado sabe quando, de onde e com qual dispositivo você acessou a internet. Além disso, esse mesmo agente monopoliza o uso da internet, podendo censurar pontos de acesso sempre que quiser.

Agora, imagine uma rede descentralizada, onde diferentes pontos de Wi-Fi fornecem cobertura. Resistência à censura, ausência de um banco de dados para armazenar suas informações e flexibilidade seriam algumas das vantagens. Melhor ainda: imagine que a movimentação desses dados ocorre em blockchain. Essa é a proposta da Helium.

Um bom exemplo de tokenomics

A Helium criou uma rede com diferentes pontos de acesso espalhados em redor do mundo, validada por meio de dispositivos adquiridos por pessoas como você que está lendo. É uma união do conceito de Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) e da internet livre. E é aqui que entram em ação os tokenomics do projeto.

Para incentivar o uso dos dispositivos que sustentam a proposta da Helium, os validadores recebem tokens HNT pelo esforço de manter seu nó da rede no ar. É necessário, porém, que o HNT tenha utilidade. Para vender, é necessário que alguém queira comprar. Se a única utilidade do token fosse ser vendido no mercado, a cotação do HNT seria mínima.

É onde entram os Data Credits (DC), ou créditos de dados. Utilizar a rede descentralizada criada pela Helium demanda o uso de Data Credits, onde cada crédito dá direito ao envio de uma quantidade de bytes de dados. A única forma de obter esses créditos é usando um token HNT, que deixa de existir para esses direitos de uso da rede. Esse processo é conhecido também como queima, já que o HNT usado deixa de existir.

Repare que, por meio dessa estrutura, o criptoativo do projeto ganha utilidade. Quanto mais usuários usarem a Helium, maior será a demanda por Data Credits e, consequentemente, por HNT. Não apenas isso: a oferta é reduzida cada vez que um montante de créditos de dados é gerado. O HNT é, então, um ativo digital com utilidade, futuramente escasso, e com bons fundamentos. A dinâmica do token faz com que a entrada de mais usuários valorize seu ativo nativo.

Uma boa proposta

O navegador Brave é outra proposta para melhorar o uso da internet. Com seu bloqueador de anúncios nativo, ele protege o usuário que navega por aí. O Brave vai além com sua área de anúncios, onde empresas pagam para divulgarem seus produtos e parte do dinheiro é repassado ao usuário na forma do token BAT, sigla para Basic Attention Token.

Parece ótimo no papel: um navegador que te remunera e ainda te protege. Apesar dos bons fundamentos, o Brave é um péssimo exemplo de tokenomics.

“O que eu faço com isso?”

Diferente do HNT da Helium, o token BAT não tem utilidade. O Brave já conta com quase 60 milhões de usuários ao redor do mundo, mas o preço do seu ativo digital nativo valorizou apenas 50% em quase três anos. Em comparação, a Helium tem apenas centenas de transações em sua rede, mas o preço do HNT já cresceu quase 3.000% no mesmo período.

A única opção que o usuário remunerado em BAT possui é vender o token. O aumento no número de usuários não terá impacto na cotação, diferente do que acontece com o HNT. Com isso, até mesmo o incentivo de guardar o criptoativo se perde.

Ainda que o projeto tenha uma ideia excelente em termos de privacidade e proteção do usuário, o tokenomics não funciona.

Atenção aos incentivos

Voltando ao início do texto, assim como criar um projeto no mercado de criptomoedas, selecionar ativos digitais para investir também é difícil.

Não basta escolher apenas com base nos fundos de capital de risco que investiram dinheiro ou nas dores que o projeto resolve. Sempre quando for investir em um projeto, lembre-se da importância de avaliar seus tokenomics.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

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