Enquanto o Drex não chega, mercado cripto faz a festa com versões paralelas do real digital

Mercado brasileiro experimenta a oferta de moedas não oficiais pareadas ao real

Real Digital entra em nova fase de testes. Imagem: divulgação
Real Digital entra em nova fase de testes. Imagem: divulgação

Se o Drex, a versão cripto do real, segue sem previsão de lançamento pelo Banco Central (BC), os desenvolvedores independentes de moedas digitais não têm motivo para reclamar.

A exemplo do dólar, que tem um importante câmbio paralelo dentro do universo cripto, o mercado brasileiro experimenta a oferta de moedas não oficiais pareadas ao real.

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São as chamadas stablecoins de reais, moedas que espelham o valor de sua divisa oficial na proporção de 1 para 1. Esse é um mercado que cresce, principalmente, com usuários que querem movimentar valores entre países. Mas pagando por isso apenas uma fração do valor que seria cobrado via operações tradicionais de câmbio.

Concorrentes ao Drex paralelo

Hoje, o mercado paralelo ao Drex tem alguns tokens bem posicionados. Mas duas criptos em especial competem pelo atenção dos usuários dentro das blockchains. A BRZ, da empresa Transfero, é a mais antiga. Sua listagem data de 2019 e, neste momento, tem capitalização de mercado de quase US$ 1 bilhão.

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Segundo dados da Receita Federal, que considera apenas valores equivalentes ou superiores a R$ 30 mil, a BRZ negociou entre janeiro e agosto deste ano R$ 5,9 bilhões. O volume, assim, já supera o montante de todo o ano passado, que ficou em R$ 5,2 bilhões. E é quase o dobro (95%), na comparação entre os oito meses deste ano e o mesmo período de 2023.

A concorrente de BRZ é a BRLA, da BRLA Digital. Apesar da estreia recente, em setembro do ano passado, a cripto já vale R$ 2,8 bilhões, de acordo com o CoinGecko, que monitora o mercado cripto. Por ter pouco mais de um ano, a BRLA não consta ainda no relatório de negociações da Receita Federal.

Custo baixo de câmbio

Segundo os desenvolvedores, o negócio de stablecoins se desenvolve sobretudo na esteira dos altos custos envolvendo envios de remessas de um lado para o outro do mundo.

“Nosso principal mercado é esse de remessa. De cada 10 BRZs, mais de 9 BRZs é para isso”, afirma Leandro Noel, sócio-fundador e CEO da BRLA Digital.

Ele e todos os seus sócios são engenheiros, formados pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), com passagem anterior pelo mercado financeiro.

Noel trabalhou em uma gestora de recursos e conta que se surpreendia com os custos e a complexidade do mercado de câmbio. “O mercado cripto resolve esse problema”, conta.

Para se ter uma ideia, segundo relatório da A16Z Crypto, venture capital para o mercado de criptomedas, uma transação internacional de US$ 1 mil pode custar US$ 44 no mercado tradicional.

Mas com o uso de uma stablecoin de dólar, por exemplo a USDC, da empresa Circle, o custo pode ir de US$ 12 a até US$ 0,01, dependendo dos valores e da opção pela rede de blockchain.

Drex não oficial: máquina de fazer dinheiro

Com isso, o volume de negociações envolvendo as stablecoins de reais crescem rápido. A BRZ, da Transfero, mais que quadruplicou o volume de negócios de 2022 para 2023. A cripto registrou 5 milhões de operações há dois anos e, em 2023, esse número foi de 21,4 milhões, ainda segundo o Fisco.

Não existe apenas uma modelo de negócio para essas stablecoins. As empresas que a emitem lucram em diversas pontas. Tanto as empresas responsáveis pela BRLA, quanto pela BRZ, afirmam que mantem R$ 1 para cada unidade de cripto emitida.

No caso da BRLA, a empresa publica relatórios de auditória mensais atestando a reserva, No caso da BRZ, a reportagem localizou apenas um relatório auditado, em 2020. Questionada a respeito, a empresa não respondeu sobre esse ponto. O espaço permanece aberto para manifestações.

Seja como for, a prática é manter o dinheiro sob custódia em títulos conservadores do Tesouro Direto, o Tesouro Selic, com vencimento em 2027.

Além da remuneração do CDI, taxa que caminha ao lado da Selic, as empresas também cobram taxas quando os clientes pedem o saque da cripto. Dentro das corretoras ou diretamente com as empresas, os usuários podem solicitar, via PIX, o saque da cripto em real tradicional.

Concorrência com Drex

Ainda não há prazo sobre quando o Banco Central deve lançar o Drex. No último dia 18, a autarquia publicou edital com a segunda etapa do projeto piloto para criação da moeda. Nessa fase, o BC quer que desenvolvedores apresentam projetos de utilização do token do real digital.

Para os atuais detentores de stablecoins de real, no entanto, o lançamento do Drex, quando ocorrer, não deverá impactar seus negócios.

“Como a gente pensa hoje: por exemplo, a gente escolhe voar com uma companhia aérea ou outra de acordo com um cashback, com uma fidelidade, com os benefícios que um cartão ou um token possa te oferecer”, afirma Juliana Felippe, diretora de marketing da Transfero.

Para Leandro Noel, sócio-fundador e CEO da BRLA Digital, mesmo com o Drex, as stablecoins vão cumprir um papel com os usuários, sejam pessoas físicas ou empresas, pelo baixo custo das transações.

“Acho que tem um componente de awarerness (repercussão) em termo de economia tokenizada. O fato do Banco Central estar empurrando uma plataforma blockchain para a economia de maneira geral vai ser muito positiva, vai gerar muita liquidez”, aponta Noel.

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