O que a ‘Ponzidemia’ argentina pode te ensinar sobre como evitar golpes financeiros?
Entenda como a crise no país alimenta esquemas de pirâmide e aprenda a reconhecer sinais de fraude
“Ponzidemia”: esse é o termo que descreve o fenômeno que tem se espalhado pela Argentina e que pode nos ajudar a entender os esquemas de pirâmide e como evitar golpes. Atualmente, o país, que já vive uma crise econômica prolongada, viu o número de vítimas de esquemas fraudulentos disparar.
Entenda o caso de San Pedro
Um dos casos de maior repercussão aconteceu na cidade de San Pedro, a 170 quilômetros de Buenos Aires. Ali, aproximadamente 30% dos 70 mil habitantes investiram na plataforma RainbowEx, que prometia retornos diários de 2% em dólar, através de criptomoedas.
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Em uma coletiva de imprensa, dois supostos diretores da RainbowEx apareceram em um luxuoso hotel em Buenos Aires para falar aos investidores. No entanto, o programador e especialista em TI, Maximiliano Firtman, desmascarou os “executivos”. Eles eram atores poloneses fingindo ser americanos, e a descoberta veio à tona na rede social X, no início de outubro.
A Justiça então iniciou uma investigação sobre o esquema de pirâmide. Nele, os novos investidores sustentavam os lucros falsos dos primeiros. Duas pessoas foram formalmente acusadas. Em resposta, a empresa congelou os fundos dos usuários, pedindo um pagamento adicional de US$ 88 para liberar os saques. Muitos pagaram, mas o dinheiro nunca veio. A estimativa é que o golpe tenha movimentado cerca de US$ 49 milhões.
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Este mês, outras fraudes de grande escala também foram denunciadas em Esquel (Chubut, sul) e Casilda (Santa Fé, centro). A duas envolveram outra plataforma, chamada Peak Capital.
Esquemas de pirâmide e a crise na Argentina
A proliferação de esquemas de pirâmide, como o caso da RainbowEx, encontra solo fértil na Argentina, onde a recessão e a inflação descontrolada deixam a população cada vez mais vulnerável. Em meio a uma situação econômica complicada, com o poder de compra deteriorado e o peso argentino em queda, muitas pessoas buscam alternativas para proteger ou multiplicar suas economias.
Vanessa Butalla, chefe de Legal & Compliance Officer do Mercado Bitcoin, destaca que em momentos econômicos mais difíceis, de recessão, existe uma tendência de uma parte da população mais fragilizada buscar alternativas e ter esperanças em relação a propostas que não são confiáveis.
“No caso da Argentina, a alta volatilidade cambial criou um contexto para que as pessoas acreditassem que ganhos diários de 2% poderiam ser reais. Aquele lucro que parece alto e sem risco tem uma grande probabilidade de ser um golpe,” ressalta.
Como evitar golpes identificando os sinais de alerta?
Para Vanessa, a falta de transparência é um dos primeiros indícios de um golpe. “Uma das características de um investimento sério é fornecer transparência sobre as condições. Isso inclui indicar quem é a empresa por trás, quais os riscos, e quem está envolvido no projeto”, explica.
Além disso, ela alerta que o investidor deve desconfiar quando a empresa não explica claramente de onde virá o lucro, quais os riscos e quem é responsável pelo projeto.
Vanessa reforça também a importância de não confiar cegamente em depoimentos de terceiros, que costumam apresentar casos de “sucesso” como prova de solidez. “Esses testemunhos podem ser facilmente fabricados ou manipulados”, comenta.
Por isso, uma das principais dicas para evitar golpes é buscar referências em fontes independentes, fora do material promocional da empresa, para confirmar a veracidade das informações.
Outro ponto de atenção destacado pela especialista é a estrutura de indicação, comum em esquemas de pirâmide. “Os golpes de pirâmide geralmente dependem de indicação, porque são os novos membros que sustentam os mais antigos. Esse é um sinal de alerta.”
Em tempos de crise, a executiva recomenda que consumidores e investidores fiquem atentos aos sinais de alerta e busquem entender bem o tipo de investimento oferecido antes de confiar seus recursos.