Sem rede 5G pronta, marcas tentam ‘fisgar’ consumidor
Fabricantes e teles apertam ‘o passo’ para lançamentos
As primeiras redes da quinta geração de serviços móveis (5G) na frequência mais nobre, de 3,5 gigahertz (GHz), têm prazo até julho de 2022 para chegar às capitais do país. Mas os fornecedores de smartphones e as operadoras de telecomunicações estão acelerando os negócios.
A faixa de preço dos aparelhos vai de cerca de R$ 900 a mais de R$ 12 mil, dependendo do modelo e do plano, com subsídio das teles, que parcelam os pagamentos em até 21 vezes, sem juros adicionais.
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Leandro Bueno, diretor responsável por aparelhos da Claro, diz que a operadora vai virar o ano com mais de 1 milhão de smartphones 5G em sua rede. “O retrato da minha base em outubro é de 715.019 aparelhos 5G”, afirma. Aí estão também os aparelhos que foram ativados para a tecnologia 5G DSS – que tem algumas funções de 5G, mas usa frequência de 4G.
Segundo Bueno, todos os smartphones usados em 5G DSS possuem as frequências de 5G vendidas no leilão da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em novembro. “É uma aposta inevitável da Claro nessa tecnologia… Não é um produto de nicho, nem pontual.”
Mas a procura por aparelhos 4G continua forte. Para Bueno, há um público que não está bem informado ou que só se importa com o preço, e não a tecnologia.
Há usuários que sabem que a rede 5G ainda não está pronta e não estão dispostos a desembolsar uma quantia por um smartphone mais caro que, por enquanto, só funcionará em 4G. Para Bueno, isso não é motivo para frustrar o usuário da Claro, porque 5G DSS já está disponível em 15 municípios e oferece uma experiência melhor de uso em relação ao 4G. Em sua opinião, o 4G será cada vez mais concentrado em produtos de gama baixa, como ocorreu com o 3G.
Ontem, a Claro lançou em Brasília sua primeira rede 5G com faixa regional comprada no leilão. “Com o uso do 2,3 GHz, avançamos mais um passo. É um espectro coringa, que pode ser utilizado tanto para o 5G quanto para o 4,5G […]”, diz Paulo Cesar Teixeira, CEO da Claro para consumo e PME.
A Positivo Tecnologia antecipou ao Valor que já fechou o acordo que vinha negociando com a fabricante chinesa Transsion Holdings para o aparelho 5G da marca Infinix. “Estamos trazendo o ‘flagship’ (carro-chefe) com 5G para o ano que vem. Vamos trabalhar com 5G, apesar de a rede ainda não estar pronta”, diz Norberto Maraschin, vice-presidente de consumo e mobilidade da Positivo.
A empresa fabrica um smartphone da Infinix no Brasil, desde novembro, mas ainda não decidiu se o modelo 5G, top de linha, será produzido localmente – depende do volume de vendas. Para 4G, a Positivo tem acordo com a Vivo (Telefônica) e a varejista Via – dona das marcas Casas Bahia, Ponto e Extra.com – para venda do smartphone Note 10 Pro. Maraschin diz que as vendas do modelo esgotam diariamente o que é produzido.
Tanto Motorola quanto Samsung dizem que já possuem 12 modelos de aparelhos 5G fabricados e comercializados no Brasil. O 12º modelo da Motorola, o moto g71 5G, foi lançado no país na segunda-feira, a partir de R$ 1.400.
“Atualmente, são quase 20 aparelhos compatíveis com 5G homologados na Vivo, de fabricantes como Samsung, Apple e Motorola, e, até o fim do ano, outros deverão estar disponíveis”, diz em nota Marcio Fabbris, vice-presidente de B2C da Vivo. B2C é a sigla em inglês para negócios com o mercado consumidor.
A Vivo fez uma ação de marketing para a venda do iPhone 13, da Apple, por R$ 13, para 13 clientes. Podem comprar por esse valor os clientes do programa de relacionamento Vivo Valoriza que responderem corretamente às perguntas dentro das regras da ação, que termina amanhã. Os que não tiverem a mesma sorte contarão com outras condições e desconto de até R$ 3 mil na entrega de aparelho usado, diz a tele.
Bueno, da Claro, está otimista com a nova geração de telefonia. Diz que a empresa trouxe o primeiro aparelho da Motorola, com exclusividade, e na “Black Friday” já vendeu de todos os fabricantes – mais da metade dos smartphones vendidos foi 5G.
O preço do aparelho pré-pago 5G nas lojas da Claro é em torno de R$ 1,5 mil, e pós-pagos abaixo de R$ 1.000 até acima de R$ 10 mil. “São aparelhos acessíveis de media gama […], pega todo tipo de público”, diz Bueno.
A Algar Telecom lançou, no dia 15, sua rede em 2,3 GHz em três cidades de Minas Gerais e São Paulo, contando com aparelhos da Apple, Samsung e Motorola. Para revenda em suas lojas, comprou smartphones da Motorola, enquanto os outros dois fabricantes ainda precisam liberar o software para a frequência, diz Márcio de Jesus, vice-presidente da Algar.
Embora ofereça descontos nos aparelhos associados a planos, o executivo diz que a Algar não tem uma política drástica nos subsídios para 5G. Quem comprar o Motorola Edge 20 Lite tem subsídios de até R$ 800 (valor referente ao plano pós ilimitado). A promoção é válida até amanhã.
Sobre a política de preços da TIM, o diretor-presidente, Pietro Labriola, disse em entrevista no dia 8: “É complexo definir uma estratégia de valor diferenciado considerando, inclusive, que o consumidor pode não perceber uma diferença de valor significativa quando anunciarmos a implementação do 5G. […] Nossa estratégia depende de alguns fatores, inclusive a cobertura a ser colocada.”
Apesar do otimismo das empresas, o mercado de smartphones reflete os efeitos negativos da pandemia de covid-19 e a crise econômica. A empresa de pesquisas IDC prevê uma queda de 3% nas vendas de smartphones no Brasil este ano, somando 40,9 milhões de unidades, na comparação com o resultado de 2020. A falta de componentes afetou os resultados.
No segmento B2B, o IDC afirma que, como habilitador de outras tecnologias, o 5G deverá proporcionar no Brasil receitas de US$ 25,5 bilhões até 2025.
“Acreditamos que o 5G já é um fator importante durante o processo de decisão de compras de uma parcela significativa dos consumidores e algo que deve ser potencializado nos próximos meses. Desta forma, esperamos resultados positivos na adoção da tecnologia, não só no Brasil, mas nos demais países de atuação da Samsung”, diz Marcelo Daou, gerente sênior de produto da divisão de dispositivos móveis da empresa.
A Samsung lidera com 20,2% as vendas mundiais de smartphones de todas as tecnologias, seguida por Apple, com 14,2%. Em 5G, a Motorola está na frente, segundo Thiago Masuchette, líder de produtos da Motorola. “A Motorola lidera o mercado de 5G no Brasil com participação superior a 50%”, diz José Cardoso, presidente da Motorola no Brasil, citando a IDC. “Essa tecnologia também é o grande propulsor do nosso crescimento no mercado premium.”
Já a Multilaser afirma que anunciará seu 5G no Brasil no primeiro trimestre de 2022. “Os lançamentos com tecnologia 5G são muito aguardados e não ficaremos de fora! Em 2022, começaremos a produção local, na fábrica de Extrema, MG”, diz Fabiano Favero, diretor de tablet e telefonia da Multilaser.
A Nokia, que recentemente anunciou seu 5G Nokia G50, ainda não tem ainda data para venda no Brasil, nem faixa de preço. Isso deve ocorrer nos próximos meses, segundo a companhia finlandesa.
Para o Gartner, 5G é o segmento de crescimento mais rápido no mercado de infraestrutura de rede sem fio no momento, com previsão de receita global superior a US$ 19 bilhões este ano e US$ 23 bilhões em 2022.